Uso da domperidona como um galactogogo
Dr. Yechiel Moises Chencinski para o Instituto Girassol
Uma revisão realizada na França (dados do PubMed até julho de 2013) avaliou o índice de custo benefício do uso da domperidona para estimular o aleitamento materno, visto que sua ação nesse campo é amplamente divulgada, porém não há aprovação oficial para essa sua utilização.
Entre 4 estudos que atestaram sua eficácia e comprovaram um aumento da produção de leite, a qualidade metodológica moderada de um deles e a amostragem baixa (60 pares mãe-bebês) se mostraram insuficientes para concluir sobre sua real eficiência.
Em relação à segurança, 7 estudos foram selecionados 113 bebês expostos ao uso da domperidona através leite materno. Em 85 casos não foi descrito nenhum efeito colateral e os efeitos nos outros 28 não foram informados. Apesar de limitada, a amostragem aponta para um perfil de segurança no seu uso, tanto para mães quanto para bebês.
Porém, em amplos estudos que focavam problemas gastrintestinais, a domperidona está incluída em um grupo de drogas que podem induzir a Síndrome do QT longo e morte súbita cardíaca, especialmente em mulheres, fato que torna preocupante sua utilização rotineira como galactogogo.
Os autores concluem que um aperfeiçoamento nas práticas e técnicas de aleitamento pode ser mais efetivo e mais seguro do que o uso não aprovado da domperidona.
Comentários:
A domperidona é usada tanto como galactogogo como para o tratamento de doença de refluxo gastroesofágico (DRGE). Sua inclusão no grupo de drogas potencialmente causadoras de Síndrome do QT longo com risco morte súbita cardíaca tornam essa prática de risco (mesma situação relacionada à utilização da cisaprida, com utilização suspensa após essa mesma comprovação em DRGE).
O Departamento de Saúde do Governo da Austrália (TGA – Therapeutics Goods Administration – 2012), a Organização Mundial de Saúde (WHO), em colaboração com o Centro Internacional de Monitoramento de Drogas da Suécia (2013) e Medicines and Healthcare Products Regulatory Agency (MHRA) do Governo do Reino Unido (2014), em uma atualização de segurança em drogas, são firmes em duas recomendações:
– Usar a menor dose eficaz em adultos, pelo menor tempo possível.
– Crianças não devem usar domperidona.
Assim, a utilização da domperidona como galactogogo vai contra essas duas recomendações.
Publicação: Journal of Human Lactation
Fonte: Catherine Paul, Marie Zénut, Agnès Dorut, Marie-Ange Coudoré, Julie Vein, Jean-Michel Cardot, David Balayssac. Use of Domperidone as a Galactagogue Drug – A Systematic Review of the Benefit-Risk Ratio. J Hum Lact February 2015 vol. 31 no. 1 57-63 DOI: 10.1177/0890334414561265
CFF ALERTA
Domperidona: risco de arritmia ventricular
e morte cardíaca súbita
Domperidona (Domperix® – Eurofarma; Motilium®- Janssen-Cilag) é antagonista de dopamina com propriedades antieméticas, empregada no tratamento de náuseas, vômitos, desconforto epigástrico e abdominal, e regurgitação (motivo pela qual é utilizada nos tratamentos de doença do refluxo gastresofágico [DRGE]). 1
Alguns estudos epidemiológicos 2-5 demonstraram que a domperidona está associada a um aumento no risco de arritmia ventricular grave e morte cardíaca súbita. Esses riscos podem ser mais significantes em pacientes com idade superior a 60 anos 3 e em pacientes que recebem doses orais diárias superiores a 30 mg. 2
Embora a domperidona seja muito prescrita para o tratamento de DRGE, tal abordagem terapêutica tem fundamento em limitadas evidências científicas; nestes casos, recomenda-se o uso de um inibidor da bomba de prótons (ex.: omeprazol, lanzoprazol, pantoprazol, etc) e/ou antagonista do receptor H2 (ex.: ranitidina, famotidina, etc.).6
De acordo com La Revue Prescrire, uma revista francesa independente de renome internacional, é inaceitável expor pacientes com simples refluxo gastresofágico ou náusea e vômito a um risco de arritmia ventricular grave e morte súbita, por isso, o uso de domperidona deveria ser evitado. Se medidas de estilo de vida forem insuficientes para controlar refluxo gastresofágico, os pacientes podem ser tratados com antiácido ou inibidor da bomba de prótons. Também não se justifica o uso de domperidona como indutor de lactação (uso off-label). 7
Um alerta divulgado pela Health Canada (agência reguladora canadense), em março de 2012, advertiu sobre riscos cardíacos associados ao uso de domperidona. No alerta, os fabricantes deste medicamento informaram os profissionais da saúde daquele país sobre os riscos e recomendaram início do tratamento com a menor dose possível em adultos, incluindo aqueles com doença de Parkinson. Se necessário, a dose pode ser aumentada com cautela até alcançar o efeito esperado, conquanto que o benefício do aumento da dose supere os potenciais riscos ao paciente. O alerta também ressaltou o aumento do risco de prolongamento do intervalo QT quando a domperidona é associada a inibidores da CYP3A4 (ex.: fluconazol, cetoconazol, eritromicina, etc) em razão do aumento da concentração plasmática do antiemético.8
Com base nas evidências trazidas à tona pelos estudos e alertas analisados, é importante que os profissionais da saúde e os pacientes sejam advertidos sobre os riscos associados ao uso de domperidona, visando sempre o uso racional do medicamento. Entre as medidas de segurança que devem ser levadas em consideração, estão:
• Evitar o uso de domperidona em situações clínicas para as quais sua eficácia e segurança não foram devidamente demonstradas, tais como doença de refluxo gastresofágico e como indutor de lactação.
• Os prescritores devem estar atentos a pacientes que apresentam fatores de risco como:
– prolongamento de intervalos da condução cardíaca (em especial o QT);
– alterações eletrolíticas significantes;
– problemas cardíacos como insuficiência cardíaca congestiva e que recebem medicamento para tais condições, particularmente aqueles com idade superior a 60 anos e que recebem dose oral de domperidona superior a 30 mg/dia.
– A domperidona deve ser evitada em pacientes que já usam fármacos que promovem prolongamento do intervalo QT, tais como: 5
– Antieméticos: bromoprida, granisetrona, metoclopramida, ondansetrona.
– Cardiovascular: indapamida.
– Antibacterianos: claritromicina, eritromicina, sulfametoxazol, trimetoprima.
– Antipsicóticos: clorpromazina, droperidol, haloperidol, pimozida.
– Antidepressivos: amitriptilina, clomipramina, doxepina, mianserina.
– Antimaláricos: cloroquina, halofantrina.
– Anti-histamínicos: difenidramina, dimenidrinato, prometazina.
– Outros: pentamidina, tacrolimo.
Os pacientes devem ser advertidos a procurar cuidado médico imediato caso surjam sintomas como síncope ou taquicardia durante o tratamento.