UM PEDIATRA EM DEFESA DOS PAIS
Ser pai é muito bo
Professor de puericultura da UFRJ e pediatra, Marcus Renato de Carvalho levanta a bandeira dos pais que querem ser cuidadores e compartilhar a guarda dos filhos
Por Tania Neves
SE NO FUTURO O CURSO DE Medicina da Universidade Federal do Rio de Janeiro ganhar uma cadeira chamada saúde e paternidade ou algo assim, pode contar que teve o dedo do pediatra e professor Marcus Renato de Carvalho. Aos 46 anos, separado pela segunda vez, uma filha de cada casamento, ele bate diariamente na tecla da importância de os pais assumirem o seu papel de cuidador na vida dos filhos. Nas salas da UFRJ, o médico introduz o assunto nas aulas da disciplina saúde materno-infantil; no consultório, marca posição convocando os homens a também irem às consultas dos filhos; e no resto do tempo levanta a bandeira em eventos como a Campanha de Valorização do Cuidado Paterno 2004, que ele lançará domingo no Parque dos Patins, na Lagoa. Não por acaso, Dia dos Pais.
– A presença paterna é muito importante para o desenvolvimento da criança. E o homem que cuida de seu filho se torna mais terno, menos violento, mais feliz. Isso beneficia as crianças, os próprios pais e o mundo – defende o pediatra.
Ele é daqueles que puxam a carteira para mostrar fotos das filhas. Clara, de 11 anos, mora com a mãe em Minas. Sophie, de 2 anos e meio, mora com a mãe no Rio. Marcus mora também no Rio e tem a casa toda preparada para receber as filhas. E ele vê Clara com quase a mesma (baixa) regularidade que vê Sophie – a primeira porque mora em outro estado, a segunda porque os encontros são regidos por uma decisão judicial que lhe dá apenas dois fins de semana por mês e uma noite por semana com ela.
– O cruel da atual legislação é que só quem tem a guarda decide sobre a criação dos filhos. Se este quiser, deixa o outro alijado – reclama.
Pelo direito de cuidar e não apenas prover
Com relação à filha mais velha, Marcus sempre pôde participar de todas as decisões sobre escola, atividades extracurriculares, viagens. Até o pediatra dela continua sendo no Rio e é ele quem a leva ao médico. Mas com Sophie ele tem somente o que a lei dá. E acha pouco.
– Quero ser pai integralmente e não me deixam – diz Marcus, que se inspira em seu sofrimento para mobilizar a sociedade na luta pela lei da guarda compartilhada, que já tramita no Congresso Nacional. – Peguei esse limão que me caiu sobre a cabeça e estou tentando transformar numa limonada pública.
Peito para brigar ternamente por seus valores ele tem não é de hoje. Na Eco-92, o pediatra lançou a campanha “Amamentar é um ato ecológico”, com Glória Pires de madrinha. Depois criou o site www.aleitamento.com , no qual incentiva a amamentação e dá suporte a profissionais de saúde e pais sobre o tema. Ano passado fez a primeira campanha de Valorização do Cuidado Paterno com o slogan “Pai, dê o peito para seu filho”, pregando a importância de os homens assumirem tarefas cotidianas na vida das crianças como dar banho, alimentar, botar para dormir, levar à escola. Este ano ele passará a manhã do Dia dos Pais no Parque dos Patins comandando uma trupe de artistas e voluntários que vão recrear os filhos e esclarecer os pais sobre a urgência de brigarem por uma legislação que lhes permita serem cuidadores e não somente provedores.
Foto de Fábio Seixo:
Marcus Renato com as filhas Sophie (no colo) e Clara no Parque dos Patins: no Dia dos Pais, ele comandará um evento que visa à valorização do cuidado paterno