PAIS envolvidos com o Aleitamento – uma experiência nos EUA
Ana Laura Grazziotin*
Gostaria de compartilhar com vocês algumas fotos e a experiência de um evento que eu participei aqui em Washington D.C. sobre aleitamento materno.
A seção mais interessante do evento foi uma mesa redonda composta apenas por homens, sendo 2 profissionais da saúde e 2 pais, sobre a iniciativa de promover a amamentação entre os homens.
Os dois profissionais da saúde apresentaram a iniciativa deles em abrir uma clínica participante do programa WIC (Women, Infants and Children) do Departamento de Saúde americano (equivalente ao nosso Ministério da Saúde) apenas para homens.
A clínica tem uma equipe de profissionais de saúde composta por homens para atender homens. Inicialmente, descrevendo a clínica desta forma, poderia parecer um tanto sexista, mas quando você escuta o depoimento dos pais que foram atendidos na clínica (levando em consideração a cultura norte americana – diferente da nossa brasileira), eu entendi o ponto de vista dos pais.
Infelizmente, a cultura americana é extremamente preconceituosa com o aleitamento materno, principalmente em público. Normalmente não vemos mães amamentando ou quando o fazem em ambientes públicos, elas estão completamente cobertas com os filhos sendo amamentados em baixo de lenços escuros para que ninguém possa ver o ato (obsceno) de mostrar a mama ao amamentar. Esconder o seio ao amamentar é algo enraizado na cultura dos americanos e incentivado pelos maridos, familiares e sociedade.
Aqui nos EUA, os consultórios de aleitamento materno não são organizados como no Brasil e não tenho visto campanhas nacionais de promoção ao aleitamento materno. Mesmo a semana mundial de aleitamento materno foi pouco divulgada por aqui.
A ideia da clínica então, é divulgar e promover o aleitamento materno para os recém-pais e inclusive, tentar diminuir o preconceito sobre amamentar em público. Os profissionais explicam aos pais os benefícios do leite materno e a importância de alimentar o recém-nascido no momento em que ele estiver com fome, seja esse momento, no supermercado, na fila do banco ou dentro do carro.
Além disso, a clínica oferece cursos aos pais, de forma que eles percam o medo de pegar/manusear o bebê e aprendam como trocar fraudas, fazer massagens, dar banho, entre outros e possam auxiliar a mãe/esposa nas tarefas diárias com o bebê. Assim, o cuidar do recém-nascido deixa de ser uma tarefa com o rótulo de dever da mãe, para passar a ser um exercício de parceria em família (mãe, pai e bebê).
Depoimentos de homens
A parte que mais me emocionou foi o depoimento dos pais.
Primeiro, os dois agradeceram a existência da clínica e a oportunidade que tiveram de aprendizado com os profissionais de saúde.
Um dos pais comentou que a clínica, as palestras sobre aleitamento e os cursos, foram muito importantes porque com o conhecimento que ele adquiriu, ele pôde sentir que tinha participação ativa e constante no dia a dia do filho, nos cuidados, no auxílio à esposa. Esse pai comentou que ele queria estabelecer o mesmo vínculo com o bebê que ele via o bebê ter com a mãe. Com o auxílio da clínica, ele entendeu que ele, como pai (e sem mamas), ele não teria como estabelecer exatamente o mesmo tipo de vínculo mãe-bebê durante o processo de amamentação, mas que ele podia conectar-se com o bebê e estabelecer um vínculo forte de outras maneiras: cuidando, se fazendo presente enquanto a mãe amamenta e olhando seu filho nos olhos (como a mãe faz), auxiliando sempre que possível e fazendo o contato pele a pele com o bebê. Isso o fez se sentir realizado como pai.
No outro depoimento, o pai comentou que para ele foi importante existir uma clínica em que ele pudesse aprender sobre aleitamento materno com outros homens. Para ele, era mais fácil conversar com outro homem para tirar suas dúvidas. Além disso, o fato de ele estar se aconselhando com o profissional de saúde do sexo masculino ou outro pai mais experiente, o deixava confortável e o fazia sentir incentivado por outros homens que também participam da mesma experiência. Ele comentou que com as palestras, ele entendeu quão importante são os benefícios do leite materno e que não poderia deixar seu filho passar fome devido ao preconceito coletivo de mostrar o seio. E que depois dos cursos na clínica, agora, quando ele saía com sua esposa e seu filho, se o bebê estivesse com fome, ele incentivava a sua esposa a amamentar em público sem constrangimento. Afinal, o filho dele e sua saúde, vem em primeiro lugar! – ele disse.
Eu fico feliz em saber que podemos ter essa forma de iniciativa no Brasil também. E espero que compartilhando a informação desse evento eu possa contribuir um pouquinho com a iniciativa do portal aleitamento.com de ter um espaço só para os homens – Cuidado Paterno.
Acima algumas fotos do evento WIC Breastfeeding.
*Ana Laura Grazziotin
MSc. Biologia Celular e Molecular, UFPR
Doutoranda em Biociências e Biotecnologia, UENF
Voluntária no National Institutes of Health, Bethesda, EUA