Mulheres fortes, sim.
Mulheres sobrecarregadas, não!
Gabrielle Gimenez*
8 de Março: Dia Internacional da Mulher
Ser forte não significa ter que carregar o peso do mundo nas costas.
Quanta força podem carregar corpos aparentemente tão frágeis? Quanto poder existe nos atos de gerar, gestar, parir, amamentar, criar, educar?
Eu realmente acredito no poder feminino e na força transformadora da maternidade, não apenas na vida da mulher que se torna mãe, mas na vida dos seus filhos e filhas e de outras mulheres pela sua influência. Mas, maternar não precisa e nem deve ser um caminho solitário. Já diz o tão aclamado provérbio africano: “É preciso uma aldeia inteira para educar uma criança”. No entanto, na prática, isso está bem longe de ser realidade.
Quem trabalha com divulgação de conteúdo sobre amamentação e outros temas relacionados à parentalidade e saúde materno-infantil em redes sociais, sabe que a maior parte dos seguidores é composta por mulheres. No meu caso, dos quase 70 mil seguidores, apenas 4,1% são homens, segundo as estatísticas do próprio Instagram. E isso revela muito acerca do mundo lá fora. Estamos sozinhas trilhando um caminho repleto de obstáculos, sobrecarregadas, levando nos ombros o peso de uma responsabilidade que deveria ser compartilhada.
Engana-se quem pensa que gestação, parto, amamentação, saúde e desenvolvimento infantil, modelos de criação, etc., são assuntos de mulher. São assuntos de todos, homens e mulheres, mães e as que também não são mães, dos empresários, dos gestores, dos educadores, da classe política e médica, da sociedade em todas as suas esferas. Porque são temas com forte impacto na saúde pública, na qualidade do desenvolvimento humano, na sustentabilidade do planeta. Parece justo que todo esse peso recaia apenas sobre as mulheres? É preciso equilibrar a balança.
O tema da Semana Mundial de Aleitamento Materno deste ano é “Proteger a amamentação: Uma responsabilidade compartilhada”.
E que importante é entender a mensagem por trás desse slogan. Não adianta querer que as mulheres amamentem para melhorar os índices de aleitamento no Brasil e no mundo, sem lhes proporcionar a estrutura e apoio necessários. Não é suficiente criar políticas públicas fantásticas se elas não saírem do papel para ganharem vida e continuidade no mundo real. De nada servem os códigos internacionais e leis que protejam o parto ou controlem a comercialização dos substitutos do leite materno e itens conflitantes com a amamentação, se não houver entes responsáveis pela recepção de denúncias de infração, fiscalização do seu cumprimento na prática e implementação de penalidades aos infratores. Fazer com que as mulheres e suas famílias tenham acesso à informação que lhes permita poder de escolha é importante. Mas não o bastante, especialmente se os profissionais da saúde continuarem desinformando e induzindo ao erro na sua prática clínica, muitas vezes obsoleta e repleta de violência, em descarado descumprimento ao seu juramento de acima de tudo não causar dano.
As leis trabalhistas de proteção à amamentação e à maternidade precisam ser revistas e ampliadas.
Os pais precisam tomar para si a parte que lhes corresponde, com o comprometimento e seriedade que esses temas requerem. Uma cultura que desvia o olhar e não assume sua responsabilidade em todo esse contexto caminha rumo à sua própria involução.
Neste dia em que tanto se recordam e celebram as lutas das mulheres e os direitos adquiridos em virtude delas, o meu maior desejo é que eles sejam respeitados. Não apenas dentro das pautas dos discursos e homenagens que se proferirem hoje, mas de fato, no cotidiano do nosso contexto social, do mundo laboral e dentro dos nossos próprios lares.
*Gabrielle Gimenez é escritora (seu próximo livro já está na gráfica), ativista pela amamentação, mãe de três e Editora especial do portal aleitamento.com
[Na foto, quatro gerações de mulheres e a honra de compartilhar esta existência com minha avó, minha mãe e minha filha.]