Leite Materno de mães com sobre peso
previne a obesidade infantil, diz estudo
Pesquisadores brasileiros concluíram que o colostro dessas mulheres é rico em hormônio capaz de proteger a criança contra o excesso de peso
A ciência já conhece bem dos benefícios da amamentação para a vida do bebê na primeira infância e até na vida adulta. Entre as vantagens de consumir o leite materno está uma menor propensão à obesidade. Uma pesquisa da OMS, divulgada em abril deste ano, aponta que o aleitamento exclusivo nos seis primeiros meses de vida reduz em até 25% o risco de a criança ficar acima do peso considerado saudável.
Um estudo brasileiro traz novas evidências da proteção antiobesidade oferecida pelo primeiro alimento que consumimos. Segundo o trabalho – conduzido por pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP), do Centro Universitário Saúde ABC e da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) –, o leite de mulheres obesas traz propriedades que ajudam a criança a manter um peso saudável na infância.
Para realizar a investigação, os cientistas coletaram amostras de colostro, líquido produzido pelas mães nos primeiros dias pós-parto, de 109 mulheres, entre 48 e 72 horas após elas terem dado à luz. Entre as participantes, 61 delas estavam com excesso de peso.
Os especialistas testaram as amostras de colostro, colocando nelas quantidades específicas de três hormônios que já são encontrados naturalmente no leite materno: adiponectina, leptina e melatonina. Isso foi feito para verificar quais propriedades o leite apresentava dependendo quanto de cada hormônio que continha.
Para separar as populações de células presentes, os pesquisadores colocaram as amostras em uma centrífuga e usaram um reagente conhecido como Ficoll-Paque. Com isso, foi possível analisar as células de defesa, conhecidas como fagócitos, na ausência e na presença de cada hormônio.
À GALILEU, a pesquisadora Tassiane Cristina Morais, que participou do estudo, conta que os três hormônios testados restauraram a atividade das células de defesa do colostro das mulheres que estavam obesas.
Mas o que chamou atenção na pesquisa foi a melatonina, que se encontrou em nível mais elevado do que os outros. Esse hormônio é reconhecido por regular, entre outras coisas, a saciedade, o que ajuda a evitar o excesso de peso – inclusive entre os bebês.
“A concentração de melatonina varia muito conforme a região que a pessoa mora, principalmente de acordo com a quantidade da luz [a que a mulher está exposta]”, explica Morais, que trabalha no Laboratório de Cronoimunomodulação e de Imunologia da Relação Materno-Infantil, da UFMT. A pesquisadora explica que a composição do leite materno muda ao longo do dia: quando está claro, há mais melatonina no colostro; à noite, os níveis diminuem.
Entender essa variação pode ser importante para os bancos de leite atenderem melhor as mães que não podem amamentar. Os bancos podem passar a se atentar, por exemplo, a informações sobre se a mulher está ou não com sobrepeso e se o colostro foi retirado de noite ou de dia. “Ao padronizar o banco de leite, podemos usar uma estratégia diferente e levar em consideração os horários da coleta”, afirma Morais.
Apesar do colostro ser muito rico no hormônio que previne a obesidade nas mães com sobrepeso, é importante reforçar: o excesso de peso na gravidez está por trás de problemas como diabetes gestacional, trombose e disfunções da tireoide.
Com supervisão de Luiza Monteiro para a Revista GALILEU
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