CIRURGIA CESARIANA:
+ chances de Hipertensão Arterial no futuro
Pesquisa brasileira reforça a importância de aumentar o número de
parto normal no país
Elessandra Asevedo para Revista Super Saudável
A taxa ideal de cesarianas é de 10-15% segundo a OMS, no entanto, esse tipo de parto continua sendo muito frequente nos países em desenvolvimento – no Brasil, cerca de 55% dos bebês nascem por essa via na rede pública, índice que pode ultrapassar os 80% nas maternidades privadas. Estudos já comprovaram que os recém-nascidos de parto cesáreo têm um risco 34% maior de se tornarem obesos na infância e na adolescência, além de haver uma relação com o desenvolvimento de doenças crônicas, como asma e diabetes tipo I.
Em recente estudo desenvolvido na Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FMRP-USP), os pesquisadores também concluíram que crianças que nascem por cesariana têm chance 49% maior de se tornarem hipertensas aos 25 anos de idade. Os dados são um alerta, porque a hipertensão é uma das características mais importantes na origem do infarto agudo do miocárdio e do Acidente Vascular Cerebral (AVC).
O estudo de coorte “Cesarean Delivery and Hypertension in Early Adulthood”, pertencente ao conjunto de trabalhos relativos aos nascidos em Ribeirão Preto no ano de 1979, foi publicado no American Journal of Epidemiology. A pesquisa acompanhou uma amostra populacional de 2.002 pessoas, do nascimento à idade adulta e, após ajuste de algumas variáveis, como idade da mãe, alimentação durante a gestação e motivos que levaram a fazer a cesárea, investigou a associação desse tipo de parto com a pressão arterial sistólica, diastólica e com a hipertensão, tudo mediado pelo índice de massa corporal (IMC). Embora o estudo não tenha as causalidades definidas, um dos motivos pode estar relacionado com a microbiota intestinal.
Pesquisas mostram que crianças nascidas de parto cesáreo têm maior proporção de Firmicutes do que Bacteroidetes na microbiota, quando comparadas com aquelas que nasceram de parto vaginal, e existe uma relação do predomínio de Firmicutes no intestino e maior absorção de gordura e obesidade. Um dos motivos pode ser devido ao fato de, durante o parto normal, o bebê ser colonizado ao entrar em contato com as bactérias presentes no canal vaginal da mãe, enquanto na cirurgia cesariana a primeira interação do se dê com as bactérias do centro cirúrgico e dos profissionais envolvidos no parto.
“O excesso de peso é um dos fatores de risco para a hipertensão e, em nosso estudo, a associação entre a cesárea e hipertensão foi parcialmente mediada por IMC, apoiando a hipótese de um caminho compartilhado”, explica o Prof. Dr. Marco Antonio Barbieri.
Outra hipótese está relacionada com a via hormonal no eixo hipotálamo-hipófise-adrenal no momento do nascimento, que pode ter relação com um mecanismo epigenético no DNA e com alteração na fisiopatologia da hipertensão, aumentando as chances do surgimento da doença. Embora sejam causalidades não definitivas que pedem outros estudos, a pesquisa faz um alerta sobre as consequências do parto cirúrgico não apenas na avaliação imediata da saúde do bebê, como também na possibilidade de estar ligado ao risco de futuras doenças não transmissíveis.
“É um alerta aos países em desenvolvimento com altas taxas de cirurgias cesarianas e sofrem com a carga crescente de enfermidades não transmissíveis. O Brasil já foi o país com o maior número de cesáreas e, hoje está em segundo lugar, perdendo apenas para a República Dominicana”, pontua o professor Marco Barbieri.
Cesarean Delivery and Hypertension in Early Adulthood
Alexandre Archanjo Ferraro, Marco Antônio Barbieri, Antonio Augusto Moura da Silva, Marcelo Zubaran Goldani, Maria Teresa Bechere Fernandes, Viviane Cunha Cardoso, Aryeh David Stein, Heloisa Bettiol
American Journal of Epidemiology, Volume 188, Issue 7, July 2019, Pages 1296–1303, https://doi.org/10.1093/aje/kwz096
Abstract
The rate of cesarean delivery (CD) is high in many parts of the world. Birth via CD has been associated with adverse later health outcomes, such as obesity, asthma, and type 1 diabetes mellitus. Few studies have focused on hypertension. We investigated the associations of CD with hypertension, systolic blood pressure (BP), and diastolic BP and tested whether body mass index (BMI; weight (kg)/height (m)2) was a mediator of these associations in a birth cohort (n = 2,020) assembled in 1978–1979 and followed up in 2002–2004 in Ribeirão Preto, Brazil. The CD rate was 32.0%. Hypertension was present in 11.7% of persons born via CD and 7.7% of those born vaginally. Being born by CD increased the odds of hypertension by 51% (odds ratio = 1.51, 95% confidence interval (CI): 1.10, 2.07). After adjustment for confounders, this estimate changed little (odds ratio = 1.49, 95% CI: 1.07, 2.06). In a mediation analysis, odds ratios for the indirect and direct effects were 1.18 (95% CI: 1.11, 1.25) and 1.31 (95% CI: 0.97, 1.65), respectively. CD also had indirect effects on both systolic and diastolic BP via BMI. Our findings suggest that CD is associated with young-adult hypertension and that this association is at least partially mediated by BMI. This has implications for countries struggling with the burden of noncommunicable diseases and where CD rates are high.