Pediatra enfatiza importância do leite materno
Foto de Pedro Carrilho – Folha Imagem
QUEM É ELE
Nome: Marcus Renato de Carvalho
O que faz: É pediatra, diretor da Clínica Interdisciplinar de Apoio à Amamentação, co-autor do Plano Regional de Ações Integradas de Promoção, Proteção e Apoio à Amamentação na América Latina e Caribe; fundador e ex-coordenador da ONG IBFAN Rio – Rede Internacional em Defesa do Direito de Amamentar. Co-autor dos livros: “Amamentação – bases científicas para a prática profissional” (Ed. Guanabara Koogan, 2001) e “Pós-Parto e Amamentação” (Ed. Ágora/Summus, 2001) e “Método Mãe-Canguru” (BNDES, 2001).
O pediatra carioca Marcus Renato de Carvalho, 46, estava cursando o último ano de medicina na UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), em 1982, quando se deparou com o caso de uma mãe adotiva que queria amamentar. “Percebi que isso era possível e me apaixonei pelo assunto”, diz Carvalho, que se tonou um especialista em aleitamento materno.
Autor de três livros sobre o tema e criador do site aleitamento.com, o médico falou em entrevista ao Equilíbrio sobre os benefícios do leite materno para a criança e a importância do aleitamento exclusivo, tema da Semana Mundial da Amamentação (até o próximo sábado, dia 18).
Folha — Qual a importância da amamentação exclusiva nos primeiros seis meses de vida?
Marcus Renato de Carvalho — É imprescindível. O bebê só precisa do leite da mãe, sem água, sem chá, sem complementos. A Organização Mundial da Saúde e a Sociedade Brasileira de Pediatria são unânimes em apontar que a amamentação exclusiva faz com que o bebê se desenvolva normalmente até o sexto mês. O leite materno tem um efeito imunológico protetor contra problemas de saúde como hipertensão, linfomas, alergias e obesidade.
Folha — Obesidade também?
Carvalho — Estudos recentes comprovaram que há uma proteína no leite materno que favorece o metabolismo de lipídios e carboidratos.
Folha — Até que idade a criança só deve tomar o leite da mãe?
Carvalho — A mulher pode amamentar até dois anos ou mais, depois da aleitação exclusiva dos seis meses, mas a licença maternidade é de apenas quatro meses. Isso é uma contradição entre o Ministério da Saúde, que propõe seis meses, e o Ministério do Trabalho, que possibilita quatro. Mas, se a mãe precisar voltar ao trabalho antes, recomendamos que a criança ingira “papinha” de frutas e legumes, sucos e água de coco. Sem tomar mamadeira, sem tomar outro leite.
Folha — Não é preciso o leite de vaca?
Carvalho — Não. O ser humano é o único mamífero adulto que bebe leite de outro animal e o oferece às suas crias. A gente toma porque é induzido pelo comércio. É muito prático, mas é hiperproteico para a espécie humana, o que pode levar à obesidade; tem muitos eletrólitos, sais minerais que podem levar à hipertensão, e pode causar alergias, pois é um leite não específico como o leite materno é. Para o bebê prematuro e para a mãe que, por algum motivo de saúde, não pode amamentar, o Brasil conta com 172 bancos de leite. É a maior rede de bancos de leite do mundo. Ganhamos um prêmio da Organização Mundial da Saúde devido ao domínio dessa tecnologia de pasteurização do leite humano.
Folha — O leite varia de mãe para mãe?
Carvalho — Não existe leite materno fraco. Até uma mulher desnutrida produz um leite de qualidade. O que acontece é que ela se desnutre para que esse leite saia bom. Além disso, já foi provado que a mãe do prematuro tem um leite mais rico em anticorpos.
Folha — Afinal, como uma mãe adotiva pode amamentar?
Carvalho — Há a técnica de lactação adotiva. O que faz produzir leite é o bebê sugar o peito. A gente “engana” o bebê usando um tubinho muito fino com uma extremidade num copo com leite e a outra no mamilo. Depois que o bebê começa a sugar, dentro de alguns dias a mulher começa a produzir leite. A amamentação é um ato psicossomático complexo: o leite é produzido não só no peito, mas na cabeça também.