ALEITAMENTO: Só uma Semana NÃO BASTA!
O pediatra e docente da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Marcus Renato de Carvalho, é conhecido no meio médico como um grande ativista em prol da amamentação desde quando ainda era estudante de medicina. É reconhecido no meio científico por sua atuação nas linhas de frente que definem a política de aleitamento materno do país. “A sociedade deveria reconhecer a gestação, o parto e a amamentação como um trabalho da mulher para a sociedade”, costuma afirmar.
Marcus Renato foi o coorganizador dos livros “Amamentação – Bases Científicas”, já em terceira edição (Editora Gen) e “Da Gravidez à Amamentação” (Integrare Editora). Entre outros títulos, detém o de especialista em amamentação pelo International Board Certified Lactation Consultant. Edita o site www.aleitamento.com e é coordenador de conteúdo do aplicativo gratuito para iPhone, “Aleitamento”.
Na Semana Mundial de Aleitamento Materno comemorada entre os dias 1º a 7 de agosto, Marcus Renato conseguiu um espaço em sua concorrida agenda para escrever este artigo especial para A VOZ DA SERRA. “Em boa hora”, afirmou, “este evento de proporções mundiais reconhece a importância do aconselhamento e dos grupos de apoio para o sucesso da amamentação.” Quem o conhece sabe que ele não perderia tal oportunidade. Há décadas vem batendo nesta tecla, ou seja: a necessidade de apoiar a mulher nessas fases tão ricas e cheias de transformações, plenas de sensações: gestação, parto e amamentação.
Dalva Ventura – A Voz da Serra
Aconselhamento e grupos de apoio
são determinantes no sucesso da amamentação
Marcus Renato de Carvalho
Enquanto pensava sobre o que registrar neste Ponto de Vista saiu publicado mais um artigo científico sobre como a nutriz ganha ao dar o peito: “Amamentar reduz risco de Alzheimer para a mulher”, afirma recente estudo publicado no Journal of Alzheimer’s Disease (23 de julho de 2013).
Infelizmente, apesar de enormes vantagens da amamentação, quase perdemos esta cultura na década de 60-70. A publicidade agressiva de fórmulas infantis, mamadeiras e chupetas, o atendimento de profissionais de saúde displicentes e serviços de saúde com rotinas castradoras, o número crescente de mulheres no mercado de trabalho — autônomas ou sem licença-maternidade adequada —, a falta de informação e apoio às gestantes, puérperas e lactantes, os mitos e crendices que ainda persistem, enfim, todas as dificuldades que cercam as mães que querem amamentar seus filhos.
Há 30 anos conseguimos implementar uma política pública de aleitamento que tem conseguido aumentar a prevalência da amamentação exclusiva nos últimos anos. Estou me referindo a diversos projetos que estão em franco andamento no país, como as maternidades Amigas da Criança, a Rede Nacional de Bancos de Leite Humano, a ampliação da licença-maternidade de três para quatro meses, as leis de regulação da publicidade de alimentos para lactentes, ao projeto “Mãe-Canguru” para bebês prematuros, além das Unidades Básicas Amigas da Amamentação. Iniciativas que expressam uma política do governo, tanto a nível federal como estadual e municipal.
Como repetimos sempre, as mulheres que estão decididas e dispostas a amamentar deveriam ter o direito de fazer isso de forma exclusiva até o 6º mês e continuada até dois anos ou mais. Sabemos, porém, que não é fácil.
Em boa hora, portanto, o tema da Semana Mundial de Aleitamento Materno deste ano chama atenção não só dos profissionais e serviços de saúde, como de toda a sociedade, sobre a necessidade de apoiar a mulher nestas fases tão ricas e cheias de transformações, plenas de sensações: gestação, parto e amamentação.
Aconselhamento e grupos de apoio. A importância da mulher se informar e se fortalecer trocando ideias com outras mães. Este é o espírito da Semana Mundial de Aleitamento Materno proposta pela WABA (World Alliance for Breastfeeding Action) desde os idos de 1992. Algo que grupos de mães como as Amigas do Peito já faziam desde os inícios dos anos 80.
Mais um desafio para as mulheres, a sociedade, os serviços e profissionais de saúde, os pais e demais familiares que merece mais de uma semana entre as 52 semanas de um ano.
Este evento, apoiado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como pelo Unicef, o Ministério da Saúde e por diversas ONGs acontece para nos recordar dos compromissos assumidos pelos governos com as metas da Declaração de Inoccenti (documento assinado por diversos países, entre eles, o Brasil, em 1990, na Itália), de promoção, proteção e apoio à amamentação sob múltiplos aspectos.
A cada ano, a Semana Mundial de Aleitamento Materno elege um tema a ser trabalhado durante o ano. Entre os diversos pontos que já foram abordados estão o Direito da Mulher no Trabalho, os hospitais Amigos da Criança, o código que regula a publicidade de alimentos infantis, a amamentação como uma atitude ecológica ou o aleitamento exclusivo.
Sim, a amamentação merece este destaque na sociedade porque é um ato extremamente benéfico não só para as crianças, mas também para as mulheres, os sistemas de saúde, o meio ambiente e a própria economia das famílias e dos países.
Estão comprovadas cientificamente as múltiplas vantagens, não só do leite materno em si como da sucção, que promove o desenvolvimento orofacial, o crescimento cerebral e o aparecimento de doenças crônico-degenerativas na vida adulta.
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