Psicomotricidade:
Uma abordagem nova e indispensável nos cuidados do RN internado em UTI
Os avanços técnicos e científicos da medicina passaram a garantir a sobrevivência de bebês prematuros cada vez mais cedo, bem como daqueles cujos comprometimentos seriam incompatíveis com a vida. A mesma tecnologia que salva, entretanto, pode acarretar prejuízos no desenvolvimento neuropsicomotor e na qualidade de vida dos bebês. Isto porque a hospitalização em idade muito precoce pode se configurar como um corte no desenvolvimento da criança. Podemos apontar como causas deste corte as restrições impostas pela doença em si, as condições ambientais encontradas nos hospitais e as intervenções necessárias ao tratamento da doença, que podem ser muito invasivas, dolorosas e assustadoras.
Quanto mais jovens são os bebês, mais dependentes de um outro são as suas condições para lidar com os aspectos desorganizantes gerados pela falta de estímulos adequados ao desenvolvimento e pelo excesso de estímulos nocivos a este, presentes na UTI, de que são exemplos: os ruídos provenientes de aparelhos de monitoração, da própria fala e da atuação das equipes; os estímulos nociceptivos intensos causados pelas necessárias intervenções e iluminação inadequada, alterando o ciclo de sono e vigília dos bebês.
Estes e outros fatores são agravados pela separação mãe/pai-bebê. Os pais, que nesse momento poderiam ser os grandes compensadores do estresse vivenciado pelo bebê, sentem-se desautorizados e incapazes de atuar nos cuidados de seu filho ou filha, havendo inclusive dificuldades no reconhecimento deste bebê como tal.
A linguagem corporal não verbal é própria do bebê e é através de suas manifestações psicomotoras que ele expressa seus estados de bem e mal estar. Desta forma faz-se necessário um outro que identifique, decodifique e responda aos seus sinais.
O ambiente da UTI pode levar o bebê a transtornos psicomotores cuja manifestação ocorre de maneira bastante imediata como, por exemplo, a hipotonia causada pela restrição ao leito e pela falta de oportunidade da movimentação inerente a atividade psicomotora do bebê e a crise tônico-emocional manifestada por uma grande tensão, tremores e interrupção da exploração do ambiente e da comunicação.
A equipe de saúde tem o potencial para ser o promotor de um ambiente facilitador do desenvolvimento, porém se depara com alguns obstáculos para essa promoção. Um desses obstáculos está na própria formação do profissional de saúde que tradicionalmente se distancia da complexidade do adoecer humano e do processo de cura adotando uma visão mecanicista sobre esses. Há também o estresse causado pela rotina da UTI na qual o sofrimento, a dor, a urgência e a possibilidade da morte são uma realidade.
O psicomotricista na UTI neonatal tem três tipos de atuação:
uma diretamente com os bebês, sendo um facilitador da organização corporal que será o alicerce de seu desenvolvimento psicomotor. Isto é feito através de várias intervenções envolvendo o direcionamento de voz, o contato ocular, o alinhamento de eixo corporal e o toque sensório-tônico motor, entre outros;
outra forma de atuação deste profissional é junto aos pais, fornecendo-lhes acolhimento e orientação, auxiliando-os na compreensão dos sinais não-verbais de seu filho/filha, mediando a relação pais-bebê;
a terceira forma de atuação é diretamente com a equipe de saúde, buscando, através de vivências corporais e discussões em grupo sobre as práticas diárias, aprimorar a qualidade do toque e promover um olhar mais integrador sobre o bebê fazendo com que sua internação seja o menos traumática possível.
Assim, ao longo destes anos, temos visto a ciência buscar soluções para conseguir manter a vida fora do ambiente materno, procurando recriar este mesmo ambiente da forma mais fiel possível. A Nutrologia tem estudado e orientado o uso, a composição, o preparo e a via de administração mais adequados dos elementos nutricionais necessários às diversas fases e estados clínicos na Pediatria. A Medicina Intensiva Neonatal tem procurado avaliar, testar e aprimorar condutas para mais rapidamente retirar do risco de morte os pequeninos mais debilitados. A Fonoaudiologia, a Psicologia e a Fisioterapia têm sido coadjuvantes fundamentais na recuperação de determinados estados patológicos. Laboratórios bioquímicos e de imagem têm buscado novas descobertas que facilitem o diagnóstico e a intervenção precoce de determinados agressores à saúde do bebê. Outros profissionais também vêm participando deste processo contínuo de aprendizado. Agora a Psicomotricidade, já há alguns anos estruturada em bases sólidas de pesquisa e intervenção em alguns países, como a França, berço de origem, vem colaborar no desenvolvimento de uma das áreas ainda pouco trabalhadas na criança desta fase, mas não menos importante: o seu desenvolvimento neuropsicomotor.
Autoras:
Anna Paula Freitas da Costa1
Eleonora Oliveira Filgueiras2
Raphaela Queiroz Marques3
1 Psicomotricista graduada pelo Instituto Brasileiro de Medicina de Reabilitação (IBMR) e Shantala-terapeuta – Instituto Aurora.
2 Psicomotricista graduada pelo IBMR com formação em Recuperação Motora e Terapia através da dança – Escola Angel Vianna.
3 Psicomotricista graduada pelo IBMR com formação em Terapia Psicomotora – Centro de Estudos Regina Morizot.
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