O comovente exemplo de um pai no Dia das Mães
Após perder a mulher no parto, funcionário público participa de Roda de Amamentação com a filha
Em uma homenagem ao Dia das Mães, foi o zelo de um pai com a filha recém-nascida que comoveu as participantes.
O funcionário público João Carlos Pocharschi, 50 anos, ingressou em um universo feminino e participou ontem da Roda de Amamentação do Hospital Conceição, em Porto Alegre. É um esforço para garantir alimentação saudável à menina mesmo após perder a mulher.
A má notícia chegou em uma sexta-feira de abril deste ano. No dia 16, a mulher, Sirlei Francisca Machado, 43 anos, não resistiu ao parto da filha. Foi uma surpresa para toda família. Os exames mostravam uma gravidez tranquila até o sétimo mês, quando houve uma alteração. Ela sofreu uma eclampsia, uma doença perversa, que se caracteriza pela hipertensão e leva a gestante ao coma ou a ter convulsões.
Mas Pocharschi nem teve tempo de chorar a morte da pessoa com quem havia convivido nos últimos oito anos. Precisava se manter forte para superar o desafio que viria pela frente: cuidar da filha que acabara de nascer sem ter a mulher do lado. Para superar a batalha, buscar força nos céus.
– Foi terrível o que aconteceu. Mas Deus nos dá a força necessária, nos fortalece para enfrentar essa situação – afirma.
Batizada pelo pai com o mesmo nome da mãe, a menina Sirlei deixou os familiares apreensivos nas semanas seguintes. Sem peso suficiente, precisou ficar em uma incubadora. Nesta semana, mostrou vitalidade e já atingiu 2,5 quilos.
O vigor da filha animou Pocharschi a não desistir. Ontem, ele procurou a Roda de Amamentação. Ali, ofereceu o leite à menina por meio de uma mamadeira.
O cuidado do pai recebeu o apoio de todos os pediatras e especialistas. Nos primeiros meses de vida, não há melhor alimento. A coordenadora do Grupo de Incentivo ao Aleitamento Materno Exclusivo, Maria Lourdes Tagliapietra, explica que ele é essencial para o desenvolvimento do bebê.
– O leite materno é o melhor leite. Ele é exclusivo. Muitas mães acham que é difícil amamentar, e é. Mas ele é o melhor para os filhos – afirmou.
Mas não é só na preocupação com a alimentação de Sirlei que se percebe o zelo de Pocharschi. Na Roda de Amamentação, carregava a filha enrolada em um pano junto ao peito e a enchia de carinhos. É uma tentativa para compensar a ausência da mãe, um esforço que tem sido duro, ele admite:
– É um pouco difícil essa tarefa porque a minha mulher não está aqui. Por outro lado, essa menina é tudo. Tenho feito frequentemente esse contato. Abro a roupinha, coloco uma fralda no peito e a aproximo de mim. E ela fica ali, sentindo o calor que é importante para ela, pois imagina que ainda está dentro do útero.
O leite materno acelera a recuperação de Sirlei. A previsão é de que ela tenha alta hoje do hospital. Com a necessidade de voltar ao trabalho, em Cachoeirinha, na segunda-feira para garantir o sustento à filha, ele contará com a ajuda de uma vizinha, com quem a mulher compartilhava cada passo da gravidez. Mas, depois do abalo que passou em abril, não tem coragem para planejar os próximos meses.
– Nesses últimos dias, aprendi que a gente tem de viver o dia a dia. É preciso deixar as coisas acontecerem – diz.
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MICHELE IRACET
* Foto:
Pocharschi se esforça para tentar compensar a ausência materna com zelo extra na alimentação