Caça às novas “bruxas”: DOULAS são PROIBIDAS em MATERNIDADES
Hospitais da capital limitam acesso de acompanhante profissional do parto
MARIANA LENHARO – O Estado de S.Paulo
O Hospital e Maternidade Santa Joana e a Maternidade Pro Matre Paulista, ambos do Grupo Santa Joana, limitaram desde a última segunda-feira o número de acompanhantes durante o parto a apenas uma pessoa. Como o pai do bebê costuma acompanhar o parto, a medida, na prática, dificultou o acesso às maternidades das doulas – profissionais que acompanham as gestantes antes, durante e após o parto, oferecendo suporte emocional às mães.
A determinação veio à tona ontem, quando a comunicação interna do Grupo Santa Joana que informava que a entrada de doulas não seria mais autorizada nas duas instituições a partir do dia 21 foi reproduzida nas redes sociais por uma ativista. O debate ganhou força nas redes e a medida passou a ser atacada por defensores do parto humanizado.
De acordo com a assessoria de imprensa do Grupo Santa Joana, esse comunicado não deve ser levada em conta, pois se trata de um “erro de comunicação interna” cometido por uma secretária. A instituição afirma que a limitação do número de acompanhantes “visa, exclusivamente, a manter os menores índices de infecção hospitalar das maternidades” e “a própria gestante determinará quem a acompanhará no Centro Obstétrico, podendo, sim, ser sua doula, caso seja solicitado”. Apesar disso, funcionários da Maternidade Pro Matre Paulista afirmavam ontem, por telefone, que haviam recebido a orientação de que as doulas tinham sido proibidas.
Para a obstetriz Ana Cristina Duarte, coordenadora do Grupo Apoio à Maternidade Ativa (Gama), a medida representa uma restrição ao trabalho das doulas, já que a gestante não deve abrir mão do acompanhamento do companheiro para dar a vaga à profissional. Ela afirma que esses dois hospitais sempre dificultaram o acesso das profissionais.
“Eles dificultam o cadastro. A profissional tem de preencher um cadastro supercomplexo e assinar um documento em que se compromete a não tocar na gestante. Tem de levar até carteira de vacinação, o que não se pede nem para médicos nem para enfermeiros”, diz Ana.
Regulamentação. Para o obstetra Eduardo Cordioli, membro da Associação de Obstetrícia e Ginecologia do Estado de São Paulo (Sogesp) e coordenador médico da maternidade do Hospital Israelita Albert Einstein, é importante que a mulher seja acompanhada de maneira próxima durante o parto para receber suporte emocional e orientações, seja pelo obstetra, pela enfermeira-obstetra, pela família ou pela doula.
Porém, ele considera problemático o fato de a profissão não ser regulamentada no País. “Para trabalhar, preciso de um diploma, mostrar que sou capacitado, apresentar meu crachá. Tudo o que acontece dentro do hospital é de responsabilidade do médico e do próprio hospital. Como posso garantir atividade de uma doula se não ela não tem registro nem rastreabilidade?”
Ele afirma que, no caso do Einstein, a doula é permitida como acompanhante da gestante, assim como o marido e a família. “Mas quando você vai para as áreas onde só os profissionais cadastrados podem entrar, como a UTI, as doulas não são permitidas”, diz Cordioli. Outros hospitais de São Paulo, como São Luiz e Santa Catarina, também autorizam a participação de doulas.
Cordioli cita que, em outros países, a atividade é regulamentada e a profissional tem treinamento formal, além de ser cadastrada em uma sociedade da profissão. “O que se recomenda é que ela tenha ao menos um curso de enfermagem em obstetrícia. É assim em países desenvolvidos que trabalham com doulas. Agora a profissão precisa ser regulamentada no Brasil.”
COLABOROU CRISTIANE NASCIMENTO
Alvo de polêmica, doulas não têm atividade regulamentada
Folha de São Paulo
Apesar de poderem estar em salas de parto para ajudar as mulheres grávidas, as doulas ainda não têm a atividade regulamentada no Brasil. Organizações que representam essas auxiliares dizem que não está nos planos tentar um enquadramento legal da prática.
A ideia é incluí-las como ocupação, para fim de registro administrativo, a exemplo de massoterapeuta e técnico em acupuntura, entre outros.
Doulas são mulheres com experiência em maternidade que dão assistência a grávidas antes, durante e após o nascimento do bebê.
Não existe consenso sobre a prática, que virou alvo de debate em redes sociais após duas grandes maternidades de São Paulo, a Santa Joana e a Pró Matre Paulista, decidirem restringir a presença delas no parto. O motivo, dizem, é buscar menores índices de infecção hospitalar.
As unidades não proíbem a entrada das assistentes, mas as mães precisam escolher entre a presença do marido ou a da doula na hora do nascimento do bebê.
A obstetriz Ana Cristina Duarte, diretora do Grupo de Apoio à Maternidade Ativa, afirma que “no mundo inteiro não existe regulamentação da prática”.
“Ser doula é uma ocupação. Ela não tem nenhuma responsabilidade técnica e não executa procedimento técnico. Não pega em sangue, não põe a mão no bebê. É um outro tipo de assistência, como fazer massagem na mãe.”
Segundo ela, a próxima versão da Classificação Brasileira de Ocupações, do Ministério do Trabalho, deverá reconhecer a ocupação.
A vice-presidente do Cremerj (Conselho Regional de Medicina do Rio de Janeiro), Vera Lúcia Mota da Fonseca, que é ginecologista e obstetra, é contra a presença de doulas na hora de dar à luz –ela afirma que é preciso ver o parto com mais “seriedade”.
“Não é possível abrir a guarda da seriedade desse procedimento médico. É preciso entender que sem cuidados básicos as consequências podem ser drásticas”, disse.
FILMAGEM PODE
A analista de comunicação Alessandra Franco de Oliveira, 35, tem os hospitais Pro Matre e Santa Joana como única opção coberta pelo plano de saúde. Ela conta que estava certa de que o parto do primeiro filho, Raul, seria ao lado do marido e de sua doula.
“Fui no início da semana no hospital e disseram que aceitavam doulas. Depois, me mandam um e-mail mudando a versão. Não dá para optar entre marido e doula.”
Para ela, a justificativa dos hospitais não faz sentido. “Eles permitem entrar equipes de fotografia e filmagem. Se fosse para impedir infecção hospitalar, por que não retiram eles também?”, diz.
O aleitamento.com apoia DOULAS:
«pelo direito da Gestante ser acompanhada por uma doula durante o trabalho de parto, parto e pós parto em qualquer hospital brasileiro.»
Assine a petição: http://www.peticaopublica.com.br/?pi=doulabra