PSICÓLOGA AMERICANA
SUSAN LINN
LANÇA LIVRO
“CRIANÇAS DO CONSUMO”
Autora estimula a reflexão sobre os valores do mundo atual e sobre o tipo de pessoas que estamos formando com a avassaladora pressão da mídia e do marketing na vida das crianças.
Nos dias 28 e 29 de março, o Instituto Alana promoveu no Sesc Paulista (Av. Paulista, 119 – Paraíso) o I Fórum Internacional Criança e Consumo – Os Riscos do Consumismo Infantil.
Tendo como objetivo debater o impacto da publicidade nas crianças e alertar sobre seus perigos e abusos, o Fórum contou com a participação da psicóloga americana Susan Linn, que lançou no Brasil seu livro Crianças do Consumo – A infância roubada.
Publicado com sucesso nos Estados Unidos, o livro revela como as crianças se tornaram o mais recente e imenso mercado explorado pelas grandes empresas e corporações. O maciço investimento em marketing dirigido ao público infantil – com valor estimado em US$ 15 bilhões anuais somente nos EUA – é visto pela autora como uma ameaça aos esforços feitos pelos pais para estabelecer limites aos seus filhos. Os efeitos nocivos desse fato se estendem a outros aspectos, como diz Linn: “o marketing para crianças enfraquece os valores democráticos, ao encorajar passividade, conformismo e egoísmo. Ameaça a qualidade do ensino, inibe a liberdade de expressão e contribui para problemas de saúde pública como obesidade infantil, dependência de tabaco e consumo precoce de álcool.”
Mais informações no site do Instituto Alana (veja na seção links afins no www.aleitamento.com)
Ficha Técnica:
Crianças do Consumo – A infância roubada
Título original: Consuming Kids: The hostile takeover of childhood
Autora: Susan Linn
Tradução: Cristina Tognelli
Instituto Alana, 2006
Preço: R$ 39,00
Tiragem: 3.000 / 328 páginas
Formato: 15 cm x 21,5 cm
QUEM É A AUTORA
Susan Linn é professora de psiquiatria na Harvard Medical School (Boston, EUA) e diretora associada do Media Center do Judge Baker Children´s Center. Foi uma das fundadoras da Campanha para uma Infância Livre de Comércio (Campaign for a Commercial-Free Childhood).
Autora de diversos estudos sobre os efeitos da mídia e do marketing comercial em crianças, alia à sua habilidade como escritora o seu talento com o ventriloqüismo, sendo conhecida internacionalmente por seu trabalho inovador com o uso de fantoches na psicoterapia infantil.
O inimigo comum da infância
Antes de ser psicóloga, Susan Linn era ventríloqua e trabalhava com fantoches na televisão anglo-americana. Professora de psiquiatria na Escola Médica de Harvard, diretora de um centro de mídia infantil em Boston e
co-fundadora da Coalizão pelo Fim da Exploração Comercial Infantil, ficou conhecida pelo trabalho no uso de bonecos de mamulengo como ferramentas terapêuticas para crianças. Há pouco mais de uma década lançou nos Estados
Unidos estudo do chamado mercado infantil, passando a ser uma destacada ativista contra os efeitos do marketing em crianças e adolescentes.
O livro de Susan, intitulado Crianças do consumo – a infância roubada, foi lançado no Brasil na quarta-feira passada (29/3) no Sesc-São Paulo, encerrando a programação do 1º Fórum Internacional Criança & Consumo, realizado pelo Instituto Alana, com apoio do Sesc e do Itaú Cultural. Na ocasião, ela confessou que resolveu abraçar deliberadamente essa causa
quando as ações de marketing perderam totalmente a noção ética e começaram a avançar sobre os bebês com a produção de vídeos supostamente educativos com
telas direcionadas a recém-nascidos. A esse motivo de indignação somou-se a descoberta de que bonequinhos charmosos como os Teletubbies eram vendidos
inicialmente pelos ingleses como produto educacional, quando a bem da verdade não passavam de meras ferramentas de estímulo ao consumo infantil.
E vieram o Bob Esponja, a Turma do Bairro e tantos outros personagens, criados para entrar na vida das crianças, em nome do consumismo, não importando o quanto os produtos ou serviços que assinam possam afetar a saúde, provocar desvios de instrução, inibição da criatividade e a
desconstrução de valores sociais e culturais. As inteligências de marketing perceberam que a credulidade das crianças, somada à vulnerabilidade dos pais e à dificuldade da escola em se ajustar ao ritmo e características do mundo
contemporâneo, geraram condições ideais para a concentração de foco em um segmento de mercado capaz de suportar categorias de produtos que vão de
brinquedos ao fast-food.
O certo é que por trás dos bombardeios da erotização precoce, dos olhares desviantes concernentes ao corpo, da banalização da violência e da incitação à esperteza, existe uma indústria mundial que fatura US$ 15 bilhões
anualmente. Susan realça o fato de muitos programas infantis apresentarem os adultos como seres maldosos e estúpidos, sem o menor compromisso com a
compreensão de que para se desenvolverem com equilíbrio as crianças precisam se sentir seguras e para isso é fundamental o sentimento de consideração aos
adultos.
Adepta do juízo de que a boa brincadeira depende cerca de 90% da criança e apenas 10% do brinquedo, Susan advoga que é preciso dar um basta nos exageros de marketing que inverteram essa situação. Revela que a sofisticação da sedução, da persuasão e do assédio mercadológico à infância já produziu nos Estados Unidos um sem-número de soluções consumistas que sequer chegaram ao Brasil. Uma das mais graves investidas nesse sentido é conhecida como marketing viral. Para essa técnica as empresas utilizam-se de
instrumentos estatísticos nos quais se baseiam para enviar produtos a crianças que, por sua vez, passam a ser promotoras de venda espontâneas em um boca-a-boca que surte surpreendentes resultados comerciais: Já não
se consegue mais distinguir se a sugestão de um amigo é honesta ou se é apenas uma dica orientada pela indústria do consumo, denuncia Susan.
A gravidade da questão é imensurável e tende a piorar. Por se tratar de um problema de dimensões sócio-político e cultural, Susan acredita que só há um
caminho para o contra-ataque, que é a ampla mobilização social. Uma mobilização de direito e liberdade:
Direito das crianças de crescerem
livres dos abusos da publicidade, da propaganda e da promoção de venda; e liberdade dos pais e professores de poderem educá-las para a vida.
Como seria muito disperso tentar atingir os inúmeros segmentos indústrias que patrocinam esse desmonte, ela recomenda que a sociedade escolha a indústria
do marketing consumista como o inimigo comum da infância. Sabe que não é uma luta fácil, mas não sem esperanças.