MÃES PREMATURAS sofrem mais
DEPRESSÃO PÓS-PARTO?
Tese de Doutorado vira e-book
“Neste livro me propus a conhecer a experiência de depressão na relação mãe-bebê prematuro após a alta hospitalar. Realizei tal proposta por meio de quatro histórias de vida nas quais o período enfocado é o do acompanhamento materno por ocasião da internação do recém-nascido na unidade de tratamento intensivo neonatal (UTI) e os primeiros meses de seu ingresso em ambiente doméstico. A observação de como estas mães enfrentaram a vivência emocional da maternidade de um bebê prematuro me permitiu ampliar a compreensão sobre o humor materno no período do puerpério. É o resultado de um trabalho de pesquisa realizado durante o curso de doutorado em saúde da mulher no Instituto Fernandes Figueira que conjuga diversas áreas de conhecimento entrelaçadas na assistência da unidade mãe-bebê como políticas públicas, psicanálise, neonatologia e antropologia. ”
Manola Vidal
A prematuridade ou nascimento pré-termo é definido como aquele que ocorre com 36 semanas ou menos de gestação, sendo um dos principais problemas da Perinatologia pois responde a 70% das mortes neonatais. A prematuridade está associada ao baixo peso ao nascer tendendo a ser consideração em função de sua prevalência-10% em todo mundo- a despeito das diferenças de níveis de desenvolvimento entre os países (Reed D.M., Stanley. 1977), é uma questão importante pelas restrições na qualidade de vida de muitos dos que a ela sobrevivem, pois, suas sequelas podem ser extremamente graves tanto para as crianças como para suas famílias.
Meu interesse em relação ao tema surgiu através do contato com mães de bebês prematuros enquanto psicóloga no Hospital Estadual de Duque de Caxias quando tive a oportunidade de realizar intervenções[1], a partir de minha prática profissional como psicóloga. Essas intervenções se dirigiam a mães em acompanhamento dos filhos internados e seu círculo familiar mais próximo (o pai, irmãos, avós e em algumas situações tios e cunhados). Meu objetivo era o de oferecer apoio e suporte à reestruturação da dinâmica familiar tanto no período da hospitalização como o da alta e transição para o ambiente doméstico. Tal trabalho foi possibilitado pelo fato do acompanhamento materno à internação ter sido uma prática instituída através de um processo desenvolvido a partir da década de setenta pelo Ministério da Saúde do Governo Brasileiro denominado Programa de Saúde Materno Infantil. Esse programa lançou as bases pragmáticas para a assistência da saúde da mulher e da criança que posteriormente foram conjugadas com as exigências de aplicação do Estatuto da Criança e do Adolescente em sua interface com a saúde perinatal [2]. Desta forma, se construiu um novo modelo de assistência em unidade de tratamento intensivo que busca minimizar o impacto negativo das intervenções invasivas (Gomes, 2004).
Me aproximei da realidade de uma população de mulheres oriunda das classes populares e dependentes da assistência pública enquanto gestantes de risco e puérperas em alojamento conjunto após parto prematuro. Pude então observar como reagiam durante o acompanhamento da internação de seus filhos em unidade de tratamento intensivo. Fui compreendendo que suas reações se relacionavam com a duração da internação, com o nível de prematuridade do bebê e com as formas de acompanhamento materno se através de visitas diárias com frequência semanal ou diária ou de alojamento conjunto. Neste último caso as mães ocupavam na maternidade, estando submetidas à estrutura de funcionamento da instituição em regime de internação hospitalar. Entretanto, apesar do direito ao acompanhamento ser assegurado por lei e daquela instituição manter alguns leitos disponíveis para ter as mães próximas dos bebês, o acompanhamento materno à internação do bebê prematuro se apresentava marcado por reações emocionais intensas. Os relatos das mães sobre situações como as de risco de vida para o bebê internado, visão de procedimentos invasivos ou de óbitos me trouxeram muitas reflexões. Essas se somaram a observações que fui elaborando sobre o humor materno e sobre práticas de humanização da assistência ao recém-nascido prematuro no interior da unidade de tratamento intensivo, refletindo sobre as longas internações provocadas prela prematuridade do bebê internado.
Durante minha prática profissional observei também um número recorrente de reinternações após alta hospitalar, fator que me possibilitou realizar uma associação entre o acompanhamento da internação e a interação familiar com o bebê egresso da unidade de tratamento intensivo. As reinternações ocorriam ora no CTI pediátrico ora na enfermaria pediátrica e suas causas variavam entre os casos de negligência (desnutrição), problemas respiratórios, doenças pulmonares característicos da prematuridade e um terceiro grupo que contemporaneamente é classificado como do das desorganizações psicossomáticas do primeiro ano de vida[3](distúrbios das grandes funções e os mais especificamente somáticos como eczema, asma, infecção otorrinolaringológica de repetição e distúrbios digestivos).
Reflexões sobre as situações que pude contrastar me possibilitaram indagar se o acompanhamento materno ao recém-nascido prematuro em unidade de tratamento intensivo produziria reações emocionais maternas do tipo depressivo, com efeito de duração superior ao período de internação e incidindo, justamente, na situação de reinternação hospitalar durante o primeiro ano de vida. Desta forma, passei a considerar a hipótese de que a vivência emocional destas mães poderia se constituir como uma situação de risco para a interação mãe-bebê. A partir de tais reflexões procurei aportes teóricos sobre a interação precoce e sobre o tema do humor materno após o parto prematuro, visando a entender o estatuto da parentalidade e a relação mãe bebê.
O período imediatamente posterior ao parto é denominado puerpério. O estudo do humor materno que se refere ao mesmo aponta para um campo de conhecimento recente e que em linhas gerais se apresenta não como o resultado de construtos psíquicos anteriores[4], mas sim como uma forma de funcionamento emocional, sendo única e independente em si mesma. Não se trata de uma organização inata[5] ou universal (Stern, 1997) e depende das condições sócio culturais que desempenham um papel importante na forma como a mesma é concebida na sociedade ocidental[6].
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