Summary
Desde 2020, o portal aleitamento.com organiza um evento online, em colaboração com a agência FW2, para discutir temas da Semana Mundial de Aleitamento. No V Seminário, Margot Zetzsche destacou a importância do aleitamento em calamidades. Marcus Renato abordou a equidade e inclusão no apoio à amamentação. Fê Lopes discutiu o impacto do racismo na amamentação. Dra. Honorina Almeida apresentou práticas neonatais favoráveis. Laureni Dantas explorou a amamentação em comunidades indígenas. Flavia Shaidhauer falou sobre iatrogenias perinatais. Apollo Arantes tratou da amamentação entre homens trans. Márcia Machado discutiu desafios para lactantes PCD. O evento incluiu apresentações musicais, debates e sorteio de livros. Vídeos das apresentações estão disponíveis em www.agostodourado.com
Desde 2020 o portal aleitamento.com, com a assessoria técnica da FW2 agência digital, organiza esse evento online com a finalidade de debater as questões a serem abordadas na Semana Mundial de Aleitamento do ano.
Como apoiar a amamentação em calamidades?
No dia 13 de junho, a conferência de abertura do V Seminário preparatório para a SMAM foi de Margot Zetzsche, Enfermeira Sanitarista, Mestre em Educação e Filosofia, Professora de Saúde Coletiva da FURB, Coordenadora da Atenção Básica do Município de Timbó – durante os desastres ambientais de 2008 e 2011. Ela afirmou que o (im)previsto de uma catástrofe toma o cotidiano de assalto e atinge em maior grau a população vulnerável. Porém, para gestores públicos e profissionais de saúde a previsão e contingenciamento das crises são fundamentais. Manter e proteger o aleitamento materno e a segurança alimentar são prioridades ouro. A água para preparo de fórmulas e lavagem de utensílios pode apresentar um grande risco de contaminação. Somam-se aos riscos alimentares o oportunismo das doações visando propaganda fácil e lucros futuros. Em um cenário de mudanças climáticas, num país populoso e com imensa desigualdade social, prever cuidadosamente, planejar é urgente e necessário. Um trecho do vídeo “Mãe d’água” foi exibido e nos emocionou. Esse documentário encontra-se na área restrita do site e no perfil do aleitamento.com no Youtube. Após a apresentação tivemos um debate, durante o qual também foi possível as colegas do Município de Porto Alegre e do Estado do Rio Grande do Sul relatarem brevemente suas iniciativas.
O que a WABA propõe para esse ano?
Na noite do dia 14 de junho, tivemos duas apresentações. Na primeira delas, o Prof. Marcus Renato fez uma análise do que são as Semanas Mundiais de Aleitamento Materno que começaram em 1992, como uma iniciativa da Aliança Mundial de Ação Pró Amamentação (WABA). A cada ano, a WABA nos desafia com um tema, e o desse ano é: “Closing the gap: breastfeeding support for all”. Entendemos que nossos esforços de apoio devem chegar a grupos e populações mais necessitadas, vulneráveis ou de risco para o desmame precoce. Por isso, o nome do nosso V Seminário: Amamentação para tod@s – diversidade, equidade e inclusão. Esclareceu que DIVERSIDADE é sobre as diferenças, INCLUSÃO é sobre abraçar essas diferenças e criar um ambiente acolhedor, e EQUIDADE é sobre garantir que todos tenham as mesmas oportunidades de sucesso, levando em consideração suas necessidades específicas. Promover diversidade, inclusão e equidade no aleitamento humano em qualquer organização ou comunidade é fundamental para construir uma sociedade + justa e igualitária. Conclui, questionando: Vamos nos conscientizar sobre os desafios que pessoas que amamentam enfrentam, como falta de apoio, desinformação, trabalho, patriarcado e pressões sociais? No final de sua apresentação divulgou dois eventos semelhantes, um presencial no Instituto de Saúde em São Paulo, e outro, no dia seguinte, online, promovido pela IBFAN Brasil.
É tempo de nos aquilombarmos
Em seguida, Fê Lopes que é Psicóloga, psicanalista, palestrante e escritora. Uma das idealizadoras da I Semana de Apoio à @amamentacaonegra abordou a interseção entre raça e aleitamento no Brasil. Em um país com mais de 50% de sua população se autodeclarando negra, destacou o impacto negativo do racismo nos índices de amamentação e enfatizou a necessidade de estudo sobre racismo estrutural nas formações em saúde. Afirmou que as dificuldades da amamentação, desde o início da jornada reprodutiva, são em razão dos obstáculos enfrentados por pessoas negras desde o mercado dos afetos até os índices altíssimos de violência obstétrica e neonatal. Citou a Semana de Amamentação Negra como uma das iniciativas da necessidade de nos aquilombarmos. A historiadora Beatriz Nascimento ensinou a importância do aquilombamento. Ela compreende o quilombo para muito além de um lugar físico, o via como espaço ideológico, local simbólico de agregação, resistência e preservação. Todos esses conteúdos foram motivos de perguntas, indagações e propostas.
Boas práticas neonatais
No dia 15 de junho pela manhã, iniciamos com a Dra. Honorina de Almeida, Especialista em Amamentação – IBCLC desde 1998, PhD em Desenvolvimento Infantil pela Universidade de Freiburg, Alemanha. Conselheira e Capacitadora em Aconselhamento pelo UNICEF/ SES-SP/ MS desde 2001. Dra. Nina elencou as boas práticas de atenção neonatal que favorecem o estabelecimento da amamentação que começa no parto humanizado com a participação de um acompanhante: clampeamento oportuno do cordão umbilical, contato pele a pele imediato após o nascimento, encorajar a mamada dentro da primeira hora de vida, evitar o uso desnecessário de bicos artificiais ou chupetas e complementação com fórmulas infantis… Felizmente no Brasil há várias políticas públicas que respaldam essas iniciativas como a IHAC. A Pediatra apresentou os 10 passos para o sucesso da amamentação. A Dra. concluiu sua apresentação mostrando estratégias para prevenir a ocorrência de violências e iatrogenias neonatais, garantindo um início de vida saudável e sustentável para os recém-nascidos. Sua apresentação suscitou várias manifestações das participantes.
A cosmogonia indígena na amamentação
Na segunda metade da manhã, a Docente Laureni Dantas, ativista indígena, doutora em Saúde Pública, Odontóloga responsável pelo Serviço de Apoio à Amamentação (UFPI), Conselheira do CNS/Comissão Intersetorial de Saúde Indígena (CISI), fez um relato de sua experiência em territórios indígenas evidenciando os aspectos interculturais da prática da amamentação de mulheres da etnia Apanyekrá-Canela, língua tronco-Jê em Fernando Falcão, interior do Maranhão. Através de pesquisa participante e atividades de extensão universitária (UFPI) facilitada pela educação popular na aldeia, ressaltou que os determinantes socioculturais se apresentam assegurados na raiz ancestral do núcleo familiar indígena, o leite humano é o alimento da vida. Há uma cosmogonia genealógica, dos corpos anímico, físico e divino que são dimensões da ancestralidade sustentando o aleitamento nessas comunidades. Ilustrou sua apresentação com o registro dos povos originários e suscitou reflexões sobre esses aspectos espirituais da herança ancestral brasileira, que não são considerados na cultura branca ocidental, herança portuguesa.
Iatrogenias e violências perinatais
Depois do almoço, a Profa. Flavia Shaidhauer que é professora do curso de Medicina da Unisul/SC e do Núcleo de pesquisa, extensão e ensino em aleitamento, doutoranda em Pediatria pela PUC/Ser e cocoordenadora da Pós em Aleitamento Materno – bases científicas à prática clínica pelo Instituto Ciclos, falou sobre as violências e iatrogenias neonatais, referindo-se a práticas prejudiciais ou inadequadas que muitas vezes impedem o início e a continuidade da amamentação. Isso pode incluir intervenções médicas desnecessárias, separação mãe-bebê logo após o nascimento, uso de mamadeiras e chupetas, entre outros. Essas práticas podem ter um impacto significativo no desmame precoce, causando dificuldades na pega, redução na produção de leite e aumento do risco de infecções. Sua apresentação foi baseada em evidências científicas e disponibilizou vários artigos que sustentaram suas afirmações, que também podem ser encontrados em seu canal do YouTube, nas “Terça Científica”.
Pessoa Musical
No meio da tarde, tivemos uma grata surpresa: a apresentação do Pessoa Musical que é pai do Cauê, cantor e produtor sonoro. Desde o nascimento do seu pequeno vem circulando nas redes canções sobre o universo infantil. A vivência da paternidade tem sido fonte de sua inspiração musical. Apresentou várias músicas e seu clipe a “Música do Tetê”, Vem cá passarinho, Banheirinha… Foi entrevistado sobre sua trajetória artística paterna e apoiadora da amamentação da sua mulher. Foi divertido e tocante, literalmente 😊
Gestação, parto e amamentação em um homem trans
Em continuidade, tivemos a participação de Apollo Arantes, ativista por direitos humanos com formação política pela ONG Etapas. Abordou questões relativas a direitos sexuais e reprodutivos na perspectiva das trans masculinidades, aleitamento humano, bem como fez menção a políticas de acesso e cuidado para as transmasculinidades gestantes. Como coordenador do Núcleo de Trans parentalidades, Questões Sexuais e Reprodutivas do Instituto Brasileiro de Transmasculinidades, participa de diversas articulações com organizações privadas e públicas na perspectiva do cuidado relacionada à gestação, parto e amamentação. Uma dessas articulações realizadas pelo núcleo foi a primeira Caderneta do Gestante, com a Maternidade Climério de Oliveira de Salvador, uma realização do Programa Trans gesta. Contou as iatrogenias que sofreu durante seu processo de gestação, parto e amamentação e deixou claro, que profissionais e serviços de saúde precisam estar capacitados para o acolhimento de pessoas trans.
Lactantes PCD
Como conferência de encerramento, tivemos a Profa. Marcia Machado, Associada IV do Departamento de Saúde Comunitária, da Faculdade de Medicina da UFC. Enfermeira, Cientista Chefe FUNCAP. Bolsista PQ/CNPq, Membro do NCPI (Núcleo de Ciência para a Infância, INSPER). Membro da Academia Cearense de Saúde Pública. Primeira mulher Pró-reitora de Extensão Universitária da UFC. Doutorado em Enfermagem em Saúde Comunitária UFC e Pós-Doutorado na Harvard School of Public Health. Consultora do GT de Saúde da RNPI. Coordenadora de Projeto de Intervenção em Crianças que vivem em situação de alta vulnerabilidade, Programa Frontiers of Innovation (CDC/Harvard). Ela afirmou que pesquisas apontam que mulheres com algum tipo de deficiência física enfrentam mais desafios diante do aleitamento do que aquelas sem deficiência. Além disso, nota-se um despreparo das equipes de saúde para lidar com essa população, o que evidencia a necessidade de qualificação na graduação sobre essa temática e de preparo dos serviços assistenciais de saúde para o acolhimento e o apoio a essas mulheres no curso da amamentação. O conceito de deficiência tem várias facetas e está em constante evolução. Nos últimos anos, passou de uma visão focada no indivíduo e suas condições patológicas para uma visão social. Nessa perspectiva, o ambiente é um aspecto importante, uma vez que impacta a experiência e a extensão da deficiência. Alertou que, de acordo com as informações do Censo 2022, quase 19 milhões de pessoas com 2 anos ou mais possuem algum tipo de deficiência, representando 8,9% da população brasileira nessa faixa etária. E elas seguem sem serem acolhidas. Apresentou também boas iniciativas, como o aplicativo HAND TALK, da publicação glossário de libras na amamentação do grupo do Mato Grosso do Sul que está disponível no portal aleitamento.com e no respectivo Slide Share.
E tivemos os sorteios e as sortudas que ganharam os seguintes livros:
Clotilde da Conceição Pires Bento, Enfermeira da USF Venda Nova da cidade de Amadora, Portugal ganhou o livro “Mamãe Desobediente”.
Efigênia Caldas Soares, Fisioterapeuta Neonatal e Consultora de Amamentação de Ipatinga, MG ganhou o livro “Dizeres do bebê sobre Amamentação”.
Laureni Dantas de França, Odontóloga, Indígena e conferencista de Teresina – PI, ganhou o livro “Leite fraco?”
Tarsila Nunes de Carvalho Leão, Psicóloga, Especialista em Amamentação de Salvador – BA, ganhou o livro “Manual Prático de Aleitamento Materno”.
Letícia Vargas F M Lemos, Cirurgião Dentista, Especialista em Amamentação, de Vitória – ES, ganhou o e-book “Amamentação – bases científicas”.
Agradecemos à Editora Timo, Editora GEN, Editora Matrescência e Gabrielle Gimenez e a Dra. Ludmila Tavares pela doação dos livros.
Quem não teve a oportunidade de participar ao vivo, pode ter acesso a todo conteúdo que ficará disponível na área restrita até o final de julho.
- Se você quiser ter acesso às gravações, ainda é possível: envie e-mail para [email protected]
Recebemos muitos elogios sobre a organização e conteúdo apresentado e isso nos motiva a continuarmos com essa iniciativa, e por isso, recomendamos que vocês anotem nas suas agendas: em junho de 2025, teremos o VI Seminário online anual preparatório da SMAM 😊