Especialista americana defende parto domiciliar
Ela mostra que o modelo europeu valoriza a parteira e o nascimento em casa
Nos últimos 33 anos, ela conduziu 2.100 partos em casa. A americana Ina May Gaskin, de 60 anos, uma das criadoras do movimento de partos domiciliares nos Estados Unidos, esteve no Brasil para difundir o que sabe entre médicos, enfermeiros e doulas – acompanhantes profissionais de parturientes. O trabalho de Ina começou na década de 70, numa pequena comunidade rural do Tennessee, onde a taxa de cesáreas é de 1,7% e nunca houve uma morte relacionada a parto.
Com um panô colorido, Ina denuncia a mortalidade materna de seu país, que cresce desde 1982. Cada retângulo de tecido representa um óbito. Ela já costurou 40 deles e tem outros 20 prontos. “Chegará a mil.” Segundo ela, há 30 países que fazem melhor do que os EUA. A maioria deles é europeu, além do Japão. “São países com baixas taxas de cesárea, pouca interferência médica no parto e muitas parteiras.”
Ina teve cinco filhos, todos de parto normal. O primeiro parto, porém, foi feito em hospital e os médicos usaram fórceps. Foi o que bastou para ela se transformar em parteira. “Não sabia que usariam fórceps e fiquei apavorada com a anestesia.” Ina aprendeu sobre partos na prática e conduziu os primeiros três em ônibus, durante uma caravana de 300 pessoas pelos EUA. Foi tudo tão perfeito que ela pensou: “É assim que deve ser.” Veja a seguir os principais trechos da entrevista:
Estado – Quais são as vantagens e desvantagens do parto domiciliar?
Ina May Gaskin – Não consigo ver desvantagens para uma mulher saudável. Se ela tem diabete, pressão alta ou problema cardíaco nem tentamos fazer o parto em casa. Mas para todas as outras mulheres é uma enorme vantagem.
Estado – Por quê?
Ina May – Porque é o único modo de a mulher conhecer a força de seu corpo, sua capacidade. Há segredos que são revelados para a mulher quando ela dá à luz por vias naturais. Mas os médicos podem estragar um parto normal, adotando procedimentos desnecessários ou restrições muito rígidas para a parturiente. Por exemplo, não aceitar mais do que seis ou oito horas de trabalho de parto ou proibir que a mulher se alimente nesse processo. Dar à luz é trabalho duro. Depois de duas horas, a mulher sente fome. São restrições que não têm boa base científica. Essas coisas ocorrem se o profissional que assiste à gestante tiver sido treinado como cirurgião, sem ter sido exposto a partos normais, como é a maioria dos obstetras nos Estados Unidos e no Brasil.
Estado – Você compara o Brasil com os EUA. São muito parecidos?
Ina May – O Brasil seguiu o exemplo norte-americano das altas taxas de cesarianas. Se os brasileiros querem imitar outro país, o melhor é que fosse a Holanda, onde há menor interferência médica no parto e maior valorização das parteiras como profissionais essenciais para a sociedade. Nos EUA e no Brasil, infelizmente, a idéia é se livrar das parteiras, deixá-las escondidas. Nos EUA, país de 300 milhões de habitantes, há 10 mil parteiras.
Na Inglaterra, há 60 milhões de pessoas e 30 mil parteiras.
Estado – A Holanda é um exemplo a ser seguido?
Ina May – É. Quase 40% das mulheres grávidas lá têm seus bebês em casa. O governo holandês incentiva o parto domiciliar. Eles têm um bom sistema de assistência depois do parto também, o que é muito importante. Uma enfermeira, subsidiada pelo governo, fica com a mulher por quatro ou cinco horas por dia, durante os primeiros dez dias pós-parto. A adaptação com o novo bebê é bem suave. Esse é o país que deveríamos imitar.
Estado – No Brasil, a taxa de cesárea é altíssima, chegando a 80% nos hospitais privados. Como é nos Estados Unidos?
Ina May – As brasileiras são levadas a acreditar que o corpo será arruinado pelo parto normal. Bem, cortar a barriga de alguém é um trauma enorme e estão querendo que a mulher não veja isso. Nos EUA, a taxa de cesáreas é de 26% e está crescendo. Em um ou dois anos, acredito que chegará a 30% ou 32%.
Estado – O que força a taxa norte-americana para cima?
Ina May – Os médicos dizem coisas loucas para a mulher para convencê-la a fazer cesárea. Por exemplo, que ela terá de usar fraldas porque sua vagina será arruinada por causa da passagem do bebê. Esses médicos até usam o Brasil como desculpa para fazer a cesariana em suas pacientes. Mas eles não contam que mais mulheres brasileiras morrem no parto. Eles só dizem: “As mulheres brasileiras são bonitas. Se você quer ficar bonita como elas, faça uma cesariana.” Eles sabem como amedrontar uma mulher. Não estou dizendo que todos os médicos dos EUA fazem isso, mas há casos do gênero. Os médicos que têm baixas taxas de cesárea tendem a ser pressionados pelos colegas ou pelos hospitais onde trabalham.
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Este “modelo” de parto, mais humano, proporcionaria uma melhor amamentação, seria vantajoso para o bebê e entre outras vantagens possibilitaria o maio vínculo entre o PAI e o seu novo filho(a).
Prof. Marcus Renato de Carvalho