IV, Alimentação Infantil e Saúde da Mãe e da Criança
Em 1997, a Declaração Política das Nações Unidas destacou que, como um princípio geral para todas as populações independentemente da taxa de infecção por HIV, a amamentação deve ser promovida, protegida e apoiada. Também claramente deu ênfase para que as mães HIV positivas sejam empoderadas para que façam uma escolha plenamente informada sobre a alimentação infantil e que recebam todo o apoio para praticar a sua decisão.
Em outubro de 2000 a UNICEF, OMS e UNAIDS revisaram as evidências que se acumularam no decorrer desse período de 3 anos. Foram encontrados achados que necessitavam de uma atenção especial. Os resultados publicados por Coutsoudis et al. (Lancet, 1999), sugerem benefícios da amamentação exclusiva sobre a alimentação mista, com a amamentação exclusiva levando a um risco similar de transmissão do HIV comparado à alimentação exclusivamente com fórmula infantil (publicado no Atualidades em Amamentação n.º 27-28). Uma análise do seguimento dos dados publicados por Coutsoudis et al. em 2001, sugere que recém nascidos exclusivamente amamentados por 3 meses ou mais, não tem riscos adicionais de infecção por HIV aos 6 meses, comparado aos que nunca foram amamentados. Assim, após estas análises, as Nações Unidas reiteraram suas políticas sobre HIV e alimentação infantil, recomendando especificamente que:
Quando a substituição da alimentação é aceitável, possível, disponível, sustentável e segura, deve ser recomendado que se evite qualquer forma de amamentação por mães HIV positivo.
Na ausência de alguma das condições citadas acima, a amamentação exclusiva é recomendada durante os primeiros meses de vida.
Já naquele momento, os especialistas davam um ênfase especial à saúde materna recomendando a inclusão de serviços de planejamento familiar e de apoio nutricional para as mulheres HIV positivo.
Estas recomendações foram novamente revistas pela MS em 2001, baseadas nos achados de Nduati et al. que sugerem que mães HIV positivo tem maiores taxas de mortalidade se amamentam seus bebês. Estes resultados entraram em conflito com os estudos da África do Sul que não encontraram aumento do número de mortes nas mães HIV positivo que amamentaram. O editorial da revista Lancet pontuou que estes resultados conflitantes deviam conduzir a novos estudos e não a recomendações (1) . Em 7 de Junho de 2001, a OMS publicou uma declaração que advertia contra o ímpeto de mudar as políticas adotadas, movido por conclusões precipitadas (2). A OMS declarou ainda que as limitações nos dados do estudo de Nduati requeriam cuidados na interpretação dos resultados e reiterou a importância de um suporte adequado, clínico e nutricional, às mães que foram infectadas pelo HIV.
O componente “HIV e Alimentação Infantil” dos programas de prevenção da transmissão do HIV da mãe para a criança tem sido muito contestado. Isto porque os estudos não tem ainda respostas definitivas para questões como os efeitos da amamentação exclusiva e o impacto da terapia antiretroviral durante a lactação, nas taxas de transmissão do HIV. Muitas pesquisas que tratam de amamentação e HIV não levam em conta as definições da OMS de 1991 sobre os padrões individuais de alimentação infantil (amamentação exclusiva, amamentação predominante, amamentação parcial, etc.). Isto torna impossível separar os dados a esse respeito e proporcionar uma orientação útil aos gerentes dos programas. Em 2001 a OMS em colaboração com o UNICEF e especialistas publicaram um instrumento de avaliação de estudos, para auxiliar os cientistas no desenho de seus protocolos de pesquisa.
A recomendação de 2000 sobre o uso de alimentos substitutos somente quando aceitável, praticável, disponível, sustentável e seguro é certamente um passo na direção correta. No entanto todas essas condições são extremamente ligadas à situações específicas . Portanto é crucial que uma análise apropriada e detalhada da situação seja feita de tal forma que os conselheiros de mães HIV positivas tenham um bom conhecimento da série de opções e condições, para poderem efetivamente apoiar as mães na sua escolha informada. A experiência sobre o aconselhamento de mães HIV positivo em várias partes do mundo sugere que muitos conselheiros não estão suficientemente equipados com conhecimentos e habilidades e freqüentemente atuam com base no preconceito, nas experiências pessoais e algumas vezes pressionando as mães.
1. Newell ML. Does breastfeeding really affect mortality among HIV- 1 infected women? Lancet 2001; 357: 1634
2. WHO. Global strategy for infant a nd young child feeding. Document A54/7, Geneva, 9 April 2001.
IBFAN OUTUBRO 2003 Nº 30
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