Agosto dourado 2021:
Unid@s na Defesa do Aleitamento
Em razão da pandemia de Coronavírus, a Semana Mundial de Aleitamento Materno (SMAM) teve um seminário preparatório novamente em versão online, realizado na última sexta (11), com duas pré-conferências nas noites do dia 09 e 10 de junho, organizado pelo portal aleitamento.com.
O evento contou com conferencistas de várias áreas do conhecimento: pediatra-sanitarista, gastroenterologista, enfermeira, escritora ativista e uma jornalista. As conferências abordaram: proteção a amamentação; o paradigma do leite fraco e a importância da proteção à mulher; a formação da microbiota saudável e como promover a proteção através de uma comunicação estratégica. A temática do evento se concentrou na importância de proteger a amamentação da influência do marketing não ético das indústrias – tema da SMAM desse ano.
Pré-conferência 1 – Desmame Comerciogênico e Iatrogênico
Dia 09, o pediatra Marcus Renato, curador do evento, explicou a origem do conceito “Desmame Comerciogênico” criado em 1979, que consiste em uma denúncia para o mundo sobre a publicidade não ética de fórmulas infantis.
Houve também a definição do “conflito de interesses”, onde às vezes, envolve profissionais, serviços de saúde e suas associações profissionais.
Desde 1981, há um Código Internacional da OMS (Organização Mundial de Saúde) que regula o marketing de produtos que interferem e prejudicam a cultura da amamentação. Porém, mesmo com este Código, práticas de promoção comercial abusivas continuam.
O Prof. Marcus também fala que a promoção, proteção e apoio ao aleitamento é responsabilidade coletiva, não apenas da mulher, havendo um enfoque político nessa luta. E traz um dado de que, por ano, 800 mil crianças seriam salvas se houvesse mais investimento nessas políticas públicas, já que mulheres amamentam mais quando são apoiadas, protegidas e incentivadas. Além disso, apenas 45% dos bebês com menos de 6 meses, tem o leite materno como alimento exclusivo.
Ele também diz que limitar o marketing do substituto do leite materno, bicos, chupetas e mamadeiras, seria a ação ideal para o aumento do aleitamento materno. E fala que a falta de conhecimento sólido dos profissionais de saúde em manejo clínico da lactação, faz com que tenham prática ultrapassadas, como os berçários em maternidades – que mantém o bebê longe da mãe, são algumas das causas do desmame precoce.
Também foi citado um outro conceito, o “Desmame Iatrogênico” que tem conexão com o primeiro, por ação de profissionais e serviços de saúde desatualizados na clínica da lactação. Atitudes desnecessárias e danosas ocorrem da preparação das mamas, e sobre os processos e tecnologias de “avaliação” da produção láctea. Há também a iatrogenia medicamentosa, ou seja, um excesso de prescrições de drogas para aumentar o volume de leite, os galactagogos.
O Professor finaliza dizendo que uma possibilidade para evitar a epidemia de desmame é que a regulação seja efetivada e que os profissionais de saúde precisam se posicionar sobre o tema e tratá-lo da forma correta com as mães e com os bebês, sob a responsabilidade ética, além de moral.
E cita a lei 13.435/2.017, que determina que no mês de Agosto, sejam intensificadas ações intersetoriais de conscientização e esclarecimento sobre a importância do aleitamento materno, no chamado “Agosto Dourado”.
Pré-conferência 2 – As Semanas Mundiais do Aleitamento – retrospecto
Na pré-conferência do dia 10, houve uma exposição sobre a história e origem das Semanas Mundiais de Aleitamento recordando que a WABA – World Alliance Breastfeeding Aciton, Aliança Mundial pró Aleitamento propôs celebrar o dia mundial da amamentação no dia 1º de agosto para difundir as metas da Declaração de Inoccenti de 1990.
A primeira SMAM aconteceu em 1992, tendo como tema a IHAC – Hospitais Amigos da Criança. E somente em 2009, o Ministério da Saúde assume a SMAM como uma política pública que visa promover, proteger e apoiar o aleitamento no Brasil.
A cada ano, a WABA propõe um tema, e a questão do Código Internacional, que no Brasil equivale a NBCAL, foi debatido pela primeira vez, em 1994 e em 2006 quando se comemorou 25 anos de defesa da cultura do Aleitamento.
1994 – Protect Breastfeeding: Making the Code Work / Amamentação Fazendo o Código Funcionar
2006 – Code Watch – 25 Year of Protecting Breastfeeding / Código: 25 anos de proteção à amamentação
Mais uma vez, esse ano teremos a proteção à amamentação como tema, lembrando o aniversário de 40 anos do Código que regula a publicidade dos leites e alimentos infantis, mamadeiras, chupetas, intermediários de silicone que comprovadamente prejudicam o estabelecimento e manutenção da amamentação.
2021 – Protect Breastfeeding: A Shared Responsibility
Proteger a Amamentação: uma responsabilidade compartilhada
Conferência 1 – Por que proteger a amamentação?
A primeira convidada da sexta-feira (11), foi a enfermeira obstétrica Cíntia Ribeiro Santos, que citou a importância do leite materno como alimento único, primordial, já que ele garante o pleno crescimento e desenvolvimento da criança. Cíntia cita o método da colostroterapia que se dá a partir do contato dos bebês que estão internados com a mãe, recebendo gotas de leite materno e afirma que amamentar é um direito a ser defendido.
Ela também falou que a substituição do leite materno pelo leite industrializado, tem início no século XVIII e com isso vem o crescimento de doenças crônicas, desnutrição e mortalidade infantil com a desculpa de “libertar a mãe”.
A Coordenadora da IBFAN Brasil falou que na década de 70, aconteceu o início do movimento dos profissionais de saúde a favor do aleitamento materno, citando também a primeira lei brasileira, criada pelo médico Fernando Figueira (IMIP), proibindo as maternidades de receberem fórmulas infantis no estado de Pernambuco, incentivando outras maternidades no país.
Cíntia também enfatizou a força da cultura do consumo, atualmente fomentada pelas redes sociais, onde se vê a necessidade de proteger o aleitamento contra esse marketing que se aproveita da vulnerabilidade materna para vender o leite em pó, fazendo com que essa mulher desacredite no potencial do seu leite. E aproveitou para reforçar a importância do papel dos profissionais de saúde no parto e no pós-parto para que o aleitamento seja protegido.
A Enfermeira citou também a importância da NBCAL (Norma Brasileira de Comercialização de Alimentos para Lactentes) e da IBFAN (Rede Internacional em Defesa do Direito de Amamentar – International Baby Food Action Network).
No final, Cíntia apresentou um vídeo do IBFAN sobre a importância da amamentação, que pode ser acessado na TV aleitamento.com E depois respondeu perguntas dos participantes do Seminário, sempre os incentivando a se especializarem, dando dicas de projetos e cursos.
Antes do início da segunda palestra, a Renata Martelli convidou os participantes para participarem no meio da tarde de uma apresentação do grupo “Los Muchos tchá-tchá-tchá.”
Conferência 2 – O paradigma do Leite Fraco e a importância da proteção à mulher que amamenta
A segunda convidada foi a escritora Gabrielle Gimenez, ativista pela amamentação, mãe de 3 filhos que defendeu a proteção da mulher e a importância da capacitação dos profissionais de saúde, já que o conflito de informações acaba desestimulando as mães. Ela diz que algumas dessas medidas de proteção são: informações verdadeiramente úteis, de qualidade e com uma linguagem acessível para todas e todos. E fala sobre o marketing dos substitutos do leite materno, muitas vezes estão nos materiais que os profissionais de saúde tem acesso fazendo com que eles repassem para as mães.
Gabrielle falou da importância de políticas públicas e leis, como o aumento do tempo da licença maternidade, proteção da mulher penalizando pessoas que não respeitam a mulher que amamenta e a normalização da amamentação em público. Assim como a adaptação na estrutura do local de trabalho para a mãe que amamenta, além da estrutura de apoio às creches que insistem no uso da mamadeira. E traz que não existe penalidade significativa para empresas que infringem o Código Internacional de Comercialização de Substitutos do Leite Materno.
A Puericultora também propôs algumas medidas de proteção à mulher, na sociedade como: educação sobre o tema para pais/avós; campanhas mais amplas de saúde pública; inclusão da amamentação nos grandes meios de comunicação como novelas por exemplo; inclusão do tema no currículo escolar e a fomentação de grupos de apoio à amamentação.
Chegando ao final, Gabrielle trouxe a importância do apoio da família e do parceiro e comentou a questão das bonecas que sempre são vendidas com chupetas e mamadeiras e sobre a censura que acontece nos vídeos de amamentação nas redes sociais.
E falou ainda sobre a evolução do aleitamento no Brasil ao longo dos anos e mostrou um lindo vídeo que realizou para a SMAM do ano passado: “O significado de amamentar” que está na TV aleitamento.com Finalizou respondendo perguntas dos participantes.
Conferência 3 – Formação de uma microbiota saudável: mais um benefício do leite materno
A primeira convidada da tarde foi a gastroenterologista Cristina Targa Ferreira, falando sobre o valor do leite materno e o microbioma. Ela explicou um pouco sobre a microbiota do leite materno que é afetada por fatores externos e sobre o estudo da dinâmica do microbioma intestinal no primeiro ano de vida, que é fundamental para o metabolismo, desenvolvimento e comportamento humanos. Mostrando também um dado comparativo entre o desenvolvimento dos bebês que se alimentam somente com leite materno e dos que se alimentam com fórmulas infantis.
A Pediatra mostrou estudos indicam que as bactérias do leite materno semeiam o intestino do lactente, mostrando sua importância no desenvolvimento do microbioma do lactente. Ela fala também que o leite materno contém uma população diversificada de bactérias, mas que ainda se sabe pouco sobre a transferência das bactérias através da amamentação.
A professora também informou que o ambiente (nutrição) tem muito mais impactos nas possíveis doenças crônicas do que os genes e que o estabelecimento progressivo da microbiota do lactente é vital para educar seu sistema imune no sentido da tolerância e para ensinar a reatividade necessária para manter a saúde por toda a vida, afirmando que o leite humano é fundamental nesse processo de envelhecimento saudável.
Ao final da palestra, Dra. Cristina reafirmou a importância da amamentação e apresentou alguns pontos importantes a serem absorvidos por todos que desejam proteger a saúde da mãe e do bebê como receitar menos antibióticos, pelos profissionais de saúde, uma dieta saudável para as mães durante a gravidez e a lactação, e a introdução oportuna de uma alimentação complementar saudável…
Um momento de arte, cultura e informação
A atriz Renata Martelli, do grupo Los Muchos, abordou o tema: Aleitamento materno & Luta. Renata começou sua apresentação contando um pouco sobre sua trajetória pessoal, descrevendo como foi o parto do seu filho e contou um pouco dos 24 anos em que faz intervenções artísticas sobre o aleitamento materno. Renata citou os títulos das 25 campanhas que fez e cantou ao violão, a música “Ação e reação” da cantora Dona Onete fazendo com que os participantes ficassem ansiosos para um evento presencial.
A atriz também apresentou um vídeo com algumas de suas intervenções artísticas com o Los Muchos e depoimentos de algumas mães sobre amamentação e contou que as apresentações são feitas em todos os lugares como ruas, calçadas, carros, ônibus, praças públicas, escolas, empresas, universidades, entre outros.
Renata acredita que o teatro é um recurso que facilita o contato entre o público e os profissionais interessados, estimulando a consciência, a reflexão e a compreensão da realidade de forma mais ativa, participativa e humana, fomentando o exercício da cidadania, além de ser uma fonte de cultura e entretenimento.
Chegando ao final, Renata mostrou o projeto “Carga Pesada: um caminhão de informação”. Um dos vídeos das apresentações do Grupo Los Muchos tchá-tchá-tchá, se encontram na TV aleitamento.com
Conferência 4 – Como comunicar causas sociais e mobilizar apoio para nossos sonhos
A última convidada deste dia de palestras foi a jornalista e assessora de comunicação Rosa Mattos, falando da comunicação sobre a amamentação e sobre como utilizar ações estratégicas nesse cenário atual, para celebrar a SMAM. Ela falou sobre o contexto em que vivemos com a revolução da tecnologia e de como isso também pode causar uma grande confusão.
E citou os desafios e oportunidades para os ativistas e entusiastas do aleitamento.
Rosa fala sobre a democratização da mídia que acabou dando independência para as organizações e para os movimentos, mas também mostra dados das casas que tem acesso à internet no Brasil, entre 2008 e 2019, citando também o ambiente rural que ainda tem muito déficit nesse sentido.
A jornalista trouxe informações sobre as plataformas mais usadas em 2021 no mundo que são: Facebook, YouTube, Instagram e Whatsapp, respectivamente e apresentou as características de cada geração e a importância do ativismo nas redes sociais como compartilhamento, adaptação e ressignificação de conteúdos que já existem, participação em “tuitaços, mamaços, compartilhaços” e campanhas, havendo diversificação na forma de se comunicar, inclusive fora das redes sociais.
Ela também citou o problema do excesso de informação e a falta de filtro para saber o que é verdade e o que não é.
Chegando ao final, Rosa diz que as campanhas precisam definir o caminho, faz uma brincadeira com os participantes e apresenta vídeos de algumas campanhas de amamentação e fala que as redes sociais deram voz a todo tipo de pessoas e que isso pode ser – e é, um problema, já que há muita desinformação e disseminação de conteúdos incorretos sobre todo tipo de tema.
Rosa atende as dúvidas de alguns participantes, dando também algumas dicas sobre comunicação sobre amamentação e disponibilizou alguns links que citou de vídeos no YouTube.
Livros
O Editor do aleitamento.com comandou uma pequena entrevista com a Gabrielle Gimenez e a Ana Basaglia que disponibilizaram livros para sorteio entre os participantes.
Gabrielle comenta sobre o seu livro “Leite Fraco?” da editora Matrescência e sobre esse mito, afirmando que também enfrentou esse problema e sobre como isso afeta as mães e todos que a cercam, inclusive os profissionais de saúde. O livro tem uma linguagem técnica, mas de forma acessível para todos que se interessam sobre o tema, como mães, família e profissionais.
A Editora Ana também comenta um pouco sobre o livro da Gabrielle, elogiando e dizendo que ele entrega muitos níveis de leitura: técnica, porém, informal, a partir dos exemplos das mães que aparecem no livro.
Em seguida, Ana Basaglia sorteou 4 livros: “Amamentação em tirinhas”, “Só grávida mesmo”, “Só mãe mesmo” e “Mamãe desobediente” que apresenta uma visão feminista sobre a maternidade. Este último está na pré-venda, pela Editora Timo. Ela faz comentários breves sobre cada livro, que são livros curtos ideais para mães e gestantes. Marcus sorteia a 4ª edição do “Amamentação – bases científicas” doado pela Editora GEN, na versão e-book.
Lista das sorteadas sortudas
Editora GEN
1. Maria Aparecida de Jesus Belli, Enfermeira Obstétrica e Neonatal – EACH/USP, São Paulo – SP
*Amamentação – bases científicas
Editora Matrescência
2. Monika Wernet, Enfermeira, UFSCar, Taboão da Serra – SP
*Leite Fraco? Guia prático para uma Amamentação sem mitos
Editora Timo
3. Daniela Willig, Fonoaudióloga, Tubarão – SC
*História da Amamentação em Tirinhas
4. Raquel Pacheco Valente Lotti, Enfermeira Obstetra, São Paulo – SP
*Só Grávida mesmo
5. Ariane Alves Pollis, Técnica de Enfermagem e Consultora de Amamentação, Curitiba – PR
*Só Mãe mesmo
6. Kesia Carolina Borges Fernandes Lopes, Enfermeira, Campinorte – GO
*Mamãe Desobediente – um olhar feminista sobre maternidade.
Perfil das participantes
Nos alegra ter tido inscrições de outros países: Portugal, Argentina e Peru. Tivemos Enfermeiras, Fonoaudiólogas, Médicas, Odontopediatras, Nutricionistas, Consultoras de Amamentação, Fisioterapeutas, Doulas, Educadoras perinatais, Professoras, Psicólogas, Técnicas de Enfermagem, Designers, Jornalistas, Graduandas de Medicina e Nutrição… Tivemos representantes de quase todos os Estados brasileiros: 21 mais o Distrito Federal.
Cidades
Ficamos impressionados como tivemos participantes de 102! municípios de todo o Brasil, vejam:
Casca, Timon, Sapucaia do Sul, Campinorte, Balsas, Socorro, Itatiba, Tatuí, Carajás, Jataí, Glorinha, Caranara, Marabá, Guara, Viamão, Macapá, Cel. Fabriciano, Itamarandiba, Camaquã, Taboão da Serra, Conde, Pau dos Ferros, Cascavel, Lins, Ponta Grossa, Araxá, Juazeiro do Norte, São Francisco de Paula, São José dos Pinhais, Araraquara, Sete Lagoas, Jaboatão dos Guararapes, Bragança Paulista, Sertãozinho, Ibirama, Pirassununga, Guarapari, São Sebastião do Paraíso, Paraopebas, Cruzeiro, Catalão, Tubarão, Alfenas, Tupã, Ipatinga, Santa Cruz do Sul, Cunha, Rio Claro, Limeira, Americana, São José do Rio Preto, Sorriso, Lageado, Crato, Marabá, Canoas, Vitória da Conquista, Canoas, Campos dos Goytacazes, Joinville, Jundiaí, Marília, Rio das Ostras, Macaé, São Gonçalo, São José dos Campos, Duque de Caxias, São Carlos, Nova Friburgo, Piracicaba, Niterói, Foz do Iguaçu, Sorocaba, Londrina, Vila Velha, Barra Mansa, Cabo Frio, Foz do Iguaçu, Uberlândia, Santo André, Angra dos Reis, Teresina, Brasília, Aracaju, Natal, Maceió, Manaus, Fortaleza, Goiânia, Campo Grande, Belo Horizonte, Campinas, Rio de Janeiro, Curitiba, São Paulo, Salvador, Porto Alegre, Cuiabá, Juiz de Fora, João Pessoa, Santos e São Luis.
As conferências completas encontram-se disponíveis para as inscritas na Área Restrita do www.agostodourado.com e ficará disponível até o dia 18 de junho de 2021.