A História do M M-C
Colômbia, 1979
Estamos na Colômbia. Mais precisamente em Bogotá. Década de 70.
As Unidades Neonatais se hiperlotam. Os recursos disponíveis são parcos para atender a demanda.
A hiperpopulação noas Unidades de risco são um prato cheio para a infecção perinatal bem como impõem ao prematuro um tratamento sub-dimensionado se levamos em conta as suas exigências naturais.
Um grupo de pediatras naquele momento elaborou em forma de metodologia um programa de cuidados com o pré-termo que possibilitava pela primeira vez por prescrição médica que o grande avanço das incubadoras fosse substituído pelo colo materno.
Naquele momento a ciência, através de valorosos colaboradores, a saber: Edgar Rey Sanabria, Héctor Martinez e L. Navarrete, reconhecia que avançar não era sinônimo de industrializar. Equipamentos que por muito tempo foram considerados o objetivo do cuidado neonatal eram naquele momento substituídos com imensa vantagem pelo colo materno, pelo calor materno, pelo amor materno e pelo leite materno. Os resultados logo se revelaram surpreendentes.
Bebes de muitíssimo baixo peso, abaixo de 1.500 gramas, pela primeira vez na história eram retirados das incubadoras para junto de suas mães, diminuindo a população das Unidades Neonatais e as complicações decorrentes da super população nestas Unidades. Os bebezinhos deixavam o Hospital em menos tempo e em melhores condições: não eram entregues à uma mãe estranha nem a mãe os estranhava no momento da alta. Eram, isso sim, velhos conhecidos quando a alta chegava. O ganho de peso se dava em menor tempo. A amamentação, fato raro entre os pré-têrmos de muito baixo peso, era uma constante. O acompanhamento ambulatorial rigoroso certificava a eficiencia do metodo.
Chamou-se desde o seu inicio Metodo Mãe-Canguru uma vez que simulava a posição do pequeno canguru na bolsa junto ao peito da mãe. Um método com nome de mãe não pode mesmo falhar.
O ano é de 1979. Instituto Materno Infantil, Bogotá, Colômbia.
Mas podia ser aqui. Ali. Alhures. Em toda parte onde pré-têrmos se aglomeram em unidades que disponibilizam recursos reduzidos e acabam tratando sem cuidar.
Um método nascido em uma América Latina (que o mundo conhece como celeiro de drogas, violência, índios e bananeiras graças aos nossos irmãos do norte) encontra resistências ligadas à sua origem para se disseminar e receber aceitação.
Mas nada é mais forte do que uma idéia cujo tempo é chegado.
Demorou, mas hoje a Metodologia Mãe-Canguru tem recebido o destaque e a importância que merece tem sido reconhecida mundialmente. Uma busca pelo google ( madre canguro ou kangaroo mother) pode, ao congestionar seu desktop, dar uma idéia de sua importância atualmente no mundo. No Brasil essa técnica teve inicio em 1992 no Hospital Guilherme Álvaro, Santos, SP e no Instituto Materno Infantil de Pernambuco – IMIP, Recife PE em 1994, mas somente no ano 2000 o Ministério da Saúde o adotou como política oficial, o que significa dizer: legitimou o seio materno como saída viável para os pequenos pré-têrmos.
Hoje, 2004, o MMC esta longe de ser adotado universalmente em nosso país. Tirar um bebe de uma incubadora ainda assusta o profissional de saúde que teme pelo insucesso ou pelo dano do risco. A incubadora, bem ou mal ele já conhece e não vai se meter em encrenca inventando moda, coisa de naturalista. Outros profissionais ainda aguardam aval dos nossos irmãos do norte que nos amam para usa-lo. Somos todos irmãos. Mas não porque tenhamos a mesma mãe e o mesmo pai. Temos é o mesmo parceiro que nos trai, já decretou Ferreira Gullar em seu poema Nós latino-americanos.
Visitem a Colômbia, uma terra linda (www.colombia.com).
No próximo capítulo: Noções de ECONEONATOLOGIA