Agosto Dourado: webinar discutiu
Aleitamento & Meio ambiente
Evento contou com conferencistas de várias áreas do conhecimento: geógrafa, pesquisadora, escritora, pediatra, sanitarista, designer e nutricionista. As conferências abordaram: causas e consequências do aquecimento global, amamentar como um ato ecológico, o ‘Desdesign’ da mamadeira, aleitamento sustentável e o vegetarianismo, o apoio à mulher, a Semana Mundial proposta pela WABA, a OMS, a situação do Código e da NBCAL…
Em razão da pandemia de Coronavírus, a Semana Mundial de Aleitamento Materno teve um seminário preparatório diferenciado este ano, o evento foi transmitido em versão Webinar (online), realizado principalmente neste sábado (25), com duas pré-conferências nas noites do dia 23 e 24 de julho, com mais de 12 horas de duração, organizado pelo portal aleitamento.com.
A temática do evento se concentrou no impacto da alimentação infantil, nas mudanças climáticas, e na necessidade urgente de apoiar as mulheres que amamentam, proporcionando melhores condições de saúde para todos os seres vivos do planeta.
Aleitamento sustentável: escolhas que geram saúde para o bebê, a mãe e a Terra
A primeira convidada foi a Geógrafa e Permacultora Andrea Zimmermann, que também é Diretora da Matres Socioambiental. Ela deu uma aula de sustentabilidade, objetivando ações/atividades humanas que visam suprir as necessidades do presente, sem comprometer as gerações futuras. Andrea destacou que é essencial saber de onde vem nosso alimento, pois muitas vezes, o uso de agrotóxicos na agricultura convencional, é feito em quantidade maior que o recomendado como seguro para a saúde. Enfatizou a importância do consumo de alimentos orgânicos, cultivados livres de componentes químicos, como agrotóxicos, antibióticos e fertilizantes, não oferecendo resíduos desses compostos ao nosso organismo.
A Ambientalista também é produtora orgânica, e faz parte da rede CSA (Comunidade que Sustenta a Agricultura); trata-se de um sistema que conecta mais estreitamente o produtor e os consumidores no sistema alimentar, permitindo que o consumidor assine a colheita de uma determinada fazenda ou grupo de fazendas.
Quem tiver interesse em saber mais sobre incentivo às práticas sustentáveis no dia a dia, Andrea deixa os sites http://www.csabrasil.org/csa/ e http://matres.com.br/pt/ para conhecer ou participar de um curso.
Amamentar é um Ato Ecológico
A segunda pré conferência foi ministrada pelo Prof. Marcus Renato de Carvalho, Sanitarista, Curador do Seminário aconteceu na sexta feira (24), convidando todas a entrarmos em um túnel do tempo, indo para o ano de 1992 quando coordenou a campanha chamando atenção das relações entre o Aleitamento e o meio ambiente na Rio 92. E depois, avançou mais 5 anos, chegando em 1997, quando o tema da Semana Mundial de Aleitamento também foi a questão do meio ambiente, evidenciando que o Leite Materno é um recurso natural renovável que deve ser preservado como um bem da humanidade. E por outro lado, denunciando o impacto ecológico da alimentação por fórmulas infantis, que são alimentos ultraprocessados, que poluem o meio ambiente na sua produção, transporte e consumo…
Vegetarianismo e veganismo na infância: escolhas saudáveis para o planeta e para a criança?
A primeira palestra apresentada na manhã de sábado (25), foi sobre a relação entre o que escolhemos como alimento e suas repercussões sobre a saúde infantil a preservação da natureza, ministrada pela Nutricionista e Mestre em Bioquímica, Rachel Francischi. Ela destacou que o consumo de alimentos de origem animal não é o único responsável pela crise ambiental no mundo, mas já está mais do que provado que sua contribuição é importante e não pode ser ignorada. Por isso, alertou sobre a necessidade de reduzir a carne e seus derivados da dieta diária, no Brasil e no mundo.
Raquel também fez uma ligação do meio ambiente com a aleitamento, e mostrou como fazer uma dieta vegana, mantendo os nutrientes necessários. Alertou sobre a importância do Ferro, e sua suplementação, principalmente na infância, e enfatiza o leite humano, como o único alimento insubstituível que nós temos com baixos níveis de agrotóxicos se comparado ao leite de vaca/fórmulas infantis.
A naturalização de produtos industriais pela cultura do consumo
A Doutora em Design pela PUC-Rio Cristine Nogueira, deu seguimento as apresentações, trazendo o tema de como nos seduzem para comprar determinados produtos e como eles se tornam símbolos da infância. Ela nos transportou até a Revolução Industrial, mostrando a cadeia da cultura do consumo do leite artificial, a produção das embalagens nas fábricas, as publicidades para venda do produto, e o triste desfecho do lixo nos aterros sanitários. Cristine esclarece que quando se fala de alimentação artificial, tudo isso está relacionado.
Grande parte da população desconhece as consequências nocivas do uso de mamadeiras, bicos, e chupetas, e entrando nesse tema, a Designer faz uma linha do tempo, exibindo a história das mamadeiras, e seus designers com o passar dos anos. Cristine mostra que esse hábito cultural, pode levar a doenças causadas por bactérias, diminuição do estímulo do mamilo e da retirada do leite, podendo até reduzir a produção do aleitamento materno.
Apoio à amamentação ou à Mulher, para um planeta Saudável?
Gabrielle Gimenez, ativista pela amamentação, mãe de 3 filhos, foi a terceira convidada do Seminário. A escritora informa que vivemos em uma cultura onde o saber sobre o aleitamento foi perdido, e que precisa ser resgatado. Que o vínculo da amamentação como forma de relacionamento, não é levado em conta. Deixou de ser habitual, ganhando um caráter de anormalidade e exceção, considerada apenas uma forma de alimentar a criança. Essa perda de cultura da amamentação, torna as mulheres vulneráveis e dependentes do conhecimento técnico dos profissionais que as assistem. O sistema, as indústrias de alimentos infantis, mamadeiras e outras bugigangas e a sociedade se tornaram os verdadeiros inimigos da amamentação.
Ela também mostra que intercorrências como pressão familiar e má assistência, estão entre os principais obstáculos enfrentados na cultura do desmame em que vivemos.
Gabriele admite que a sociedade precisa cobrar mais resultados de políticas públicas, e que seria bem significativo termos um ensino sobre a fisiologia da amamentação em todos os níveis da sociedade, principalmente como parte do aprendizado na infância.
O que a WABA e o Ministério da Saúde propõem para a SMAM desse ano?
Com um olhar mais técnico, o Pediatra e membro do Departamento Científico de Aleitamento Materno da Sociedade Brasileira de Pediatria, Moises Chencinski contribuiu traduzindo o pôster da WABA (Aliança Mundial para Ação em Aleitamento Materno) desse ano, e elaborando o tema ‘Apoie o Aleitamento Materno por um Planeta Saudável’, e expôs como foi difícil trazer esse tema como novidade, pois tudo isso, já vem sendo proposto nos últimos anos e pouca coisa mudou.
O Moises também apontou como leitura essencial, o relatório com 10 itens da IBFAN (Rede Internacional em Defesa do Direito de Amamentar), sobre Amamentação e Alimentação Complementar Saudável: Direitos Humanos a Serem Protegidos Para a Vida, disponível no Slideshare do Prof. Marcus Renato de Carvalho: https://www.slideshare.net/Marcusrenato/xv-enam-v-enac-3rd-wbc-1st-wcfc-anais-2019
O Pediatra finalizou sua apresentação com a trilha sonora “O Chorinho do Bebê”, com uma letra de sua autoria, emocionando a todos os presentes. Disponível no canal do Doutor: youtube.com/doutormoises.
A OMS, o Código, as indústrias… mais lucros ou mais saúde?
O seminário foi concluído com a apresentação da Médica, Mestre e Doutora, Consultora do Ministério da Saúde, e membro do conselho global da IBFAN e WABA, Marina Rea. Ela falou sobre a proteção do aleitamento materno no Brasil e no mundo, e explicou que a proteção se faz através de Leis, Normas, Políticas etc. Esclarece também que conhecendo o Código, e os pontos fundamentais das 19 Resoluções da Assembleia Mundial da Saúde e a NBCAL (versão brasileira do código da OMS), conseguimos proteger o aleitamento contra o marketing não ético e abusivo dos que ganham com sua substituição.
Marina mostrou indicadores dos últimos anos, e comprovou como é baixa as taxas mundiais do aleitamento materno de crianças pequenas. Também fez uma transição rápida neste século, sobre práticas naturais e alimentação das crianças, e conclui que a indústria dos substitutos do leite materno, é enorme e continua em expansão. Em 5 anos, quase dobrou as vendas de compostos lácteos.
Além da indústria de fórmulas, e pesquisas subsidiadas por corporações ligadas a ela, a Doutora mostra muita preocupação com o conflito de interesses. O uso das instituições de saúde para comercializar produtos, parcerias público-privadas, envolvimento de programas alimentares, e de políticas de governo.
Marina encerrou o dia de apresentações indicando a todos o “Tigers” (2014), um filme baseado na história de um vendedor de fórmulas infantis que, ao descobrir as consequências da substituição da amamentação materna pela alimentação artificial, decide denunciar e lutar contra o marketing abusivo das grandes companhias multinacionais.
Após a conclusão de todas as apresentações, e com mediação do Prof. Marcus Renato, os palestrantes responderam perguntas feitas e selecionadas através do chat.
Houve também sorteio de 2 livros: uma versão e-book da 4ª. edição do “Amamentação – bases científicas” doado pela Editora GEN e do livro “Desdesign da Mamadeira” doado pela conferencista-autora, Cristine Nunes. As ganhadoras foram a Cirurgiã-Dentista Maria Terezinha Covolan do Banco de Leite Humano de Bauru, SP; e a Nutricionista Fabiana Galeno Teixeira da cidade de Imperatriz, MA.
Participantes
Dos 257 inscritas, a grande maioria foram mulheres, profissionais de saúde de variada formação: enfermeiras, pediatras, odontopediatras, nutricionistas, psicólogas, fonoaudiólogas, consultoras de amamentação, estudantes de graduação e pós-graduação, agentes de saúde de dezenas de cidades de todo o país – todos os estados estavam representados. E tivemos participantes de outros países: Uruguai, Argentina, Peru, Portugal e Canadá.
O que vocês estão programando para comemorar a SMAM 2020?
A última seção do Seminário foi dedicada a divulgação das centenas de eventos que ocorrerão no mês da amamentação: foi apresentado slides de várias cidades, instituições, ongs, ativistas sobre o que farão durante o agosto dourado.
O Curador do evento, ao final, agradeceu a todas as inscritas que possibilitaram a realização do Seminário sem conflito de interesses, as conferencistas, à FW2 Agência Digital que realizou a coordenação tecnológica/operacional, dedicou o Seminário aos milhares de profissionais de saúde que estão arriscando suas vidas no enfrentamento da pandemia da Covid-19.
Solidariedade
Esclareceu ainda que parte dos recursos arrecadados serão depositados na conta do FOIRN – Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro @FOIRN Mulheres Indígenas unidas contra a Covid-19, representada no evento pela índia Elizangela da Silva Baré de São Gabriel da Cachoeira no Amazonas.
As conferências completas encontram-se disponível para as inscritas na Área Restrita do www.agostodourado.com e ficará disponível até 31 de julho.
Estávamos (geograficamente) distantes, mas nos sentimos junt@s!
Agradecemos a jornalista Ana Luisa Vieira que participou do evento e é coautora desse relato.