Preparando-nos para o Novembro roxo:
GENÉTICA da PREMATURIDADE
Variações no DNA encontradas nas mães podem ajudar a guiar pesquisas sobre intervenções para evitar problema
Jornal O Globo
Nascer “antes do tempo” pode ter consequências na saúde de uma pessoa para o resto de sua vida. Diversos estudos já associaram a prematuridade a futuros problemas respiratórios, deficiências visuais e auditivas, atrasos no desenvolvimento neurológico e paralisia cerebral, sem contar que ela é a principal causa de morte neonatal e infantil. Mas, apesar disso, pouco se sabe como evitar que um parto prematuro, já que ele é resultado de uma complexa conjunção de fatores ambientais e genéticos, tanto da mãe quanto do feto.
Agora, porém, estudo publicado nesta quarta-feira no periódico científico “New England Journal of Medicine” identificou que variações em seis genes das mães têm forte ligação com a duração das gestações e os nascimentos prematuros, definidos como os acontecidos antes da 37ª semana de gravidez, abrindo caminho para pesquisas que podem ajudar na sua prevenção.
– Já sabíamos há muito tempo que o parto prematuro é uma combinação de fatores genéticos e ambientais, com pesquisas anteriores sugerindo que cerca de 30% a 40% do risco de um nascimento prematuro está ligado a questões genéticas, mas este novo estudo é o primeiro a nos fornecer informações robustas sobre o quê alguns destes fatores genéticos realmente são – resume Louis Muglia, codiretor do Instituto Perinatal do Hospital Infantil de Cincinnati, nos EUA, e cientista-chefe do Centro de Pesquisas sobre Prematuridade da March of Dimes (algo como “marcha das moedinhas” em uma tradução livre), fundação americana dedicada ao financiamento de iniciativas e pesquisas voltadas para a saúde materna e infantil no país.
No estudo, os cientistas primeiro sequenciaram o genoma de mais de 43 mil mulheres americanas de ascendência europeia que forneceram amostras de saliva para a empresa de análises genéticas pessoais 23andMe e responderam a perguntas sobre suas gravidezes passadas, concordando que as informações seriam usadas de forma anônima para pesquisas científicas. Destas, 37,8 mil (86,8%) tiveram partos a termo, isto é, entre 37 e 42 semanas de gestação, enquanto 3,3 mil (7,6%) relataram partos prematuros, com menos de 37 semanas de gravidez, e 2,4 mil (5,6%) partos tardios, ou seja, após 42 semanas.
Os pesquisadores então cruzaram dados sobre quase 16 milhões de variações genéticas conhecidas como polimorfismos de nucleotídeo único – em que há a troca de apenas um dos pares de “letras” que compõem nosso DNA – com as informações sobre as gravidezes e partos das mulheres, identificando inicialmente 14 genes onde mudanças pareciam estar associadas à duração da gestação e à ocorrência de nascimentos prematuros.
A seguir, para verificar os achados, os cientistas replicaram as análises com outro banco de dados com informações genômicas e das gravidezes e partos de quase 9 mil mulheres escandinavas participantes de estudos sobre saúde materna e infantil na Finlândia, Noruega e Dinamarca, chegando então aos seis genes fortemente ligados à duração da gestação e prematuridade relatados no estudo, batizados EBF1, EEFSEC, AGTR2, WNT4, ADCY5 e RAP2C.
Segundo os pesquisadores, análises funcionais destes genes mostraram que o WNT4, por exemplo, parece estar diretamente implicado na chamada decidualização do endométrio, o tecido que reveste o útero, em preparação para a implantação do óvulo fertilizado e subsequente gravidez. Já o EEFSEC está ligado ao metabolismo do selênio, mineral presente em castanhas, folhas verdes, fígado e outras carnes envolvido em defesas antioxidantes e respostas inflamatórias, processos fisiológicos que também já foram ligados a partos prematuros em estudos anteriores, com os demais genes também apresentando possíveis ligações funcionais seja com a duração da gestação ou com a ocorrência do problema.
Assim, os cientistas acreditam que a descoberta da associação destas seis regiões do nosso DNA com os partos prematuros pode servir de ponto de partida para pesquisas de tratamentos ou indicações nutricionais que possam evitar sua ocorrência.
– Estes achados animadores podem ter um papel chave na redução das mortes de recém-nascidos e para dar a todas crianças a chance de crescerem fortes e espertas – destaca Trevor Mundel, presidente da Divisão de Saúde Global da Fundação Bill & Melinda Gates, outra importante financiadora do Centro de Pesquisas sobre Prematuridade da March of Dimes. – O estudo não apenas revelou diversos genes ligados aos nascimentos prematuros como identificou potenciais soluções simples e de baixo custo, como suplementos de selênio para mulheres grávidas, que se confirmadas podem ajudar a salvar milhares de vidas.
Entre as principais limitações do estudo, no entanto, está o fato de que ele restringiu suas análises a mulheres com ascendência europeia. Assim, os cientistas já preparam pesquisas semelhantes a serem conduzidas na África e na Ásia de forma a avaliar se as associações encontradas também valem para populações de outras etnias. Eles também já estão planejando a realização de testes dos níveis de selênio em mulheres grávidas em países de baixa renda e áreas pobres dos EUA para tentar verificar logo se a suplementação do mineral pode mudar as taxas de partos prematuros nestas localidades.
NOVEMBRO ROXO
Mês dedicado ao tema da Prematuridade e suas consequências
17 de novembro: Dia Internacional do Bebê Prematuro
Aguardem mais informações aqui no www.aleitamento.com