Livre Demanda (3): Até quando?
Gabrielle Gimenez*
Uma dúvida que pode deixar muitas mulheres preocupadas ou reticentes em relação à amamentação: será que a livre demanda precisa durar para sempre?
Muitos pensam que a amamentação é feita de extremos e que as únicas opções existentes são a livre demanda ou o desmame. Mas não é bem assim. A amamentação é um processo dinâmico que se transforma à medida que o bebê cresce. Outro fator de influência é a disponibilidade da mãe ao longo do tempo.
A livre demanda é fundamental para a amamentação, em especial nos primeiros meses, quando a produção está em fase de ajustes. Infelizmente, pelas nossas leis trabalhistas, para muitas mulheres a livre demanda terminará antes do período recomendado de aleitamento materno exclusivo. Entra em cena a rotina de extração, e a livre demanda se transforma em oferta responsiva por parte do cuidador, e amamentação compensatória em ciclo reverso pela mãe, quando está junto do bebê, o que inclui o período da noite.
O leite materno continua sendo o principal alimento do bebê ao longo do primeiro ano de vida. A introdução de alimentos no momento oportuno (após os seis meses e diante dos sinais de prontidão do bebê) complementa a amamentação, mas não a substitui. Durante esse período não deveríamos intervir ou restringir a demanda.
Após o primeiro ano e se o bebê já se alimenta bem, a livre demanda deixa de ser indispensável do ponto de vista nutricional. O que não significa que precisa ser abolida. Se for o desejo da mãe, não há nenhum prejuízo na sua continuidade. Lembrando que a amamentação provê muito mais que alimento e nutrição para o corpo. Os fatores imunológicos e emocionais são igualmente importantes e, assim como os nutricionais, acompanham a amamentação pelo tempo que ela durar, sem perder suas propriedades.
A demanda se limita naturalmente com as mudanças na rotina, a separação entre mãe e bebê, a alimentação variada, os novos interesses, o diálogo, as brincadeiras, a diminuição da necessidade de sucção, a consolidação do sono, etc. É parte do processo natural de desmame. No entanto, algumas mães podem decidir acelerar o processo, por diferentes motivos. E tudo bem. A livre demanda não precisa durar para sempre.
As estratégias a serem utilizadas para limitar a demanda dependerão muito da idade, maturidade, necessidades, personalidade e grau de compreensão da criança. Existindo a possibilidade de diálogo entre as partes, os combinados podem ser incluídos na rotina. Diante da solicitação do peito, a mãe pode sugerir sua troca por água, fruta, colo ou uma brincadeira. Em caso de resistência, convém que a mãe se antecipe e ofereça uma alternativa ao peito antes mesmo de que seja solicitado. Com crianças mais velhas, é possível combinar a espera da mamada para um momento posterior, ou estabelecer um único lugar para que a amamentação aconteça, que passa a ser o “cantinho do tetê” ou “do mamá”.
A restrição da livre demanda após o primeiro ou segundo ano de vida ajuda a mãe com pouca disponibilidade a estender a amamentação no tempo, sendo uma alternativa ao desmame total, precoce ou abrupto.
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Livre Demanda (1): Por quê? Como?
*Gabrielle @gabicbs é Puericultora, mãe de três, editora convidada do portal aleitamento.com e autora do livro “Leite Fraco? – Guia prático para uma amamentação sem mitos“.