Gabrielle Gimenez* @gabicbs
Recebi essa semana na caixinha de perguntas a seguinte dúvida: “tenho um recém-nascido de 15 dias, sempre que vejo tenho leite, mas não senti meu peito cheio ou vazio em nenhum momento”. Pensei que seria uma boa ideia trazer à pauta para esclarecimento um tema que gera angústia em muitas mulheres.
A amamentação na nossa cultura está cercada de desinformação, mitos e crenças, nem sempre corretas, que arrastamos de gerações passadas. O problema é que eles terminam produzindo aflição e influenciando negativamente o comportamento de quem está amamentando em 2024.
Uma das preocupações que as mulheres carregam tem a ver com o volume de leite presente nas mamas. Mas afinal, peito sempre cheio é um indicativo de sucesso na amamentação? Ou, o peito fica realmente vazio em algum momento?
Entendendo o mecanismo da produção de leite
O volume de leite produzido pela mãe muda com o passar do tempo, pois vai se adequando às necessidades do bebê. A sensação de mamas super cheias, que muitas experimentam na apojadura, não dura para sempre e por boas razões.
No entanto, para que a regulação da produção ocorra de modo adequado, a amamentação deve acontecer em livre-demanda. Isso quer dizer, sempre que o bebê solicitar ou quando a mãe achar necessário, a chamada livre oferta, bastante útil nas primeiras semanas de vida.
Muitas mães se preocupam com as mamadas frequentes do bebê, porque acreditam que o peito pode ficar vazio e vir a faltar leite. Ou pensam que é preciso dar um grande intervalo entre as mamadas para dar tempo de o peito encher novamente. A situação se agrava quando a informação transmitida pelos profissionais da saúde que as acompanham não afugenta esses medos infundados.
Ou, ainda pior, quando parte do profissional a indicação de estabelecimento de horários rígidos para as mamadas (o clássico de 3 em 3 horas), uso de chupeta para acalmar o bebê fora do peito, oferta de fórmula na mamadeira para a mãe descansar, entre outros. Tais práticas não são recomendadas, pois elas enviam uma mensagem incorreta ao organismo da mãe, que provoca a redução da sua produção total diária de leite, deixando-a aquém das necessidades do bebê.
Peito cheio x peito vazio na equação láctea
É muito importante que as famílias entendam que o corpo tem a capacidade de produzir leite o tempo todo, mas é a quantidade de leite “estacionada” na mama, por assim dizer, quem determina a velocidade com que esse leite será produzido. Se as mamas não são constantemente drenadas (seja pela sucção do bebê ou por extração mecânica) o Fator Inibidor da Lactação (ou FIL, uma proteína produzida pelas células produtoras de leite) manda uma mensagem para que o corpo desacelere a produção.
O peito cheio também prejudica a ação dos receptores de prolactina (hormônio responsável pela produção de leite) presentes nas células produtoras dos alvéolos. E diminui a quantidade de gordura no leite, já que dificulta a sua extração.
Por outro lado, convém esclarecer que o peito nunca fica totalmente vazio, pois a produção é constante na presença de estímulo. Portanto, não há motivo para controlar a duração da mamada nem problema algum em oferecer ou alternar os dois peitos na mesma mamada. O importante é garantir que a sucção esteja promovendo uma transferência efetiva de leite ao bebê, independentemente do tempo passado no peito.
No balanço entre peito cheio e peito vazio, que agora sabemos que não é vazio de forma literal, é bem mais proveitoso para a produção de leite adequada que o peito se encontre mais “vazio” do que cheio. O que nos indica que o bebê está vindo ao peito com frequência e eficácia e que o leite está onde deve: na sua barriguinha, nutrindo o seu corpo e não acumulado no peito de sua mãe com os riscos de intercorrências que isso acarreta.
*Gabrielle é puericultora, mãe de três, editora especial do portal aleitamento.com e autora do livro “Leite Fraco? – Guia prático para uma amamentação sem mitos”.