Seminário Proteger a Amamentação:
resumo do que iremos debater
Pré-conferência – 9 de junho: Desmame Comerciogênico e Iatrogênico
Marcus Renato
O Seminário online “Proteger a Amamentação” se iniciará com uma Pré-conferência no dia 9 de junho às 20h com o Curador do evento. O Professor explicará a origem do conceito “Desmame Comerciogênico” criado em 1979 para denunciar ao mundo a publicidade não ética de fórmulas infantis. Definirá o que é “conflito de interesses” que algumas vezes envolve profissionais, serviços de saúde e suas associações (ou sociedades) profissionais. Desde 1981 há um Código Internacional da OMS que regula o marketing de produtos que interferem e prejudicam a cultura da amamentação. Infelizmente, apesar desse pacto legal, práticas de promoção comercial abusivas continuam. A Iniciativa internacional Hospital Amigo da Criança, atualizou em 2018 as recomendações para o cumprimento desse marco legal na defesa do aleitamento no seu passo 1.
Há também outro conceito que tem conexão com o primeiro, o “Desmame Iatrogênico”, por ação de profissionais e serviços de saúde desatualizados no manejo clínico da lactação. Atitudes desnecessárias e danosas ocorrem na “preparação” para a amamentação e sobre os processos e tecnologias de “avaliação” da produção láctea. Há também a iatrogenia medicamentosa, um excesso de prescrições de drogas para aumentar o volume de leite – os galactagogos. Alertaremos sobre os efeitos colaterais dessas medicações.
É urgente que as políticas públicas federal, estaduais e municipais retomem os cursos de atualização em Aleitamento Materno dos profissionais de saúde das maternidades e da rede básica. Fundamental, a abordagem da Amamentação com enfoque de gênero, que pressupõem o protagonismo feminino e o empoderamento da nutriz.
Recordará que a amamentação é um ato psicossomático complexo que depende de domínio de um conhecimento específico, de apoio da sociedade, e de atitudes acolhedoras dos profissionais com uma postura de Aconselhamento.
Pré-conferência – 10 de junho: As Semanas Mundiais de Aleitamento retrospecto
Marcus Renato
As 20h no Seminário “Proteger a Amamentação”, Marcus Renato recordará que a WABA – World Alliance for Breastfeeding Action, Aliança Mundial pró Aleitamento propôs celebrar o dia mundial da amamentação em 1º de agosto para difundir as metas da Declaração de Inoccenti de 1990. Nessa reunião em Florença, vários países se comprometeram que cada nação deveria ter uma coordenação nacional de aleitamento materno; assegurar que as maternidades coloquem em prática os “Dez Passos para o Sucesso do Aleitamento”, e implementar o Código Internacional de Comercialização de Substitutos do Leite Materno.
Em 1992 foi comemorada a primeira SMAM – Semana Mundial de Aleitamento Materno tendo como tema a IHAC – Hospitais Amigos da Criança.
Somente em 2009, através da Portaria nº 2394/GM/MS, de 07 de outubro o Ministério da Saúde resolveu assumir as SMAM como uma política pública com o propósito de promover, proteger e apoiar o aleitamento no Brasil.
A cada ano, a WABA propõe um tema, e a questão do Código Internacional, que no Brasil equivale a NBCAL, foi debatido pela primeira vez, em 1994 e em 2006 quando se comemorou 25 anos de defesa da cultura do Aleitamento.
1994 – Protect Breastfeeding: Making the Code Work / Amamentação Fazendo o Código Funcionar
2006 – Code Watch – 25 Year of Protecting Breastfeeding / Código: 25 anos de proteção à amamentação
Mais uma vez, esse ano teremos a proteção à amamentação como tema, lembrando o aniversário de 40 anos do Código que regula a publicidade e o marketing dos leites e alimentos infantis, mamadeiras, chupetas, intermediários de silicone que comprovadamente prejudicam o estabelecimento e manutenção da amamentação.
2021 – Protect Breastfeeding: A Shared Responsibility
Proteger a Amamentação: uma responsabilidade compartilhada
Conferência 1 – Por que proteger a Amamentação?
Cíntia Ribeiro Santos
O Aleitamento Materno é um direito do binômio mãe filho. No Brasil, ele está previsto pelo Estatuto da Criança e do Adolescente pelo Ministério da Saúde, além disso a Unicef e OMS concluem o Aleitamento Materno como Marco ao Desenvolvimento na primeira Infância.
É preciso proteger as crianças, mulheres e a família contra o marketing abusivo de produtos que competem com a amamentação, como bicos, chupetas e mamadeiras, que geram lucros para as indústrias de alimentos infantis e levam ao desmame precoce.
Para reforçar as lutas existentes de proteção à Amamentação a Rede IBFAN lançou em 21 de maio de 2021 o Dia Mundial de Proteção do Aleitamento Materno com a celebração dos 40 Anos do Código Internacional.
O objetivo do Código Internacional é contribuir para o fornecimento de nutrição segura e adequada aos lactentes, por meio da proteção do aleitamento materno e assegurando o uso apropriado de seus substitutos, quando estes forem necessários, com base em informações adequadas e por meio de comercialização e de distribuição apropriadas. No entanto há regras para as atividades de promoção comercial, rotulagem dos produtos, relação com os profissionais de saúde e suas associações.
O Brasil assumiu em 1981 o compromisso das políticas nacionais de promoção, proteção e apoio ao aleitamento materno de implementação do Código e da NBCAL-Norma Brasileira de Comercialização de Alimentos para Lactentes e Crianças de Primeira Infância, Bicos, Chupetas e Mamadeiras, que tem o objetivo de assegurar o uso apropriado desses produtos de forma que não haja interferência na prática do aleitamento materno. Precisamos proteger o direito de amamentar!
Conferência 2 – O paradigma do leite fraco e a importância da proteção à mulher que amamenta
Gabrielle Gimenez
Estatisticamente, a intenção de amamentar entre as mulheres é bastante alta, mas o índice das que conseguem amamentar efetivamente ainda é baixo. Mas se, do ponto de vista fisiológico, as chances de uma produção de leite insuficiente ou uma contraindicação médica à amamentação são raras, por que isso acontece? A verdade é que muitas mulheres irão se deparar com barreiras no âmbito social, cultural e político, que estarão além do seu controle e que tornarão a missão de amamentar algo praticamente impossível de concretizar.
Então, para a amamentação dar certo não basta só querer, e é muito importante que entendamos isso desde o início. Em primeiro lugar, para não subestimar os obstáculos que teremos pela frente, e que aparecerão em todas as partes. E em segundo lugar, para quebrar o ciclo de culpa que as mulheres carregamos pelas nossas experiências frustradas de amamentação. As mulheres dão o peito, mas elas não amamentam sozinhas. Nosso desejo e força de vontade, muitas vezes não são o bastante. É preciso que, como sociedade, consideremos a amamentação uma questão de saúde pública digna da nossa atenção e investimento.
Nesta conferência abordaremos o apoio à mulher que amamenta por essa perspectiva. Falaremos sobre a assistência dos serviços de saúde durante a gravidez, parto e pós-parto e seu impacto na amamentação. Da necessidade de melhorar a qualidade da informação fornecida pelos sistemas de saúde e campanhas e de ampliar o público para além da mulher, incluindo sua rede de apoio imediata, assim como a sociedade em geral. Da importância de se legislar sobre o direito à amamentação em público, sobre uma licença maternidade em consonância com as recomendações da OMS e um retorno ao trabalho compatível com a amamentação. Entre outras medidas de proteção ao bem-estar materno e à amamentação, o que inclui apoio social efetivo e controle legal mais estrito do marketing da indústria de substitutos do leite materno, de mamadeiras, bicos e chupetas.
Conferência 3 – Formação de uma microbiota saudável: mais um benefício do leite materno
Cristina Targa
O leite materno (LM) , como é bem conhecido por todos, é considerado a forma ideal de alimentação do RN e do lactente devido à sua habilidade de prover nutrição rica e completa, pois contém muitos fatores bioativos importantes para a saúde do indivíduo. O LM está associado com o desenvolvimento do sistema imune e um desenvolvimento saudável, menor incidência de doenças e de mortalidade. Além de tudo isso, o LM é uma fonte importante de microrganismos comensais que promovem a saúde do hospedeiro porque previnem adesão de patógenos, melhoram a imunidade e promovem a colonização por bactérias benéficas.(1)
A microbiota intestinal é fundamental para o metabolismo, desenvolvimento e comportamento humanos. (2)
Embora, inicialmente o LM tenha sido considerado estéril, hoje se aceita amplamente que o LM tem sua própria e única microbiota, que é importantíssima para o desenvolvimento do microbioma saudável do lactente.
Os estudos indicam que as bactérias do leite materno semeiam o intestino do latente, mostrando ainda mais a sua importância, também no desenvolvimento do microbioma do bebê. (1).
O estabelecimento do microbioma do lactente tem implicações importantes para toda a vida do indivíduo e para sua imunidade. A microbiota das crianças que são amamentadas, quando comparadas às que não são amamentadas, difere na infância e isso é para o resto da vida. O LM contém uma população diversificada de bactérias , mas ainda sabemos pouco sobre a transferência vertical das bactérias através da amamentação. (1)
As origens dos microrganismos no LM têm sido objeto de muitos debates, entretanto a possibilidade de uma transferência enteromamária, permitindo a passagem das bactérias do intestino materno para a glândula mamária é um caminho potencial. As cepas derivadas do LM podem ser consideradas probióticos potenciais e contribuem de maneira importante para a saúde da criança.
Sabe-se que o lactente amamentado apresenta uma microbiota mais rica e diferente daqueles não amamentados. Considerando a importância do tema, vamos discutir o que há de novo sobre a microbiota do leite materno e o que se espera num futuro próximo.
Bibliografia:
1. Pannaraj PS, Fan L, Cerini C et al. Association Between Breast Milk Bacterial Communities and Establishment and Development of the Infant Gut Microbiome. JAMA Pediatr.2017 Jul; 171(7): 647–654.
2. Zanella A, Silveira RC, Roesch LFW et al. Influence of own mother’s milk and different proportions of formula on intestinal microbiota of very preterm newborns. Plos One 2019; 14(5): e0217296.
Conferência 4 – Como comunicar causas sociais e mobilizar apoio para nossos sonhos
Rosa Maria Mattos
Como promover a proteção?
Nesta apresentação, vou abordar o momento histórico atual do campo da comunicação, a importância da visão estratégica da promoção de direitos humanos e sociais. Vamos falar também sobre os desafios e oportunidades que as atuais ferramentas de comunicação apresentam em 2021 para ativistas e entusiastas do aleitamento materno, com reflexões e dicas para quem quer potencializar suas ações e ideias com objetivo de apoiar a construção de uma sociedade mais saudável, justa e melhor para as mães e seus bebês.
Conferencistas
Cíntia Ribeiro Santos – Enfermeira Obstétrica. Mestre em Gestão de serviços de Saúde pela Universidade Federal de Minas Gerais. Coordenadora Nacional da Rede IBFAN- Brasil ( Rede Internacional de Proteção ao Aleitamento Materno). Coordenadora do Banco de Leite Humano do Hospital Sofia Feldman. Avaliadora da Iniciativa Hospital Amigo da Criança pelo Ministério da Saúde.
Gabrielle Gimenez – Mãe de três, nordestina, escritora… Trocou a Advocacia pela Puericultura, após alguns anos dedicados à maternidade em tempo integral. É editora convidada do portal aleitamento.com Seu perfil no Instagram tem mais de 70 mil seguidores. E acaba de lançar o livro “Leite Fraco”.
Cristina Targa Ferreira – Doutora em Gastroenterologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Especialista em Gastroenterologia Pediátrica, em Endoscopia Pediátrica e em Hepatologia pela AMB e Sociedades Brasileiras. Chefe do Serviço de Gastroenterologia Pediátrica do Hospital da Criança Santo Antônio – Complexo Hospitalar Santa Casa. Prof. Adjunta de Gastroenterologia Pediátrica da UFCSPA. Presidente do Departamento Científico de Gastroenterologia Pediátrica da SBP.
Rosa Mattos – Jornalista, assessora de comunicação e mobilização da ACT Promoção da Saúde, Mestranda do Programa de Mídia e Cotidiano da Universidade Federal Fluminense (UFF), integrante do conselho gestor da rede Narrativas, e tem experiência em divulgação científica e comunicação para promoção de direitos e incidência política.
Marcus Renato de Carvalho – Pediatra. Docente da Faculdade de Medicina da UFRJ. Editor do aleitamento.com Especialista em Amamentação pelo Wellstart International e pelo IBCLC. Um dos autores do “Amamentação – bases científicas” 4ª edição.
Inscrições no Seminário em www.agostodourado.com