9 MIL BEBÊS MORRERAM após PARTO PREMATURO no BRASIL em 2013
21% dos ÓBITOS registrados entre menores de 5 anos no país são de CRIANÇAS que NASCERAM PREMATURAMENTE
DIA INTERNACIONAL da PREMATURIDADE
Os gêmeos Davi e Antônia chegaram dois meses e meio antes do previsto. Abaixo do peso, com dificuldade de se alimentar e com o pulmão ainda imaturo, os irmãos completarão dois meses internados, mas podem ter alta hoje da UTI neonatal do Instituto Fernandes Figueira (IFF). A mãe, Odete Carvalho, de 21 anos, está ansiosa: “não aguento mais olhar para os berços vazios em casa”. Esses pequeninos venceram sua primeira batalha na vida, mas o número de bebês prematuros que não consegue sobreviver chama a atenção de organizações e governos ao redor do mundo.
Hoje, no Dia Mundial do Parto Prematuro, um levantamento alerta que, pela primeira vez, as complicações do nascimento antes do período ideal se tornaram a principal causa de mortalidade infantil, com mais de três mil óbitos diários ao redor do globo.
O Brasil contabilizou nove mil mortes de bebês prematuros em 2013, o que representa 21,9% do total de óbitos entre os menores de 5 anos, colocando o país em 103ª lugar numa lista de 162 nações. As piores colocações ficaram para Macedônia (em 162º, com 51%), Eslovênia (47,5%), Dinamarca (43%), Sérvia (39,8%) e Reino Unido (38,7%).
Ao todo, das 6,3 milhões de mortes estimadas de crianças em 2013, quase 1,1 milhão é apenas de problemas decorrentes de partos prematuros, de acordo com um estudo publicado na revista científica “Lancet” por pesquisadores da Organização Mundial de Saúde (OMS) em parceria com universidades nos EUA e Reino Unido. Essas complicações representam 965 mil mortes nos primeiros 28 dias de vida, e as outras 125 mil ocorrem entre o primeiro mês e os 5 anos. Outras causas frequentes de mortalidade infantil são pneumonia (935 mil ) e problemas do próprio parto (720 mil).
CONTROLE DE INFECÇÕES
Curiosamente, os números do parto prematuro agora se tornam mais evidentes porque, por outro lado, medidas globais tiveram êxito no combate a doenças infecciosas de crianças. De 2000 a 2013, a taxa mundial de mortalidade infantil caiu de 76 para 46 mortes por mil nascidos vivos, uma redução anual de 3,9%. Quase metade deste avanço é resultado do controle de mortes por pneumonia, diarreia, sarampo, HIV e tétano, o que foi possível pela maior cobertura mundial de tratamento, com a aplicação de vacinas e antibióticos.
— Esta é uma das principais mensagens que queremos deixar — afirma Andres de Francisco, diretor-executivo da Aliança para a Saúde da Mãe, do Recém-Nascido e da Criança, uma coalizão de mais de 600 sócios, entre elas a ONU. — Nos últimos anos, com os Objetivos do Milênio, houve investimentos que aceleraram a redução da mortalidade infantil. A cobertura está aumentando e está protegendo as crianças maiores, mas ainda não temos uma intervenção efetiva para prevenir a morte pelo parto prematuro.
Chefe do setor de medicina fetal do Instituto Nacional de Saúde da Mulher do IFF, Fernando Maia concorda que o controle do parto prematuro é uma preocupação “de primeira linha” e defende medidas de prevenção antes, durante e depois da gravidez.
— O planejamento familiar é importante para reduzir a mortalidade materna e a prematuridade. Se a mulher engravida no momento que planeja, há intervenções para mudanças no estilo de vida (o tabagismo e a alimentação estão entre eles) e tratamentos (como de infecções, por exemplo de doenças sexualmente transmissíveis), que são fatores de risco para a prematuridade e podem ser corrigidos antes de ela engravidar — explica.
Durante a gravidez, há outras linhas de cuidado, como o pré-natal adequado para identificar, por exemplo, diabetes e hipertensão; ou intervenções médicas caso haja alterações na medida do colo uterino. Além disso, Maia afirma que 75% das mortes de bebês prematuros podem ser evitadas com ações simples. Ele cita como exemplos o aleitamento materno e o contato de pele a pele entre a mãe e o bebê.
No Brasil, programas como o banco de leite (cerca de 130 mil litros de leite foram distribuídos a 170 mil recém-nascidos em unidades de saúde em 2012), a rede cegonha e o incentivo à prática do método canguru são algumas das ações citadas pelo Ministério da Saúde como inciativas para frear os números.
PLANEJAMENTO FAMILIAR
O relatório mundial reforça como medida de prevenção o planejamento familiar, visando a evitar a gravidez em mulheres abaixo de 17 anos e acima de 40. Além disso, prega a redução do número de embriões transferidos como parte do tratamento de fertilidade. Isto porque no procedimento é comum serem implantados vários embriões para aumentar as chances de gravidez, mas, com isso, aumenta também a incidência de gestações gemelares, que têm mais chances de nascerem prematuramente. Andres de Francisco pondera, no entanto, que, com o avanço da técnica de fertilização in vitro, menos embriões precisam ser implantados para se ter sucesso. Finalmente, o documento defende a restrição de cesáreas antes de 39 semanas.
Maia afirma que entre 37 e 39 semanas, o bebê já não é considerado prematuro, mas às vezes ele não está totalmente pronto para nascer e a cesárea tem um impacto.
— Quando o bebê passa pelo trabalho de parto, ele fica mais maduro do que se é retirado do útero neste período, e as chances de distúrbios respiratórios são maiores — afirma.
O bebê prematuro é mais propenso a ter problemas relacionadas à imaturidade de seu desenvolvimento, por exemplo infecções, dificuldade para respirar e se alimentar. O parto também pode deixar sequelas, como problemas de visão e até mesmo paralisia cerebral. Nos EUA, 75% dos casos de paralisia se devem ao parto prematuro.
Com o nascimentos dos gêmeos, Odete agora tem quatro filhos. Após a recuperação dos bebês, ela planeja fazer uma ligadura de tubas uterinas.
— Antônia está mais esperta, o Davi que demanda mais atenção. Para variar, as meninas são mais independentes — brinca Odete, depois do período de preocupação.
Karla Pontes coordena a enfermagem do IFF e acompanha de perto o quadro dos gêmeos. Ela explica que é comum prematuros nascerem com órgãos imaturos.
— Além de precisarem de ventilação para ajudá-los a respirar, eles também não têm força para se alimentar sozinhos, então precisaram de uma dieta através de sonda — explica Karla, lembrando que os bebês nasceram com cerca de 1kg e agora já têm quase 2kg.
Fonte: Jornais Extra e O Globo – Fotos de Marcus Renato de Carvalho e Domingos Peixoto