Post 4. Noções de Econeonatologia
Observemos um prematuro em tratamento no interior de uma incubadora em uma Unidade Neonatal.
À primeira vista ganham importância essencial o bebe e a prescrição médica, que traduz a sua condição clinica.
Uma avaliação mais atenta, entretanto, revela sinais do que poderíamos chamar de econeonatologia.
Alguns dias antes de chegar ali esse bebe vivia em um ambiente que chamamos intra uterino, ou, popularmente, dentro da barriga da mãe.
Ali, protegido do ar ambiente, da luz e de barulhos menores, recebendo nutrientes e oxigênio através da sua mãe, ali ele cresceu até que algum evento provocou seu nascimento prematuro.
Imensas modificações exigiram que subitamente e sem prévio aviso aquele serzinho ainda em amadurecimento e formação se tornasse gerente de si mesmo e tratasse por si só de prover seu corpo de nutrientes e oxigênio, bem como enfrentar os contatos físicos, luminosos e sonoros que o meio ambiente, o mundo do lado de fora da barriga, passaram a lhe impor.
Ali, na incubadora, aparelho criado para proteger e aquecer o bebe, simulando a vida intra útero, o bebe prematuro é tratado.
Inúmeros detalhes passam desapercebidos enquanto o bebe é tratado.
1. As incubadoras fazem barulho. Roncam seus motores 24 horas por dia e o fazem próximo a um bebe por vezes com 1 quilo de peso. Para se ter uma idéia do volume do ronco de uma incubadora encoste seu ouvido nela. Multiplique por 24 horas por dia. Você tem 60 quilos? Como ele, o prematurinho, tem somente 1, multiplique por 60… Então?
2. O oxigênio faz barulho. Mas é de um sopro. Mas um sopro continuado. Dias soprando um uivo de um vento sem fim. Como um suplicio chinês.
3. A luz da unidade não se apaga. Você dorme bem quando dorme de luz acesa? Passaria bem por 40 dias numa casa de paredes de vidro sem repouso visual e sem direito à sombra e a sono de luz apagada. Experimenta…
4. A fototerapia é mais luz. Com venda nos olhos, claro. Mas experimente vendar seus olhos por 4 dias…
5. Cada vez que a portinhola da incubadora fecha e abre ela faz um barulho e o bebe toma um susto. Uma portinhola chega a fechar e abrir 100 vezes em 24 horas. Ou até mais.
6. O bebe é colocado no soro através de uma agulha chamada scalp. Cada vez que se tenta localizar uma veia com a agulha ele leva de 5 a 10 espetadas. Há bebes que tem essas tentativas feitas por mais de uma hora seguida. Sem dó nem piedade.
7. Os alarmes de uma unidade bipam (fazem um sonzinho de bip mais irritante e mais alto que o som do ICQ) sem parar. 40 dias escutando bips, se os prematuros falassem diriam: ninguém merece.
8. Fala se muito e o tempo todo numa unidade. Troca-se roupa. Banha-se. Troca-se o lençolzinho da incubadora. Ajeita-se o capacete de oxigênio. Passa-se sonda. Mede-se o resíduo gástrico. Aplicam-se medicamentos. Colhem-se exames. Instalam-se sensores de pele. E quando falta luz alarma tudo.
Mas falta o colo da mãe. O calor da mãe. A vozinha da mãe cantando canções de ninar. Assim vive um pré-termo na incubadora. Um mal necessário, mas não um bem absoluto…
Amanhã continuamos..