PROJETO PAI DO PEITO: a participação masculina no aleitamento materno
Caroline Senicato
Piracicaba/SP
Abril de 2009
É sabido que o apoio consiste em “fornecer informação correta e prática no momento oportuno, com uma atitude de aconselhamento, com suporte emocional e respeitando os valores culturais e conhecimento da mulher” desta forma o futuro pai, quando é munido de informações corretas, se mostra uma grande pessoa para oferecer apoio à amamentação.
Silveira e Lamounier (2006) concluíram que apesar da chupeta ser o principal fator relacionado ao desmame precoce, a presença e escolaridade paterna também são relevantes. Quanto maior a escolaridade e se o pai não reside junto com a mãe, maiores são chances de desmame.
De acordo com Macaulay et al. (1989) mulheres canadenses que recebiam o apoio do pai da criança, assim como das avós maternas e que já tinham decidido por amamentar antes da gestação amamentavam por mais tempo seus filhos. Assim, como coloca Faleiros et al. (2006) o apoio familiar é um parâmetro favorável para a decisão materna de amamentar e, com certeza, o pai faz parte da rede familiar que deve oferecer apoio.
Contudo, no período puerperal por questões psicológicas o pai pode afastar-se da mulher, pois até então o corpo feminino era objeto de desejo sexual e agora sua forma foi alterada pela gestação e, os seios, também objetos de desejos, passaram a “pertencer” ao filho, gerando muitas vezes sensação de culpa ou hostilidade no pai da criança. Isso acaba influenciando a mulher na amamentação, principalmente se o pai apresentar reações negativas ao aleitamento materno, como Susin (2003) acrescenta.
Todavia, Brito e Oliveira (2006) concluíram em sua pesquisa que nos treze casais analisados os pais admitiram haver mudanças no relacionamento conjugal com a amamentação, entretanto afirmaram que não são mudanças negativas em suas vidas. O fato é que se houverem reações adversas, essas poderão ser minimizadas se o pai conseguir sentir-se mais próximo da sua companheira e do seu filho e se ambos sentirem mais próximos do pai (Waletzky, 1979).
Daí a importância de buscar o pai para participar dos cursos de pré-natal e fazer atividades destinadas a eles como o projeto “Pai do Peito”, favorecendo o apoio à puérpera, o envolvimento masculino e o vínculo entre a tríade, pai, mãe e filho.
Justificativa
O projeto “Pai do Peito” se justifica a medida que o pai exerce influência na duração da amamentação e é um apoio para a puérpera nesse período, conforme já acrescentado. Assim sendo, faz parte do aconselhamento incluí-lo nesse processo de amamentar.
Cabe aos profissionais de saúde auxiliar nesse processo de transformação da paternagem, dando mais espaço e conhecimento para que o pai seja mais participativo e não só provedor.
Também é necessário que os governantes propiciarem condições para uma maior participação, como a ampliação da licença paternidade, favorecendo uma partilha de responsabilidades e promovendo uma melhor conciliação da vida profissional e familiar. Provavelmente serão passos para atitudes, direitos e deveres mais igualitários entre os gêneros no que diz respeito à maternidade e paternidade amiga da amamentação, visto que, infelizmente, a construção social da amamentação ainda é vista como responsabilidade somente feminina pela sua condição biológica e ao pai cabe a responsabilidade econômica (Pontes et al., 2008).
Objetivo
O objetivo do projeto “Pai do Peito” é trazer o pai para próximo da amamentação, sendo participativo, colaborador, facilitador e que ofereça apoio e proteção ao aleitamento materno, ainda mais que a presença masculina é fator de proteção ao desmame precoce. Diante disso, espera-se que com esta intervenção os pais fiquem conscientes das vantagens que esse ato propicia para a mãe, o bebê e a família e incentive suas mulheres a amamentar.
Local onde o projeto será desenvolvido
O propósito é desenvolver o projeto “Pai do Peito” no âmbito público, nos hospitais públicos. A princípio, no nível municipal. A cidade escolhida é Piracicaba que se situa no interior do estado de São Paulo. É um importante pólo regional de desenvolvimento industrial e agrícola. Sua população é estimada em 365.440 mil habitantes e conta com 29 Unidades Saúde da Família e dois hospitais públicos, a Santa Casa de Misericórdia de Piracicaba com cerca de 250 partos/mês e o Hospital Fornecedores de Cana com capacidade máxima de realizar 300 partos/mês. Ambos os hospitais possuem alojamento conjunto e o Hospital Fornecedores de Cana busca o credenciamento Iniciativa Hospital Amigo da Criança.
Metodologia
Ferramentas
O projeto “Pai do Peito” consiste em uma palestra em formato de slides do power-point sendo suficiente uma hora para passar o conteúdo, oferecida em um único período, ou de manhã ou a tarde.
Fazem parte da palestra os seguintes temas:
· Vantagens da amamentação para o bebê
· Vantagens da amamentação para a mãe
· Diferença entre o leite do peito, o leite de vaca e as fórmulas lácteas
· Como o leite é produzido
· Como é a pega correta
· Consequências da chupeta
· Consequências da mamadeira
· A sucção digital e a necessidade de sucção
· Desenvolvimento facial
· Síndrome do respirador bucal.
Também faz parte do projeto a entrega do folder (em anexo) na admissão no hospital que constará o horário da palestra que será dada todo dia. E a convocação do pai/companheiro para participar, enquanto a estadia da parturiente/puérpera no hospital.
A intenção é que o projeto não tenha custos públicos. Contudo, para a confecção dos folders envolve verba. Neste caso, seria interessante buscar patrocínio/apoio, ainda que seu custo seja barato.
Processos
Toda a equipe (desde médicos até porteiro) será treinada para incentivar, apoiar e proteger o aleitamento materno através do projeto “Pai do Peito”. Esse treinamento deverá ser feito em dois turnos (plantões) dividindo em duas turmas cada profissão durante o horário de expediente. Por exemplo, haverá no total quatro palestras duas em cada plantão, enquanto uma turma de técnicos de enfermagem desempenha sua função a outra vai para o treinamento com os outros profissionais que também foram divididos em duas turmas. Será a mesma palestra que será passada para os pais, um pouco mais detalhada, contudo não deve ultrapassar duas horas.
O pai terá que participar de um único encontro. Para facilitar sua adesão, o encontro será enquanto sua mulher estiver no hospital, visto que ele pode estar presente já que a licença paternidade (cinco dias corridos após o nascimento do bebê) garante isso.
Todos os profissionais que estarão em contato direto com a puérpera e pai, como por exemplo, os técnicos de enfermagem, lembrarão e reforçarão o horário da palestra durante a sua licença paternidade, para fazer parte do projeto “Pai do Peito”. Explicarão que se trata de um projeto simples, que basta o pai assistir uma palestra, que será mais uma conversa sobre a amamentação. Que sua adesão é de extrema importância, visto que o seu apoio durante a amamentação é fundamental para que a mulher sinta-se segura para amamentar e isso reflete na saúde do seu filho como na saúde da sua companheira e enfatizar que nessa conversa o pai aprenderá muitas coisas que ajudarão a mãe no aleitamento materno.
Estratégias que serão utilizadas
Cartazes fixados na maternidade (admissão, alojamento conjunto, centro de parto,…) e entrega dos folders na admissão da parturiente para o pai.
Sempre que possível o projeto “Pai do Peito” deverá ser citado como parte da política de apoio ao aleitamento materno do hospital, mostrar sua importância, alertar para a participação masculina e entregar o folder para aqueles que ainda não receberam. Contudo, o folder deve ser impreterivelmente entregue na admissão da mulher no hospital.
Cronograma de desenvolvimento
ATIVIDADES
PROFISSIONAIS
TEMPO
Reunião para discutir o projeto
Médicos/Enfermeiros
2 dias
Busca de patrocínio
Enfermeiro/Médicos
1 mês
Elaboração da palestra
Enfermeiro/Médicos
1 semana
Treinamento da equipe
Todos os profissionais
2h/turma (2 turmas/turno)
Entrega do folder
Recepcionista
Admissão
Reforçar o horário da palestra
Técnicos de enfermagem
Quando ver o pai
Palestra
Enfermeiro
1 hora, uma vez/dia
Avaliação da intervenção após 1 ano
Enfermeiro/Médicos
1 mês
Divulgação dos resultados
Enfermeiro
2h/turma (2 turmas/turno)
Pesquisas a longo prazo[1]
Estudantes
Indeterminado
Tempo total para implantação
–
Aproximadamente 2 meses
Medição do impacto da “intervenção”
A avaliação do projeto “Pai do Peito” será feita em três esferas: dos profissionais, dos pais e das mães através de questionários aplicados na intervenção. Após um ano da implantação do projeto esses questionários devem ser analisados.
A análise dos questionários poderá ser feita tanto em programas de bioestatísticas mais elaborados como, por exemplo, o SPSS, como no Excel, conforme a capacidade técnica de quem irá analisar e a disponibilidade desses programas no computadores do hospital.
A medição do impacto da intervenção é de extrema importância para novas reformulações do projeto.
Os resultados deverão ser divulgados para toda a equipe e novos planos de ação deverão ser estabelecidos, como metas a alcançar.
Contudo, torna-se necessário fazer pesquisas para que possa saber das conseqüências dessa intervenção ao longo prazo.
· Profissionais: médicos, enfermeiras e agentes de saúde (Pré e Pós treinamento – repetir)
1) Você acha relevante a participação do pai na amamentação: ( )sim ( )não
2) Você acha necessário oferecer outro alimento sem ser leite materno: ( )sim ( )não
3) Até que idade só deve ser oferecido leite materno para a criança:____________________
4) Até que idade a criança deve ser amamentada no peito:____________________________
5) Você acha necessário oferecer chupeta à criança: ( )sim ( )não
6) Você acha necessário oferecer mamadeira à criança: ( )sim ( )não
7) O que faz com que a mãe mantenha a produção de leite:___________________________
8) Existe leite fraco: ( )sim ( )não
9) A criança tem que ter horário para mamar: ( )sim ( )não
10) A mama muito cheia é bom ou atrapalha a amamentação: ( )sim ( )não
11) Quando a mama está cheia a mulher deve tirar um pouco o leite: ( )sim ( )não
12) Quais as vantagens para a mãe em amamentar:___________________________________
13) Quais as vantagens para o bebê em amamentar:__________________________________
· Pais (Pré e Pós palestra repetir)
1) Você acha que pode ajudar a mãe do seu filho amamentar: ( )sim ( )não
2) Você acha importante a sua ajuda: ( )sim ( )não
3) Você acha necessário oferecer outro alimento sem ser leite materno: ( )sim ( )não
4) Até que idade só deve ser oferecido leite da mãe para a criança:____________________
5) Até que idade a criança deve ser amamentada no peito:____________________________
6) Você acha necessário a oferecer chupeta à criança: ( )sim ( )não
7) Você acha necessário a oferecer mamadeira à criança: ( )sim ( )não
8) O que faz com que a mãe produza leite:___________________________
9) Existe leite fraco: ( )sim ( )não
10) A criança tem que ter horário para mamar: ( )sim ( )não
11) A mama muito cheia é bom ou atrapalha a amamentação: ( )sim ( )não
12) Quando a mama está cheia a mulher deve tirar um pouco o leite: ( )sim ( )não
· Mães (uma única vez, ao deixar o hospital)
1) Seu companheiro participou da palestra “Pai do Peito” sobre amamentação: ( )sim ( )não
2) Ele acha importante você amamentar: ( )sim ( )não
3) Ele comentou com você sobre a palestra, algo sobre amamentação: ( )sim ( )não
4) Até quanto tempo pretende amamentar:________________________________________
5) Você acha necessário oferecer outro alimento sem ser leite materno: ( )sim ( )não
6) Até que idade só deve ser oferecido leite da mãe para a criança:____________________
7) Você acha necessário oferecer chupeta à criança: ( )sim ( )não
8) Você acha necessário oferecer mamadeira à criança: ( )sim ( )não
9) A criança tem que ter horário para mamar: ( )sim ( )não
10) A mama muito cheia é bom ou atrapalha a amamentação: ( )sim ( )não
11) Quando a mama está cheia a mulher deve tirar um pouco o leite: ( )sim ( )não
Referências bibliográficas
Brito RS e Oliveira EMF. Aleitamento materno: mudanças ocorridas na vida conjugal do pai. Rev. gaúcha enferm., jun. 2006; 27(2):193-202.
Faleiros FTV, Trezza EMC, Carandina L. Aleitamento materno: fatores de influência na sua decisão e duração. Rev. Nutr., 2006; 19(5):623-630.
Macaulay AC, Hanusaik N, Beauvais JE. Breastfeeding in the Mohawk community of kahnawake: revisited and redefined. Can J Public Health 1989; 80(1):177-81.
Pontes CM, Alexandrino AC e Osorio MM. Participação do pai no processo da amamentação: vivências, conhecimentos, comportamentos e sentimentos. J. Pediatr, 2008; 84(4):357-364.
Silveira FJF, Lamounier JA. Fatores associados à duração do aleitamento materno em três municípios na região do Alto Jequitinhonha, Minas Gerais, Brasil. Cad. Saúde Pública , 2006; 22(1):69-77.
Susin LRO. Influência do pai e das avós no aleitamento materno [tese]. Porto Alegre (RS): Faculdade de Medicina, Universidade Federal do Rio Grande do Sul; 2003.
Waletzky LR. Husband’s problem with breast-feeding. Amer J Ortopsychiat 1979;49(1):349-52.
http://pt.wikipedia.org/wiki/Piracicaba#cite_note-IBGE_Pop_2008-1
http://www.fcmscsp.edu.br/ead/educasus/evento.php?eve_id=2 – 22k –
Este artigo foi apresentado como
Mini-Monografia de conclusão do
V CURSO de MANEJO AMPLIADO da AMAMENTAÇÃO
organizado pelo www.aleitamento.com
em março-abril de 2009.
[1] É necessária a articulação com as Unidades Saúde da Família.