PERGUNTAS e RESPOSTAS: MÃE-CANGURU
O que é “cuidado” Mãe Canguru?
O método mãe canguru é uma técnica de assistência ao recém nato prematuro e bebês de baixo peso que tenta compensar seu nascimento antes do tempo. Este método é definido como o contato pele-a-pele entre a mãe e seu recém nascido de baixo peso, contato este prolongado e contínuo iniciado no hospital e mantido em casa até que o bebe complete 40 semanas de idade gestacional ou atinja seu desenvolvimento completo. Durante todo esse período o bebê deverá ser alimentado exclusivamente com leite materno, recebendo acompanhamento adequado pelos profissionais de saúde. Nessa técnica o bebe é colocado em posição supina, semi-despido no seio da mãe, posição de rã.
Onde, como e por que surgiu esse tipo de procedimento?
O método surgiu em 1979 em Bogotá, Colômbia, desenvolvido pelos Drs. Héctor Martinez e Edgar Sanabria do Hospital San Juan de Dios como alternativa parcial ou total a UTI tradicional. Isto porque os recém nascidos estavam sujeitos a uma situação crítica de super população, a infecções cruzadas e a ausência de recursos tecnológicos. Nesse contexto os bebês dividiam a incubadora com outras crianças, a mortalidade neonatal era extremamente alta e o abandono materno freqüente. Essa técnica revolucionou a forma de tratar os recém nascidos prematuros e de baixo peso. Surgiu a partir do Programa Mãe-Canguru, um trabalho pragmático que proporcionou novos horizontes na assistência ao prematuro, tanto no plano técnico como socio-econômico e afetivo.
Quais são os 3 pilares básicos filosóficos-fisiológicos que sustentam este novo paradigma de assistência perinatal?
Amor, calor e aleitamento são os alicerces desse programa. Essa tríade essencial é capaz de suprir as principais necessidades do recém-nato. A perda de calor é um dos principais problemas do bebê prematuro, pois ele não consegue regular sua própria temperatura corporal, já que possui um tecido subcutâneo em desenvolvimento e um sistema nervoso central em maturação e remodelamento. No aleitamento materno temos um outro aspecto importante a sobrevida e saúde do recém nato, assim como benefícios para a mãe. Isso ocorre uma vez que esse leite tem características especiais para nutrir e proteger o bebê, assim como, também estabelece um vínculo de amor e confiança entre ele e sua mãe.
4. O M-C é um programa eficaz e cientificamente seguro?
Sim, atualmente a eficácia do método é reconhecida por vários países e pela comunidade científica internacional. Além disso foi demonstrado impacto no risco de adoecimento, mortalidade infantil neonatal precoce e abandono, através do estimulo ao vínculo precoce entre os bebês e seus pais.
Por que é importante para o Brasil o emprego do cuidado M-C aos recém nascidos de baixo peso e/ou prematuros?
Porque é justamente nesse período neonatal precoce (até 7 dias de vida), que no Brasil, encontramos a maior expressão da mortalidade infantil determinada pelas precárias condições de atendimento à gestante, à parturiente e ao recém nascido. Além do custo do atendimento às complicações neonatal, superar em muito às verbas destinadas à esse serviço em nosso país. Neste sentido a implementação desse método é uma alternativa viável e eficaz, transpondo essa barreira financeira ao atendimento, além de intervir ativamente na morbi-mortalidade neonatal.
Quais as características a morbi-mortalidade dos RN de baixo peso e prematuros?
O prematuro apresenta peculiaridades e demandas próprias que devem ser satisfeitas para seu pleno desenvolvimento. Essas são: 1) pouca reserva calórica e de ferro ( anemia ); 2) alto metabolismo e elevado gasto protéico, indispensável ao desenvolvimento rápido; 3) grande necessidade de glicose e gordura, principalmente para seu metabolismo neuronal; 4) maior perda de água; 5) peristalse intestinal lenta; 6) limitada produção de enzimas digestivas; 7) múltiplos fatores de estresse ( ruídos da UTI, punções, tubos, cateterismos, ausência dos pais, sono interrompido, infecções, distúrbios respiratórios… ).
Dessa forma os bebês prematuros possuem maior risco de adoecer por enfermidades vasculares perinatal ( hemorragia cerebral, retinopatia da prematuridade ) ou por distúrbios metabólicos, como hipoglicemia. Além disso a dificuldade em manter a estabilidade térmica pode levar a hipotermia e morte. Essas imaturidades do prematuro levam a uma alta mortalidade, cujas principais causas envolvem as afecções pulmonares, membrana hialina, asfixia intrauterina e intraparto, baixo peso ao nascer, traumatismo obstétrico e infecção intrauterina. Assim o método mãe-canguru associada a uma assistência médica adequada melhora muito as condições de saúde e desenvolvimento dos prematuros.
Como são e quais os problemas e dificuldades dos cuidados convencionais a estes RN ?
Dentre os cuidados convencionais destinados aos prematuros e RN de baixo peso incluem-se: aquecimento, maior apoio a amamentação, maior eficiência e rápida identificação e tratamento de infecções, necessitando de uma atenção particular por meio dos profissionais de saúde, além de alta qualidade dos serviços de saúde e internação em UTI. Os problemas que este tipo de atendimento gera abrangem principalmente a separação do binômio mãe-filho, com conseqüências como a não produção de leite pela mãe, a privação pelo bebê desse alimento especial, gastos com compras de fórmulas infantis, além de problemas psico-afetivos, devido aos restritos horários de visita no método convencional. Com isso cria-se um baixo vínculo/apego com os prematuros, culminando em abandono ou crianças negligenciadas e mal tratadas futuramente.
É importante comentar ainda que a assistência convencional em UTI requer equipamentos, medicamentos e pessoal extremamente especializados, tornando caro e raro para o país este tipo de assistência. Isso se torna evidente ao considerarmos as dificuldades para aquisição de medicamentos, incubadoras e aparatos especiais, a falta de manutenção e deficiente capacitação de pessoal em quantidade e qualidade, o que é freqüente em países pobres. No Brasil, atualmente, há um déficit de leitos em UTI’s neonatal, entre outros problemas enfrentados na prática a esses serviços.
Quais as vantagens do método M-C para os RN, para os pais, para os serviços de saúde e sociedade ?
As vantagens para o RN incluem a diminuição das infecções perinatal, do choro, do abandono e da hipotermia. E por diminuir o tempo de separação mãe-filho evita longos períodos sem estimulação sensorial o que é de prima importância nesse período de desenvolvimento do bebê. Estimula também o aleitamento materno, favorecendo maior freqüência, precocidade e duração da amamentação. Para a mãe temos o fortalecimento do vínculo com seu filho, proporcionando maior competência e ampliação de sua autoconfiança no manuseio do mesmo, mesmo após a alta hospitalar. Integra a mãe em sua função de Mãe e trabalha sua auto-estima, além dos benefícios trazidos com a amamentação para mãe. Para os serviços de saúde há uma grande diminuição dos custos devido a menor rotatividade de leitos e permanência hospitalar, além de humanizar o atendimento, proporcionando um melhor relacionamento da família com a equipe de saúde. Para a sociedade podemos identificar uma diminuição do impacto dos altos custos da assistência perinatal, havendo a possibilidade do redirecionamento dos recursos ainda dentro do setor da saúde.
O ministério reconhece o MC como uma modalidade assistencial do SUS ?
Sim. Desde 08 de Dezembro de 1999 este método foi incluído na política governamental de saúde pública se tornando um procedimento de assistência médica oficialmente reconhecido pelo governo brasileiro. Hoje incluído na tabela do SUS.
Quais as 3 etapas da atenção pelo método MC ?
O método MC consiste em 3 etapas. A primeira, a etapa mãe-canguru parcial, se desenvolve na UTI neonatal uma vez que o recém nato de baixo peso ainda está impossibilitado de ir para o alojamento conjunto mãe-canguru. A mãe permanece em contato com o bebê algumas horas por dia, estimulando o contato tátil (se possível contato pele-a-pele direto ) e amamentação (através da ordenha manual e administração deste leite, com os cuidados de higiene adequados ). Já se inicia o vínculo com o bebê nessa etapa. Em geral dura alguns dias, o tempo suficiente para que a criança preencha os critérios para admissão no alojamento conjunto. A segunda etapa, o mãe-canguru total, é uma fase de adaptação e se desenvolve no alojamento conjunto. Nesse período a posição canguru deve ser mantida pelo maior número de horas possíveis. A última fase, a fase domiciliar, se desenvolve em regime de acompanhamento ambulatorial, onde deverão ser realizados exame físico completo da criança; avaliação do equilíbrio psico-afetivo entre a criança e sua família; correção de situações de risco como: ganho inadequado de peso, sinais de refluxo, infecções e apnéias; e tratamentos especializados como: exame oftalmológico, avaliação audiométrica e fisioterapia motora , além de acompanhamento do esquema de imunizações.
Quais são os critérios para os bebês e mães entrarem no método ?
As condições de ingresso do RN prematuro ou de baixo peso ( peso ao nascer < 2,5 Kg ) são: ausência de distúrbios respiratórios ou metabólicos, infecções ou problemas neurológicos. Os critérios de elegibilidade da mãe são: desejo, disponibilidade e apoio da família, ausência de doenças e capacidade física e mental.
O leite materno da mãe do prematuro tem alguma diferença para o comum?
Sim. Este é um leite especial e contém maior quantidade de proteínas (Ig A secretora, anticorpos etc. ), lipídeos e calorias. Além disso possui baixo teor de lactose o que se adeqüa a menor produção de lactase pelo prematuro.
Por que os bebês tem que ficar na posição canguru ?
A posição foi especialmente desenvolvida para evitar refluxo gastro-esofágico (devido a menor pressão de Esfíncter Esofagiano Inferior do prematuro) com subseqüente broncoaspiração, pneumonia e possibilidade de óbito, além de proporcionar uma grande superfície de troca de calor entre a mãe e o bebê, e o fato de o contato pele-a-pele ser analgésico.
Em que momento o bebê recebe alta do M-C ?
O momento da alta do método é definido pelo próprio bebê, quando este se mostra desconfortável, irritável em manter a posição canguru, sinalizando o fim de sua gestação extra-uterina e desenvolvimento suficiente para sua idade.
Seminário de Pediatria
Tecnologia Mãe-Canguru
UFRJ – Faculdade de Medicina
Orientador: Prof. Marcus Renato de Carvalho
Grupo:
Bruna Dacier Lobato Martins
Fernanda Nogueira Tôrres
Roberto Luís Zagury