Mulheres fazem mamaço
pelo direito de AMAMENTAR
Antropóloga foi impedida de amamentar em espaço de exposição em março.
Mães debateram o caso na internet e organizaram o encontro nesta quinta.
Glauco Araújo Do G1, em São Paulo
Um grupo de mães se mobilizou por meio de redes sociais na internet para realizar um mamaço no Itaú Cultural da Avenida Paulista, na tarde desta quinta-feira (12). A motivação do encontro surgiu após a antropóloga Marina Barão, 29 anos, ser proibida de amamentar um dos dois filhos [Francisco, 3 meses, e Antonio, 2 anos] em uma exposição de arte no espaço cultural, em março deste ano. A funcionária disse que era norma da instituição não permitir que pessoas se alimentassem no espaço. O evento reuniu cerca de 30 mães e seus filhos lactentes.
O caso foi parar em uma lista de discussão na internet. De imediato, o diretor do espaço cultural, Eduardo Saron, pediu desculpas públicas em uma rede social e ofereceu o mesmo local de onde a mãe tinha sido impedida de amamentar o filho para debater o tema. “Sou pai de um menino de 8 meses, o Gabriel. Cheguei a minha casa e quase apanhei da minha mulher quando soube do ocorrido. Isso abriu um debate em minha casa e serviu de aprendizado para o espaço cultural também. Mudamos nossa política de atendimento ao público e abriremos espaços destinados paras as mães.”
A antropóloga disse que a forma como o problema se tornou uma inspiração para debater e difundir a amamentação deve se espalhar por outros centros culturais. “Quero que isso reverbere para outros lugares e espaços específicos para implemento da cultura. Temos carência de lugares com trocadores, com espaço para acomodar nós mães”, disse Marina.
Saron disse que assumiu a culpa pela forma como a funcionária orientou a mãe no espaço da exposição. “A culpa é nossa. A funcionária não foi bem instruída para aquele tipo de abordagem. Há normas de museologia que impedem a alimentação em locais de exposição, mas há uma grande diferença entre alimentação e amamentação. Mudamos a norma para evitar interpretações equivocadas.”
Apesar de não ter aceitado com naturalidade o impedimento de amamentar o filho, a antropóloga afirmou que a funcionária agiu com delicadeza. “Ela foi muito gentil. Ela mesma ficou sem graça e me pediu desculpas por aquela situação”, disse Marina.
A estilista Paula Linadi, 35 anos, participou do mamaço nesta quinta-feira com seu filho Noah, 3 meses. “A amamentação, antes de ser apenas uma alimentação, é uma forma de aumentar o vínculo entre mãe e filho. Quem se incomodar, o problema não é meu”. Ela disse que amamentou o primeiro filho, Ian, 4 anos, até os 12 primeiros meses. “Não me arrependo.”
A mãe precisa ser preparada para alimentar os filhos e saber que são capazes de fazer isso.
Somos mamíferos e nada mais natural que mamemos”
Felícia Pilli, 26 anos, artista plástica
A empresária Carol Queiroz, 33 anos, disse que a discussão sobre o problema vivido por Marina no espaço cultural teve um lado positivo, porque ambas as partes se uniram em prol de uma mesma ideia. “O mais importante de tudo isso é que as pessoas aprendam que a amamentação não deve se tornar um tabu e que as crianças não vejam isso como um problema. É uma hipocrisia, um absurdo não poder amamentar seu filho em espaço público.”
Mãe de Leon, 10 meses, e Tom, 5 anos, a empresária disse que não vai medir esforços e nem controlar o tempo que seu filho mais novo irá amamentar. “O meu primeiro filho amamentou até os 3 anos. O Leon não terá impedido de tempo para se alimentar.”
A artista plástica Felícia Pilli, 26 anos, tratou de registrar o encontro com sua máquina fotográfica, enquanto dividia os ombros com o equipamento e sua filha Maria Valentina, de 1 ano e 2 meses, que ainda amamenta. “É natural. Há muita divulgação de alimentação artificial, de leite em pó. A mãe precisa ser preparada para alimentar os filhos e saber que são capazes de fazer isso. Somos mamíferos e nada mais natural que mamemos.”
Ana Cristina Duarte, representante do Grupo de Apoio a Amamentação Ativa (Gama), participou da organização do evento. “Queremos reforçar o papel de mãe que amamenta. Queremos debater o assunto e mostrar que a amamentação deve ser respeitada e apoiada.”
“Somos mães que amamentam. Nosso papel é de acolhimento a quem quer amamentar e de auxiliar as mulheres que querem e podem amamentar”, disse Flávia Gontijo, apoiadora do grupo.
Algumas das fotos de Glauco Araújo/G1:
Paula Linadi, 35 anos, alimenta o filho Noah, 3 meses durante evento em espaço cultural
Roberta Martinho, 36 anos, e sua filha Pietra, 3 meses
Patrícia Boudaquian, 29 anos, e sua filha Alice, 2 meses (esq.); e Felícia Pilli, 26 anos, com Maria Valentina, de 1 anos e 2 meses
Carol Queiroz, 33 anos, amamenta o filho Leon, 10 meses, durante encontro de mães
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