FAMÍLIAS MÃE CANGURU
EM SEMINÁRIO INTERNACIONAL
A Fundação Orsa antecipa resultados da pesquisa As sustentações cotidianas das famílias envolvidas no método Mãe Canguru que será apresentada no I Seminário Internacional de Humanização da Assistência ao Recém-nascido de Baixo Peso – Método Mãe Canguru e V Workshop Internacional Kangaroo Mother Care,nesta semana, no Rio de Janeiro. Participam do evento profissionais da saúde de diversos lugares do mundo como Vietnã, Ucrânia, Colômbia, Albânia, Estados Unidos e Europa, que vêm mostrar suas experiências com o Mãe Canguru e conhecer como é o método no Brasil, único país onde se tornou política pública.
A pesquisa, que contou com a parceria do BNDES e do Ministério da Saúde, procurou conhecer a realidade das famílias de três centros de referência do Mãe Canguru ( em São Paulo, Recife e Santa Catarina) com objetivo de identificar as principais necessidades da aplicação do método, de forma a intervir efetivamente nos cuidados da mãe e grupo familiar para com o
bebê prematuro. A pesquisa quis saber o que as pessoas envolvidas pensam a respeito do método e como é o cotidiano destas famílias. Para tanto, o contato dos pesquisadores foi direto e realizado a cada cinco dias, em diferentes fases, por um período de seis meses em cada hospital.
O trabalho, realizado entre 2001 e 2003, envolveu 370 famílias e 402 bebês, sendo 285 famílias e 317 bebês do Instituto Materno-Infantil de Pernambuco – IMIP de Recife (PE), pioneiro na aplicação do Mãe Canguru no Brasil; 51 famílias/ bebês do Hospital Geral de Itapecerica da Serra (SP); e 34 famílias/bebês do Hospital Universitário de Florianópolis (SC). No IMIP, a diferença entre o número de famílias e bebês é porque 26 famílias tiveram gêmeos e 6 famílias tiveram trigêmeos.
31,4% das mães têm até 20 anos
Do total de mães entrevistadas, 31,4% tinham até 20 anos de idade (1,1% menores de 14 anos; 14,3% entre 15 e 17 anos; 15,9% entre 18 e 20 anos).
A idade média constatada foi de 24 anos.
Entre as famílias pesquisadas, 62,2% das mulheres não trabalhavam fora de casa e as que trabalhavam predominaram as ocupações que não exigem o nível eucacional mais do que o ensino médio. A maior parte (53,7%) mantinha união estável, com até três anos de convivência conjugal, e 11,62% tinham
relacionamentos instáveis.
Com relação à renda familiar, 59,2% das 370 famílias ganhavam dois salários mínimos, sendo que 19,5% recebiam menos que um salário mínimo. Cabe ressaltar que os hospitais pesquisados são da rede púbica, pois o Mãe Canguru também é aplicado em maternidades particulares como as do hospital Albert Einstein,
hospital São Luís e a Pró-Matre em São Paulo.
No universo pesquisado, houve predominância de famílias que inclui outros parentes e agregados (afilhados e amigos).
Das 63% das mães que responderam as questões referentes aos seus sentimentos ao praticarem o método Mãe Canguru, 77,3% tiveram percepções positivas:
felicidade (53,8%), amor e carinho pelo bebê (15%), emoção/sensação boa (5,5%) e segurança (4,5%). Somente 16,2% fizeram considerações negativas como medo, insegurança e tremor.
Com relação aos aspectos positivos do Mãe Canguru apontados pelas mães, 57,8% mencionaram que o bebê fica mais calmo, que dorme melhor, que se sente mais protegido e segura, que se desenvolve melhor e mais rápido, além de dizerem que seu amor e carinho pelo bebê aumentaram. O gestor de programas
e projetos da Fundação Orsa, e responsável pelo método Mãe Canguru na instituição, Matias Rath, comenta que “esse é um fator que aponta o quão rápido é o entendimento das mães com relação ao método, e o quão positivo é para o desenvolvimento do bebê”.
Quanto aos pontos negativos do método mencionados pelas mães, somente 21,3% do total se queixaram de dor na “coluna”, do tempo que ficam no hospital e de ser cansativo.
Do total de mães entrevistadas, 87,7% afirmaram ter recebido informações sobre o Método Mãe Canguru no próprio hospital enquanto outras 2,7% foram instruídas no pré-natal.
Das 327 mães que responderam a questão sobre apoio financeiro,76,7% recebiam essa ajuda do esposo e 23,3% dos pais. Já com relação ao apoio emocional, das 318 mães que responderam a essa pergunta, a maioria (88,7%) teve apoio
do marido, sendo as demais ajudadas pelos pais.
A maioria das mães pesquisadas (68,9%) não residia no município-sede dos hospitais, o que dificultava a volta para consultas ambulatoriais. Das 162 mães que deram continuidade às consultas no ambulatório, 42,6% receberam ajuda na prática da posição canguru em casa, sendo que 57,4% praticaram
sozinhas. De acordo com Rath, esse dado mostra, mais uma vez, a importância de incentivar a aproximação dos familiares – e não só da mãe – para com os bebês nas unidades neonatais, além de provocar um maior entendimento da sociedade com relação ao método Canguru, proporcionando mais apoio à
mãe na prática do método uma vez que essas mulheres, muitas vezes, têm outras responsabilidades além dos cuidados com o bebê. “O Mãe Canguru tem que ser pai, avó, avô, tio, irmão Canguru”, diz Rath.
“A Constituição Federal de 1988 reconhece a família como a base da sociedade, com direito a uma especial proteção do Estado. Também preconiza a co-responsabilidade: é dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, o pleno desenvolvimento. Isso deixa clara a importância do envolvimento da família, além da construção uma rede social pela criança e adolescente, sobretudo aqueles que precisam e proteção social, como é o caso do bebê prematuro. O recém-nascido de baixo peso é um cidadão, é um sujeito de direito como qualquer outra pessoa”
conclui Rath.