Mais do que o médico do filho,
ele é o doutor da família,
que vai acolher as dúvidas dos pais e ser parceiro na educação da criança.
A hora de escolher é ainda na gravidez.
Saiba por onde começar
REVISTA PAIS & FILHOS
Por Larissa Purvinni, neta de Domicele, Bruno, Eulina e Nicola, com reportagem de Deborah Trevizan, neta de Ignez, Humberto, Antonieta e Valdemar
Eu e meu marido fomos os primeiros de nossa turma a engravidar, antes dos 30. Não tínhamos muito com quem trocar figurinhas sobre o melhor obstetra, a melhor maternidade, que dirá o pediatra ideal. Sim, lemos nos guias de gravidez que o ideal era começar a procurar por volta da 32ª semana de gestação, mas estávamos envolvidos com tantas outras coisas que, quando percebemos, já estávamos a caminho da maternidade ainda sem um nome na manga. Não tínhamos marcado entrevistas com nenhum médico (o recomendável é marcar um horário e ir conhecer os candidatos pessoalmente e levar um questionário com suas dúvidas para avaliar cada doutor), não tínhamos uma relação de médicos recomendados…
Embora o pediatra acompanhe a infância e a adolescência, a sua ação pode ser decisiva para toda a vida. A ciência já sabe que grande parte das doenças que se manifestam a partir dos 40 anos, como diabetes tipo 2 e osteoporose, podem ter suas raízes na infância ou mesmo na vida intrauterina. Por isso, fazer a visita quando o bebê está na barriga faz a diferença.
Segundo o pediatra Moises Chencinski, pai de Renato e Danilo, durante o pré-natal, além da orientação sobre a evolução do bebê na gravidez, o casal poderá avaliar a empatia com o médico, o tipo de abordagem, as condutas, sentindo se há confiança e respeito.
Se seu filho ainda está na barriga, comece pelo básico: indicações de amigos e parentes, pediatras ligados ao grupo de gestantes que você frequenta, livro do convênio. Pesquise no site do Conselho Regional de Medicina para saber se o profissional é mesmo um médico apto e formado em sua área. E prefira os que têm consultório perto da sua casa. É óbvio, mas às vezes a gente se empolga e se esquece do básico. Se você tem preferência por uma linha médica específica, pode buscar no site de entidades como Associação Médica Homeopática Brasileira, que traz uma lista de profissionais em todo o Brasil.
Só que eu não tinha feito a lição de casa e precisava resolver a situação. Depois que Carol nasceu, o pediatra que acompanhou o parto (sim, existe um pediatra que é responsável por fazer os primeiros testes com a criança, que normalmente é da equipe da própria maternidade), fez as recomendações de praxe: ela deveria ser levada ao médico dela dali a uma semana, para sua primeira consulta. Mas que médico?
Àquela altura, com o bebê já nos braços, não adiantava simplesmente pegar o do convênio e mais próximo de casa. Precisava ser alguém com quem a gente já simpatizasse e em quem confiássemos. Perdidos como a maioria dos pais de primeira viagem, nos agarramos ao doutor que tão bem havia recebido Carol em sua chegada. Perguntamos se ele mesmo não poderia se tornar o pediatra, o que pode ser uma boa opção para você, sim, mas esbarramos num problema: ele não atendia pelo nosso convênio. O médico nos indicou um colega que atendia pelo nosso plano. O consultório era perto de casa e decidimos marcar.
Deixe seu recado
Achamos o doutor simpático e concluímos que a questão estava resolvida. Mas não era bem assim. Na primeira crise de choro, que durou horas, à noite, quando o consultório já estava fechado, deixamos uma mensagem no pager. Nada de resposta. Se era urgente? Para nós, muito. Foi a primeira crise de cólica, coisa corriqueira, mas bastante desesperadora para quem nunca assistiu a uma de perto.
Percebemos que, além da empatia inicial, era importante ter um médico acessível, que nos passasse todos os telefones de contato e nos respondesse rapidamente. Na sua entrevista com os candidatos pergunte como o médico lida com situações assim. Se você gostar da resposta, ponto para ele. Uma dica é verificar se o telefone residencial e o celular constam do receituário. Claro que você não vai ficar ligando a toda hora, mas precisa saber que pode falar com ele no caso de seu filho começar a vomitar e a ter febre depois do horário comercial.
Relevamos o episódio e resolvemos insistir mais um pouquinho. Numa das consultas seguintes, o médico pesou a Carol, achou que não estava engordando bem e prescreveu uma fórmula. Tentei argumentar que tinha bastante leite, se poderia tentar outro recurso, mas ele pareceu não notar que continuar amamentando era fundamental para mim. A partir daquele dia, decidi procurar outro médico. Precisar mudar de médico logo no começo não é o ideal, a gente sabe. Por isso a escolha cuidadosa e com antecedência é tão importante. Uma pesquisa desenvolvida no Hospital Infantil da Filadélfia, nos EUA, mostrou que bebês que veem o mesmo médico até os seis meses têm duas vezes mais chance de se desenvolverem melhor. O ideal é que um mesmo médico acompanhe seu filho e conheça o histórico dele. Se precisar mudar de pediatra, peça os registros referentes a seu filho, como curva de crescimento, e os repasse ao novo doutor.
Médico tamanho família
O pediatra é mais que o médico da criança, ele precisa ser o médico da família. Como disse o pediatra e psicanalista inglês Donald Winnicott (1896-1971), “um bebê não existe sozinho”. Faz parte de uma relação. Eu poderia ter dado a fórmula para Carol sem crise, se o médico tivesse tirado minhas dúvidas. Mas, ao ver minha cara de choro e decepção, o pediatra só me deu uma bronca e disse que eu devia cumprir e pronto. O bom médico precisa levar em conta o saber materno, que não é científico, mas é muito importante, como confirma o pediatra e nosso colunista Leonardo Posternak, pai de Thiago e Luciana,
Quando engravidei de minha segunda filha, a Duda, a questão do preço começou a nos preocupar. E, por isso, recomendo que você faça as contas antes de tomar a sua decisão. Se o médico não é do convênio, pode até caber no orçamento hoje, mas talvez não daqui a alguns anos. No meu caso, a consulta da nova médica já tinha subido de preço e seria impossível pagar para duas, considerando-se que a Duda precisaria ir todos os meses ao longo do primeiro ano. Fora que era um transtorno atravessar a cidade no meio de um dia de trabalho para levá-las até à clínica.
Uma colega tinha acabado de descobrir uma médica homeopata, linha médica com a qual eu sempre tinha simpatizado (os médicos anteriores eram alopatas). E ainda por cima, perto de casa. Maravilha. A médica era realmente ótima. Fez uma consulta longa, perguntando detalhes sobre o histórico familiar e aspectos psicológicos. Cada uma saiu com a receita de um remédio específico, que ajudaria a prevenir problemas. A receita tinha o telefone de casa e o celular. E eu poderia ligar em caso de emergência. Ficamos com ela um bom tempo, eu mudei de emprego, fiquei sem convênio, mas consegui negociar um valor razoável (50% da consulta). Passaram-se uns anos, engravidei novamente, mudei de novo de emprego, consegui um convênio novo.
Olhei no livrinho e, bingo!, tinha um homeopata quase do lado de casa, dava para ir a pé. Dei um Google para saber mais sobre ele (outro recurso válido: você pode procurar entrevistas, artigos que ele escreveu e já sentir um pouco a visão dele) e descobri que já tinha dado consultoria para uma reportagem da Pais & Filhos.
Gostei das opiniões que li na matéria e resolvi marcar. Ele é o médico que acompanha a Babi e passou a atender as maiores também. Mantive um bom relacionamento com a pediatra anterior e, quando o oficial não está disponível, posso contar com ela.
Briga de marido e mulher
É importante que mãe e pai estejam de acordo com a escolha. Se você adora a homeopatia, mas seu marido prefere alopatia, vocês precisam conversar e decidir para que lado irão, juntos. Nada pior do que um casal brigando com o filho ardendo em febre porque um acha que a linha que o outro escolheu não funciona. Outra coisa importantíssima é ter o pai e a mãe juntos na consulta sempre que possível. Acontece que, muitas vezes, o pai se dispõe a acompanhar a mãe, mas é excluído pelo médico. Quando for conversar com o futuro pediatra de seu filho, observe se ele inclui o pai no papo. Isso é fundamental.
Também não dá para ligar para o pediatra a qualquer hora, com dúvidas que você poderia esperar para resolver. Mantenha um caderno onde você pode anotar as questões e levar à consulta. Pergunte tudo mesmo: sobre mamadas, cocô, sono, alterações de comportamento… Qualquer coisa que os deixe preocupados. O fenômeno de deixar todas as perguntas para o fim da consulta é universal, mas procure evitar. Lembre-se de que você deve se sentir à vontade de conversar com o seu médico!
Não se esqueça de levar a carteirinha de vacinação às consultas. Ter uma pasta onde você arquiva receitas e orientações passadas pelo pediatra ajuda bastante.
No primeiro ano, o médico pode passar o esquema de introdução das primeiras papinhas por escrito, por exemplo. Se você não lembrar, pega a pasta e pronto. Vale escanear a carterinha de vacinação também, para ter as informações guardadas.
Se você achar um pediatra que se encaixa em todos os quesitos citados aqui ou ao menos na maior parte deles, é bom pegar e não largar. O pediatra Grant Carvalho Filho, pai da Maria Laura, Maria Eduarda e Bernardo, resume bem o check-list para embasar a escolha: a qualificação do pediatra, o credenciamento pela Sociedade Brasileira de Pediatria, a indicação de amigos, com referências, conhecer a forma de trabalho, saber se ele supre as necessidades da família, o acesso ao profissional quando ele está fora do consultório. “Esses são elementos que podem ajudar a começar uma relação duradoura e de apoio importante”, afirma.
Para a pediatra Ana Aurélia Rocha da Silva, mãe da Beatriz e do Pedro, o mais importante na escolha do pediatra é que os pais sintam-se seguros e confiem nas orientações que recebem do profissional. “Uma boa relação entre o pediatra e a família é fundamental”.
Mas, quando a mãe e o pai percebem que algo não vai bem, que o pediatra não tem atendido às suas necessidades, não devem ter medo de trocar. O pediatra Marcus Renato de Carvalho, pai da Clara e da Sophie aconselha: “Se você estiver inseguro com o médico, procure entender o porque e dê uma chance… Mas, se estiver certo de que é o médico que pode cuidar de seus filhos, mesmo quando eles não forem mais crianças, está feita a escolha”.
Por onde começar
– Livro ou site do plano de saúde;
– O pediatra da maternidade, o mesmo que atendeu o parto;
– Cursos de gestantes dos hospitais ou outros que reúnem futuras mães e pais;
– Amigas, conhecidas que sejam mães
e tenham os mesmos valores de vida.;
– Pediatras ligados a grupos de amamentação;
– Sites de entidades que congregam médicos:
– Conselho Federal de Medicina (http://portal.cfm.org.br/), Sociedade Brasileira de Pediatria (www.sbp.com.br), Associação – Médica Homeopática Brasileira (www.amhb.org.br), Associação Brasileira
de Medicina Antroposófica (www.abmanacional.com.br).
Continue em frente se…
…o consultório for na região onde você mora, pois ninguém merece ficar horas no trânsito com um bebê recém-nascido,
… o médico for uma pessoa disponível, pois é horrível, quando mesmo você dizendo
que é urgente, o médico só retorna no fim do dia. Verifique se ele coloca no papel
da receita o telefone de casa e o celular,
…a linha que ele segue é a que você procura, mais tradicional ou mais humanizado, homeopata, alopata
ou antroposófico,
…ele tiver ideias sobre amamentação parecidas com as suas. Pergunte como deverá ser a rotina de aleitamento desde
a maternidade e qual a posição dele
se houver alguma dificuldade,
…o consultório tem uma sala de espera confortável, com brinquedos para entreter a criança e se o atendimento acontece próximo do horário combinado,
…o médico deu a mesma atenção às dúvidas da mãe e do pai durante a conversa,
…vocês se sentiram à vontade com o doutor.
E agora, qual linha eu escolho?
Alopatia
É a medicina convencional seguida pela maioria dos médicos. Os remédios são aqueles que encontramos prontos nas farmácias tradicionais.
Se seu filho tiver um resfriado… são tratados os sintomas para aliviar o desconforto da doença, até sua resolução. As medidas são de hidratação, para que as secreções se mantenham fluidas e diminua a chance de complicações. Anti-térmico, no caso de febre ou mal-estar. E um descongestionante se houver dificuldade no sono ou alimentação da criança. E finalmente, orientar para sinais de alerta para complicações como uma febre persistente ou alta.
Homeopatia
Especialidade médica que adota no tratamento das doenças a diluição dos compostos químicos presentes nos medicamentos, como forma de diminuir os efeitos nocivos deles para a saúde. Os medicamentos precisam ser encomendados em farmácias especializadas.
Se seu filho tiver um resfriado… além da avaliação da doença física, é importante analisar as características pessoais. O gênio, o humor, os hábitos, as predisposições e a maneira característica com que cada um reage aos acontecimentos da vida influenciam o tratamento. Após o começo do uso da-se a medicação, há um período de observação, para saber se o medicamento está dando resultado ou precisa ser alterado.
Antroposofia
Uma consulta pode levar até uma hora e meia. Considera-se que o ser humano é formado pelo corpo físico, corpo vital, corpo astral (anímico) e a individualidade. A doença é entendida como um desvio da condição humana, cujos corpos podem estar em desarmonia, e também como oportunidade de transformação, crescimento e superação.
Se seu filho tiver um resfriado… o médico vai investigar, além dos sintomas clínicos, as vivências emocionais e espirituais. Os medicamentos são obtidos da natureza. Antibióticos ou outros medicamentos sintéticos são usados apenas em situações de emergência.
Frequência das consultas
– 32ª semana de gravidez: pré-consulta dos pais com o pediatra
– 7 a 15 dias depois do nascimento: primeira consulta do bebê
– 1º ano de vida: uma consulta por mês
– 2º ano de vida: consultas de três em três meses
– 3º e 4º anos: consultas semestrais
– A partir de 5 anos: 1 vez ao ano.
Livros para tirar dúvidas antes de ligar para o pediatra
Da Gravidez à Amamentação, de Marcus Renato de Carvalho, Vitória Pamplona e Thomaz Pinheiro. Ed. Integrare, 2010, R$ 35,90.
Momentos decisivos do desenvolvimento infantil, de T. Berry Brazelton.
Ed. Martins Fontes (www.martinsfontes.com.br), R$76,64
O Bebê – O Primeiro Ano de Vida de Seu Filho, de Arlene Eisenberg, Heidi Murkoff e S.E. Hathaway
Ed. Martins fontes, R$ 99,80
Os Incríveis Primeiros Anos, Martin Ward Platt.
Ed. Publifolha (publifolha.folha.com.br), R$59,90
A vida do Bebê, dr. Rinaldo de Lamare
Ed. Agir (www.ediouro.com.br), R$ 119,90
A criança terceirizada, José Martins Filho.
Ed. papirus (www.papirus.com.br), R$31
Lidando Com Crianças, Conversando Com Os Pais -Mais De 700 Perguntas que Você Faria Ao Pediatra, de José Martins Filho,
Ed. Papirus, R$84,90
Filhos – da gravidez aos 2 anos de idade, organizado por Fabio Ancona Lopez e Dioclécio Campos Jr.
Escrito pelos médicos da Sociedade Brasileira de Pediatria.
Ed. Manole (www.manole.com.br), R$81
Filhos – de 2 a 10 anos de Idade, organizado por Fabio Ancona Lopez e Dioclécio Campos Jr.
Ed. Manole, R$77,40
Consultoria:
Marcus Renato de Carvalho, www.aleitamento.com pediatra, tel.: (21) 2249-0312
Ana Aurélia Rocha da Silva – pediatra e gastropediatra, Tel.: (61) 3242-0680 Ana Garbulho, doula e baby sitter, tel.: (11) 7201- 0272/ 4472 -5253 Cátia Chuba, obstetra, tel.: (11) 9668-3777, www.clinicatobias.com.br Clarissa Kahn, psicóloga, tel.: (61) 3201-0069/ 8139-0099 Grant Carvalho Filho, pediatra, tel.: (21) 2256-1894/ 9984-7214 José Martins Filho, pediatra, tel.: (19) 3251-0511/9820-6842 Leonardo Posternak, tel.: (11) 3022-2195 Moises Chencinski, pediatra e homeopata, tel.: (11) 3285-2105/3284-0992 Olívia Bernardes, idealizadora do curso Marinheira de Primeira, www.marinheiradeprimeira.com
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