Crítica:
O Estranho em Mim
Depressão Pós-Parto – O Filme
Érico Borgo
O Estranho em Mim
Das fremde in mir
Alemanha , 2008 – 99 min.
Drama
Direção:
Emily Atef
Roteiro:
Emily Atef
Elenco:
Susanne Wolff, Johann von Buelow, Maren Kroymann, Hans Diehl, Judith Engel, Dörte Lyssewski
Grande vencedor da Competição de Novos Diretores da 32ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, O Estranho em Mim (Das Fremde in Mir, 2008), da cineasta alemã Emily Atef, trata do distúrbio comum da depressão pós-parto, que atinge parte das mulheres que tiveram recém-nascidos.
A primeira metade do drama acompanha Rebecca (Susanne Wolff), que espera a chegada de seu primeiro filho. O menino nasce saudável, mas a mãe logo se vê com sentimentos conflitantes em relação à (sua) nova vida. O que parece a princípio um desinteresse pelas obrigações maternas evolui rapidamente para um perigo à criança: Rebecca o esquece na rua, flerta com a ideia de deixá-lo no fundo da banheirinha… A ojeriza pelo marido também não tarda.
Diagnosticada depois de um ataque de nervos, Rebecca é internada – e o foco do filme passa às reações da família e sociedade à inadmissível ideia de uma mulher que rejeita o rebento. Dessa forma, a diretora faz uma denúncia sobre o problema e mostra o preconceito pela condição, mesmo depois do tratamento.
Atef conduz com competência a passagem da gravidez e pós-parto ao abandono do lar pela mãe. O público acompanha o segredo de Rebecca e, ao mesmo tempo, a ausência emocional do marido – incapaz de perceber o problema. A segunda metade, em que é retratado o lento processo de cura, é igualmente satisfatória, dando também ao homem a chance de redenção.
Mas não deixa de ser paradoxal que um filme como O Estranho em Mim jamais atinja seu objetivo. Com esmerada cinematografia, tempo cadenciado e sem apelar ao melodrama, a produção ficará restrita ao público que frequenta as salas de arte, normalmente conhecedor do problema. No Brasil, um alerta como esses só funciona mesmo na novela, quando a cena da banheirinha certamente pararia o país e ecoaria indignação no outro dia. Em duas salas de cinema, para poucos, não fará sequer marola. O acesso ao Prozac e Fluoxetina continua onde sempre esteve. Enquanto isso, bebês são jogados no lixo às margens da sociedade.
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