“Método mãe canguru” em recém-nascidos pré-termo doentes na primeira semana de vida.
First week kangaroo care in sick very preterm infants.
Törnhage CJ, Stuge E, Lindeberg T, Serenius F. Acta Paediatr 1999;88:1402-4.
Resumo
“O método mãe canguru” tem se mostrado benéfico para recém-nascidos pré-termo moderados, em fase de recuperação, e em crianças após a primeira semana de vida.
O objetivo desde estudo foi avaliar a tolerância do “método mãe canguru” em recém-nascidos pré-termo doentes na primeira semana de vida, com sem alimentação enteral por gavagem.
Foram estudados 17 recém-nascidos pré-termo, com idade gestacional média de 28 semanas e peso de nascimento médio de 1.238g. Nesta população foi aplicado o “método mãe canguru” durante um período de uma hora; 8/17 (47%) recém-nascidos receberam alimentação por gavagem concomitante ao “método mãe canguru”.
A análise dos resultados mostrou que em 15/17 (88,2%) dos recém –nascidos não houve alteração das necessidades de oxigênio (somente dois recém-nascidos necessitaram de aumento da FiO2 durante a aplicação do “método mãe canguru”). As alterações na PaO2, na PaCO2, na freqüência cardíaca e na temperatura foram mínimas durante o período, ocorrendo apenas um episódio de apnéia.
Concluindo-se os resultados deste estudo mostraram que recém-nascidos pré-termo doentes toleraram bem o “método mãe canguru” já nos primeiros dias de vida, porém este procedimento foi aplicado somente por uma hora, devendo ser testado por períodos maiores e com intervalos regulares para se comprovar a tolerância do método.
Comentários
O “método mãe canguru” foi desenvolvido na Colômbia, a partir da década de 70, motivado pela escassez de recursos do sistema vigente na ocasião (*).
A simplicidade do método aliada a seu baixo custo foram suficientes para que o êxito fosse reconhecido. O “método mãe canguru” consiste na manutenção de um contato íntimo entre a mãe e o recém-nascido pré-termo por períodos prolongados de tempo. Normalmente, os recém-nascidos são liberados para o método após a primeira semana de vida, ao atingirem condições clínicas estáveis, principalmente sob os pontos de vista respiratório e hemodinâmico, independente d idade gestacional e do peso de nascimento; exceção deve ser feita ao recém-nascido pré-termo extremo.
Dentre as vantagens do “método mãe canguru” destacam-se:
. colonização do recém-nascido com a flora da própria mãe, diminuindo o risco de infecção nosocomial;
. aceleração da velocidade de crescimento;
. melhora da termorregulação;
. melhora do padrão respiratório;
. diminuição do consumo de O2;
. diminuição dos episódio de apnéia e de respiração periódica;
. melhora no desenvolvimento neuropsicomotor do recém-nascido; e
. estabelecimento de melhor vínculo afetivo entre mãe e o recém-nascido, com conseqüente aumento da lactação e prolongamento do aleitamento.
Pelo exposto, o “método mãe canguru” foi inicialmente idealizado para ser aplicado a recém-nascidos pré-termo estáveis, já em fase de recuperação, e não tão pequenos e/ ou imaturos. Posteriormente, pela avaliação positiva dos estudos, o “método mãe canguru” foi expandido, sendo utilizado em recém-nascidos pré-termo menores e com certo grau de instabilidade.
Outro fato que merece ser salientado diz respeito à melhora do vínculo mãe-filho, pois em recém-nascidos pré-termo doentes, submetidos a procedimentos invasivos, este vínculo é enfraquecido; na fase de estabilização é importantíssimo seu restabelecimento, podendo o “método mãe-canguru” auxiliar muito nesta situação.
Estudos devem ser conduzidos no sentido de se avaliar a segurança, a tolerabilidade e as vantagens do “método mãe canguru” já nos primeiros dias de vida, principalmente em recém-nascidos pré-termo instáveis, para que a sua rotina seja implantada com sucesso em tais situações.
Tradução e comentários: Dr. Mário Cícero Falcão. Correios da SBP – Ano 6 – Out/Nov/Dezembro – 2000
( * ) Os criadores do Mãe-Canguru não concordam com esta versão – que o método foi criado porque não havia incubadoras suficientes. Os Drs. Edgar R. Sanabria e Héctor Martinez vislumbraram a melhoria da qualidade e a humanização da atenção ao prematuro.
Prof. Marcus Renato de Carvalho