Documentário
“O Renascimento do Parto 2”
hoje nos cinemas
Alexandre Coimbra Amaral*
Trata-se de um filme radicalmente diferente do primeiro, que amplia e complexifica as questões que o longa original propôs. Agora, para muito além da normalização do parto fisiológico, o diretor Eduardo Chauvet nos convida a visitar dimensões sobre o nascimento humano que muitos de nós nem imaginávamos existir.
Ao longo da hora e meia de exibição, somos levados a conhecer os meandros do parto pélvico, do parto gemelar, do parto de mulheres portadoras de deficiência, o parto vaginal depois de cesárea, e o maior contraponto da obra: o espelhamento ao contrário que existe entre o SUS que dá certo (aqui representado pelo Hospital Sofia Feldman, em Belo Horizonte) e a maior chaga da obstetrícia brasileira: a violência obstétrica.
Aqui, o fenômeno é encarado com a crueza que um filme-denúncia precisa assumir em mostrar. As cenas de partos regados a misoginia, invisibilidade e humilhação femininas são de dar engulhos a todos nós, que construímos diariamente diálogos sobre protagonismo feminino e direitos sexuais e reprodutivos da mulher. E as piores cenas são, justamente, aquelas que abrem o documentário, já deixando claro que o filme não quer usar meias palavras para nomear a realidade de que foi testemunha. Os depoimentos de mulheres violentadas, no dia em que o mundo deveria dar-lhes a maior reverência em forma de cuidado materno-infantil, são uma convocação às nossas iras e lágrimas.
A carpintaria do roteiro não é um mosaico de fácil assimilação. O ritmo, nervoso por vezes como a angústia feminina diante do trabalho de parto, fragmenta as histórias das entrevistadas e dos entrevistados, fazendo com que a compreensão sobre os múltiplos temas abordados se feche somente no último minuto de exibição. É, portanto, um filme para ser visto e revisto, mas sobretudo um filme para servir de primeira fala de conversações depois da exibição.
Eu convido você a assisti-lo hoje, nos cinemas das principais cidades brasileiras. Mas vá acompanhada ou acompanhado, e se dê um tempo depois da sessão. Você precisará de decantar as emoções que “O Renascimento do Parto 2” lhe convidarem a sentir. São muitas, são mescladas, são ambíguas. Há trevas nas histórias medievais de parto, acontecidas em qualquer canto de nosso século XXI brasileiro. E há, contudo, beleza nas histórias mais resilientes das mulheres, há futuro no presente que se faz a partir de um movimento que faz história neste país. Porque a esperança permanece ali, na tecelagem exímia de todas as cenas.
O filme é uma metáfora para as últimas décadas de vitórias, frustrações e assombros vividos pelas mulheres brasileiras que queriam apenas o supremo direito de parir em paz. Estamos ainda na pré-história de tudo; o mundo que queremos para o nascimento humano ainda é um gerúndio de muitas revoluções femininas, até poder vir-a-ser o cotidiano que as mulheres merecem ter.”
*Alexandre é Psicólogo, Terapeuta familiar e um dos entrevistados do filme
Assista ao Trailer na nossa TV aleitamento.com
Uma produção 808 Filmes Fora da Lata em associação com Merun, Artemis, Além D’Olhar e Mulher sem violência.
Leia sobre o primeiro documentário aqui no aleitamento.com
“O Renascimento do Parto” – filme estreia neste final de semana
O aleitamento.com com muito orgulho é uma das centenas de apoiadores desses filmes
Assistimos, apoiamos e recomendamos!