Uma chance à amamentação!
* Por Annelies Allain
“Estudos mostram que bebês alimentados com mamadeira têm uma taxa de colesterol 14% mais alta que os bebês amamentados quando chegam à idade adulta!”
O Brasil é um dos 32 países no mundo que têm trabalhado para a efetividade do Código Internacional de Comercialização dos Substitutos do Leite Materno, que em 2006 completou 25 anos. A legislação brasileira adotada nesse sentido foi criada em 1988 e atualizada em 2002. O país combina legislação forte, monitoramento contínuo e um programa sistemático de promoção da amamentação.
Dos outros 75 países que possuem legislação na matéria, muitos não incluem todos os produtos que solapam a amamentação, e alguns têm lei, mas não sistemas capazes de verificar sua aplicação. Outros, não têm acompanhamento social ou pedagógico para ajudar as mães a amamentarem. O Brasil tenta fazer tudo isso. Claro que tem de fazer ainda mais. Mas é gratificante ver que existe um sistema que permite levar em frente a batalha contra a mamadeira.
Os fabricantes de substitutos do leite materno e produtos afins fazem concorrência feroz com a amamentação. Gastam milhões de dólares com publicidade, presentes, cartazes, calendários, amostras e patrocínio a profissionais de saúde, além de promoverem seus produtos com embalagens atrativas. Apresentam a amamentação como algo difícil e penoso. A batalha se tornou desigual, e somente uma legislação poderia oferecer proteção para os pequenos e vulneráveis consumidores.
A amamentação é a ação mais efetiva para a prevenção da morbidade e da mortalidade infantil. Estudos apontam seus benefícios até na vida adulta: bebês alimentados com mamadeira têm uma taxa de colesterol 14% mais alta que os bebês amamentados quando chegam à idade adulta! A amamentação está, assim, associada à prevenção das doenças cardíacas, do diabetes e da obesidade, as três principais doenças letais do século atual. É uma batalha a longo prazo em prol da saúde de toda a nação.
Onde não há legislação, a promoção comercial é flagrante. Onde existe, como no Brasil, as companhias tentam contorná-la. E há muitas oportunidades de burlar a lei.
Se houver mais pessoas fazendo o monitoramento, o Brasil continuará a ser exemplo para o mundo. São incalculáveis as violações evitadas e as vidas de bebês salvas pelos vigilantes do Código, cada vez mais numerosos. Não existe substituto da amamentação.
Podemos combater a promoção de fórmulas infantis e de seguimento, sucos e chás para bebês, mamadeiras, bicos e chupetas, e cereais e alimentos em potinhos recomendados para bebês de menos de 6 meses. Se fizermos isso, haverá mais bebês no Brasil com chances do melhor começo na vida: a amamentação exclusiva por seis meses, continuada com outros alimentos até os 2 anos ou mais.
Assim, quando tiver conhecimento do nascimento de um bebê, tente saber se a mãe recebeu uma ou mais amostras de produtos, um presente ou uma publicidade. Junte os elementos de prova e mande para o Idec, o Ministério de Saúde ou a IBFAN Brasil. Explique às pessoas por que está fazendo isso.
Um dia, os substitutos do leite materno poderão ser reservados para os poucos casos de necessidade médica em que podem efetivamente salvar vidas.
As latas de fórmula infantil no Irã têm a seguinte inscrição: “Produto destinado aos bebês privados do leite de suas mães”. Todas as nações, grandes ou pequenas, pobres ou ricas, podem ajudar as mães a darem a seus bebês não só o melhor começo na vida, mas também o melhor futuro.
Vem para a IBFAN você também !
IBFAN-Brasil: www.ibfan.org.br
Coordenação: Rosana De Divitiis
Fone/Fax: (11) 4522-5658
Rua Carlos Gomes, 1513, sala 01, CEP 13215021, Jundiaí – SP
* Annelies Allain é socióloga, economista e uma das fundadoras da Rede Internacional em Defesa do Direito de Amamentar (em 1979) ou IBFAN (sigla de International Baby Food Action Network), e diretora do Centro Internacional de Documentação do Código ou ICDC (sigla de International Code Documentation Centre), em Penang, Malásia