SENTIDOS do NASCER
imperdível em todos os sentidos!
A exposição Sentidos do Nascer pretende contribuir para a mudança da percepção sobre o nascimento, incentivando a valorização do parto normal para a redução da cesariana desnecessária.
A Sentidos do Nascer é uma iniciativa que propõe ampliar o debate sobre questões relacionadas ao nascimento no Brasil. Lançamos um olhar crítico ao cenário da hipermedicalização do parto, da perda do protagonismo da mulher e da exploração do parto como um negócio.
Queremos mostrar ao público outra experiência do nascimento e desmistificar percepções sustentadas pelo senso comum, reverter práticas inadequadas de violência obstétrica.
A nossa causa é mais que social. É um incentivo para que aconteça uma mudança cultural que garanta o bem-estar e os direitos da mulher e da criança no momento do parto e nascimento. É o desejo que um bom começo se estenda pela vida.
Sentidos do Nascer é um projeto financiado pelo CNPq, Ministério da Saúde e Fundação Bill & Mellinda Gates, que conjuga arte, ciência e tecnologia. Utiliza metodologias de pesquisação para promover transformações nas representações sociais sobre o parto e nascimento e para analisar as implicações da exposição na percepção dos visitantes.
“POR TRÁS DA CESARIANA”
O Brasil é o campeão de cesáreas desnecessárias do mundo, com 56,7% dos nascimentos em 2013, o que vem repercutindo com o aumento da prematuridade e outros efeitos adversos sobre a saúde da mulher e do bebê. O peso insuficiente e a imaturidade quando a cirurgia é programada sem respeitar o desenvolvimento pleno do bebê, os problemas respiratórios e a sua internação em UTI neonatal são algumas das graves consequências. A frequente separação mãe e filho pode ainda interferir no vínculo e no aleitamento materno. Há ainda maior risco de problemas de saúde na infância e na vida adulta, como a obesidade, diabetes, hipertensão, asma, alergias, outras doenças imunológicas e até o autismo. Hemorragias, infecção, complicações anestésicas e maior risco na próxima gravidez são algumas das graves consequências para a saúde da mulher.
Além de interesses comerciais do sistema privado de saúde, essas práticas são reforçadas pela cultura do consumo e da praticidade que domina a sociedade contemporânea, que organiza o tempo em função da produção. As gestantes são levadas a uma cirurgia desnecessária com pouca informação e condição para participação ativa nessa decisão, na maioria das vezes, definida pelo profissional, numa relação muito desigual de poder.
Aliado a isso está o fato de a assistência ao parto ter se tornado muito invasiva e agressiva. Frequentemente, são utilizados procedimentos sem embasamento científico, como o corte da vagina (a episiotomia), a ocitocina artificial para acelerar o parto e manobras dolorosas para empurrar o bebê, transformando o cenário do parto e nascimento em um momento de sofrimento e horror. Reforçam, assim, representações sociais do parto como uma doença e o corpo feminino como incapaz.
Nas últimas décadas, uma série de iniciativas da sociedade civil organizada e das políticas públicas (Política Nacional de Humanização, Rede Cegonha) vem buscando reverter esse quadro com a disseminação de informação adequada e promoção da assistência humanizada ao parto e nascimento. Mobilizam a sociedade e o sistema de saúde para a mudança do modelo de atenção obstétrica e neonatal, e garantia dos direitos da mulher e da criança a uma assistência respeitosa e digna, que proteja e promova a saúde e o afeto, ressignificando os sentidos do nascer.
“Se uma mulher não parecer uma deusa durante o parto, então alguém não está tratando-a corretamente” Ina May Gaskin
Depoimento de Bernardo de Oliveira,
coordenador geral da Sentidos do Nascer
Como as antigas trupes de artistas ambulantes que perambulavam de uma cidade para outra, fazendo apresentações em feiras e praças, o formato itinerante da exposição
Sentidos do Nascer facilita o acesso a muita gente. Os containers podem ser montados em praças públicas ou áreas de grande circulação, facilitando o acesso de pessoas que nunca foram a um museu, nem buscariam uma exposição. Foi o que ocorreu, no mês de Abril de 2015, em que a exposição ficou no parque Municipal de Belo Horizonte.
O parque fica na área central da cidade e é frequentado por um público bastante diversificado. Nos finais de semana, a grande maioria é de famílias com crianças e grupos de jovens. Nos dias de semana, uma parte significativa dos frequentadores é de população de rua, alguns usuários de álcool e drogas, e outsiders em geral, que encontram no parque um ambiente tranquilo, seguro para dormir e com acesso a banheiros públicos, inexistentes no resto da cidade.
Na hora do almoço, a maioria era de funcionários e trabalhadores da região que iam se distrair um pouco no parque. Grande parte desse público -foram 3800 visitantes nas 3 semanas que a exposição ficou no parque – nunca tinha ido a um museu ou galeria. Como não fazia parte de seus hábitos culturais, muitos perguntavam se era uma feira ou um show, e depositavam suas sacolas e utensílios perto da porta de entrada, para adentrar num ambiente totalmente inesperado.
E como se emocionaram…
E como desmontaram preconceitos da equipe e de outros visitantes “tradicionais”, que ficavam surpresos com a “invasão”, pois a polícia local havia orientado que não os deixassem entrar, pois eram “criadores de caso e risco potencial”. Que nada, acabamos ganhando apreciadores e apoiadores, que se misturaram com outros públicos de forma muito feliz.
Me marcou muito a visita de uma escola da rede pública municipal, em que um professor de educação física, sabendo que uma aluna de 14 anos estava grávida e a turma envolvida no caso, levou sua turma para conhecer e debater os sentidos do nascimento com mais informação.
Não sei se foi algum aluno dessa escola ou de outras tantas que lá passaram, mas, algumas semanas depois, nos chamou especial atenção um casal de meia idade que ficou sentado por um bom tempo na área de conversas, onde são expostos os painéis com textos e mostrados alguns filmes, observando tudo atentamente. Quando perguntamos o que os tinha trazido à exposição, disseram: “viemos tentar compreender por que nosso filho ficou tão tocado”.
Foram experiências como estas, de pessoas trazendo outras, retornando com amigos, colegas de trabalho e parentes, querendo compartilhar emoções e reflexões, que de fato acabaram encantando toda equipe e fazendo daquele um momento muito especial.
Aleitamento.com apoia e recomenda!