A iniciativa de atendimento ao bebê pre-têrmo denominado Mãe Canguru, adotou seu nome da espécie dos marsupiais, na qual as crias nascem antes de completar ou levar ao fim sua gestação. A natureza dotou os cangurus fêmeas de uma bolsa onde se completa o tempo de gestação; ali os pequenos se aquecem e se alimentam até fortalecer-se adequadamente.
No mundo nascem anualmente 20 milhões de bebês prematuros e com baixo peso: destes, 1/3 morre antes de completar o primeiro ano de vida. Nove em cada 10 recém nascidos, com peso inferior a 1.000 g. ao nascer, morrem antes de completar o primeiro mês de vida.
Nos hospitais dos países do terceiro mundo, os bebês prematuros encontram uma grande escassez de recursos, infra-estrutura inadequada, super lotação, infecções hospitalares e, em conseqüência, elevados riscos de doenças e morte.
UMA TRILOGIA
Como resposta aos problemas de atendimento ao prematuro, que possui altíssima mortalidade, em 1979 se desenvolveu o método “Mãe Canguru” no Instituto Materno – Infantil (IMI) de Bogotá, Colômbia. Os princípios deste método são:
– o CALOR, que é gerado e transmitido pelo corpo da mãe, ao estar em contato com o bebê, pele-a-pele;
– o LEITE MATERNO, que não apenas alimenta o bebê mas que, com suas propriedades imunológicas o protege contra infecções, mesmo àquelas que vivem em casebres e, principalmente,
– o AMOR, que estimula o bebê a se desenvolver melhor.
As carícias, a voz, o acalanto e a própria batida cardíaca da mãe são fatores importantes para estimular a respiração do recém nascido e para suprimir as apnéias recorrentes, tão freqüentes nos bebês prematuros. Além de estreitar os vínculos desse binômio, esta relação garante a esse pequeno ser humano a força do apoio e do equilíbrio emocional, que somente uma mãe pode proporcionar.
UM NOVO PARADIGMA DE ATENÇÃO
A mudança mais importante consiste no atendimento aos bebês prematuros não por seu peso, mas por suas condições clínicas. Na sala de parto, o prematuro recebe os procedimentos de reanimação e todos os cuidados pediátricos necessários. De acordo com suas condições, é então encaminhado a uma unidade de terapia intensiva – UTI ou intermediária, ou diretamente à mãe. Desde o primeiro momento se estimula e se facilita uma estreita relação mãe-filho. A puérpera deve comparecer diariamente na UTI ou unidade intermediária para amamentar seu filho, ao mesmo tempo que o acaricia e o estimula. Quando a mãe não pode amamentá-lo, ela deve ordenhar manualmente ou com uma bomba adequada seu leite e oferecê-lo de copinho ou com conta-gotas ou seringa e nunca com chuquinha ou mamadeira.
Sem importar o peso e somente por sua condição clínica, todo bebê de peso inferior a 2.000 g. ao nascer, é enviado o mais cedo possível para casa, para ser atendido por sua própria mãe e controlado em um ambulatório ou consultório capacitado para o acompanhamento do crescimento e desenvolvimento de bebês cangurus. No IMI de Bogotá já chegou a dar alta neste sistema para bebês com 760 g. de peso ao nascer.
A DUPLA CANGURU
O prematuro é colocado peladinho, somente com fraldinha, junto ao seio materno, em contato com a pele e em posição vertical, para evitar o refluxo gastro-esofágico e a bronco-aspiração. Nesta posição, recebe não apenas o amor e o calor de sua mãe, mas tem ali seu alimento, com a freqüência que desejar, evitando-se os problemas habituais por não poder mamar prolongadamente a cada vez. Quando por algum motivo especial torna-se necessário complementar o aleitamento materno, a preferência deve ser dada para o leite desta própria mãe, e como segunda opção leite humano pasteurizado. Nunca se recomenda leite de vaca “in natura” ou em pó, evitando-se assim, infecções intestinais e os problemas alérgicos das proteínas de um leite para outra espécie.
O “FOLLOW UP”
Durante as consultas ambulatoriais, tomam-se medidas antropométricas (peso, altura, perímetro cefálico) do lactente; ela é examinada física e psicologicamente; avaliado por uma equipe interdisciplinar, composta de neonatologistas, por fonoaudiologos, oftalmologistas, nutricionistas, otorrinolaringologistas, assistente social, consultores de amamentação, psicólogos e recebem as vacinas necessárias, além do Teste do Pezinho. Os dados são anotados no Cartão da Criança. As mãe recebem palestras educativas sobre estimulação adequada, cuidados de puericultura, higiene, nutrição e sempre se enfatiza a importância da amamentação.
RESULTADOS SURPREENDENTES
De 1979 a 1986 o IMI atendeu a 1654 prematuros com peso inferior a 2000 g. ao nascer, no Programa Mãe Canguru; 65 prematuros receberam alta do hospital durante os primeiros 3 dias de vida e 87% durante os primeiros 14 dias de vida. O ganho ponderal no primeiro ano superou em 4 vezes e meia o peso do nascimento. O aumento de altura no primeiro ano de vida foi, em média, de 28 centímetros. Algo muito importante: o perímetro cefálico cresceu em média 14,5 centímetros nos 12 primeiros meses. A mortalidade global das 1654 crianças atendidas pelo programa de atendimento em ambulatório foi de apenas 6%, assim discriminados:
– dos 40 recém natos com peso inferior a 1000 g morreram 9;
– dos 413 recém nascidos entre 1001 a 1500 g. morreram 52;
– dos 1201 recém natos com peso entre 1501 e 2000 g. morreram 44.
ECONOMIA
Os custos de atenção a estes prematuros é consideravelmente baixo, o que se consegue por ser um programa simples e natural, próprio de um país com recursos escassos. Comparativamente, o custo de atendimento de um prematuro com 1000 g. de peso ao nascer, em um país desenvolvido, varia em torno de US$ 800 diários. Em Bogotá, o custo de atendimento ao mesmo prematuro em incubadora é de US$ 89 diários e, no atendimento em ambulatório pelo Programa Mãe Canguru é de apenas US$ 2 por dia.
A Metodologia Mãe Canguru apresenta um modelo eficaz com um ótima relação custo-benefício, no qual se incrementa a sobrevivência do prematuro, melhora-se sua qualidade de vida e se evita o abandono, tão freqüente nestes casos.
O Programa Mãe Canguru, no qual se combina o tratamento no hospital com o ambulatório e em casa, alcançou melhores resultados que a alternativa mais cara de uma internação prolongada.
20 ANOS DE ÊXITO
Com o apoio do UNICEF, o Programa Mãe Canguru foi apresentado em vários países e em congressos internacionais de pediatria. Como conseqüência despertou grande interesse e diversos visitantes o conheceram diretamente, entre neonatologos, pesquisadores, economistas, jornalistas e outros. Além disso, promoveu-se o treinamento de pediatras, enfermeiras, nutricionistas, fonoaudiólogos, terapeutas ocupacionais e outros profissionais no atendimento ao prematuro em ambulatório, para que seja reproduzido em seus próprios países. O método Mãe Canguru já é adotado em mais de 30 países, sendo muitos deles do primeiro mundo.
U N I C E F