Orientação domiciliar aumenta tempo de amamentação exclusiva
Foi publicado nesta semana no periódico The Lancet um artigo sobre pesquisa realizada no Brasil a respeito de uma intervenção de sucesso no estímulo à amamentação exclusiva: as visitas de orientação na casa da paciente que deu à luz. O trabalho, realizado em Pernambuco, usou 10 visitas domiciliares pós-parto, realizadas por obstetrizes, enfermeiras ou agentes de saúde, que receberam treinamento específico para preparar as mães para amamentarem seus filhos exclusivamente no peito por seis meses, como recomenda a Organização Mundial de Saúde. Na região, a taxa de aleitamento materno exclusivo até os seis meses de idade era zero antes da intervenção e a mortalidade infantil chegava a 76,5/1000 nascidos vivos. Mais da metade das famílias estudadas viviam com menos de meio salário-mínimo por indivíduo por mês (abaixo da linha da pobreza). Ainda assim, a taxa de aleitamento materno exclusivo durante a estada no hospital (primeiro ou segundo dias após o parto) subiu de 21% para 70% após a intervenção e mesmo seis meses depois continuou muito mais alta do que a verificada entre mulheres não visitadas. O trabalho consistiu em analisar as condições do aleitamento materno e das práticas para sua proteção em três hospitais da região de Palmares e três cidades vizinhas.
O quadro era de baixíssimo aleitamento materno exclusivo no pós-parto e nenhum quando a criança chegava aos seis meses. A organização do estudo ofereceu um programa de treinamento baseado em dois cursos elaborados pelo Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância) a respeito de técnicas de amamentação e sobre como estimular a prática levando em consideração as percepções das mães às enfermeiras, obstetrizes, médicos e agentes de saúde contratados para o trabalho, e dividiu uma amostra de 364 puérperas em dois grupos: aquele grupo de mulheres que seriam atendidas pelo programa apenas no hospital e o outro, que receberia 10 visitas em casa com orientações individualizadas sobre aleitamento no peito.
As práticas de estímulo à amamentação eram escassas antes do início do estudo. Nenhum dos hospitais promovia o aleitamento, o contato pele-a-pele após o parto, o alojamento conjunto ou o parto no quarto. Não havia proibição, como prega o Unicef, a mamadeiras e chupetas. O trabalho começou com a adoção das condutas que o Unicef considera importantes para o sucesso da amamentação exclusiva * , e que incluem desde o treinamento da equipe até a exclusão de outros alimentos e líquidos, que não o leite humano, da dieta do bebê. A divisão das mães da amostra em dois grupos fez com que parte delas recebesse a orientação, em grupo ou individualizada, enquanto estivessem no hospital, porém sem acompanhamento domiciliar. “Existem poucos estudos que avaliam se o benefício da orientação dada no hospital é sustentado em casa”, comentam os autores. De fato, entre as mães que não receberam orientação domiciliar, a taxa de aleitamento materno exclusivo aos 10 dias de vida do bebê caía dos 70% observados no hospital para 30% das crianças e, aos 30 dias de vida, para apenas 15%. Neste grupo, mães com mais anos de educação (p < 0,01) e com melhores condições econômicas (p < 0,02) tenderam a manter por mais tempo a amamentação exclusiva.
O outro grupo, que recebeu visitas domiciliares até os seis meses de idade da criança, mais freqüentes nos primeiros meses, apresentou taxas muito maiores de aleitamento materno exclusivo que as mães que não receberam visitas (p < 0,0001), com mais de 70% das mães amamentando aos 10 dias de idade da criança. Aos 30 dias, mais de 60% das mães davam apenas o seu próprio leite aos filhos. “Atendimento domiciliar é especialmente importante em países onde as mães permanecem no hospital por pouco tempo.” Na região estudada, as mães ficavam, em média, um dia no hospital após o parto normal e dois dias após a cesariana.
Referência(s)
Coutinho SB, Lira PIC, Lima MC, Ashworth A. Comparison of the effect of two systems for the promotion of exclusive breastfeeding. Lancet 2005; 366: 1094-100
* UNICEF – Os 10 passos para o sucesso do aleitamento materno. Leia na seção Coleção Amiga – Profissionais em www.aleitamento.com