Mamilos livres
“Free the Nipple”:
movimento mundial chega ao Brasil
Entenda o movimento mundial que luta pela libertação do corpo feminino
Eu tinha uns 9 anos quando ganhei o primeiro sutiã. Bege claro, discreto, nada de atenção – exatamente como deve ser. O intuito era cobrir os minúsculos seios, carinhosamente apelidados de ‘limãozinhos’ pela minha mãe.
Eles estavam começando a aparecer e não podiam, jamais, serem vistos. A ordem era cobrir em cima e fechar em baixo. Fechar não, cruzar. Porque mocinha educada senta de perna cruzada. Cresci assim, nesse ciclo de vigilância.
A libertação tardou, mas não falhou: hoje, aos 28 anos, ela não usa sutiã há seis. Juh apoia o movimento Mamilos Livres, que nada mais é do que uma versão lusófona do Free the Nipple, uma campanha mundial que reúne quase meio milhão de pessoas nas redes sociais em defesa da liberdade do corpo feminino.
Tudo começou em 2014, após o lançamento do filme Free The Nipple conseguir alcance mundial.
“É a resposta que a gente precisa. Você é uma mulher, é óbvio que você tem mamilos. Problematizar e censurar seios é surreal!”, comenta Juh.
Ela já teve seu Instagram de trabalho deletado após postar fotos de mulheres com peitos à mostra, sem cunho sexual. O mesmo aconteceu com seu Facebook.
“Não podemos exercer plenamente nossa liberdade. Somos privadas de existir do jeito que naturalmente somos”. Juh Almeida
Censuradas
A tatuadora e artista plástica Fernanda Albuquerque (@fefa071) também já teve fotos apagadas. Porém, para resolver o problema, bastou recortar mamilos masculinos e colar em cima dos dela.
Ficou provado, mais uma vez, que a censura é seletiva: a foto nunca foi excluída. “Continua lá, isso já tem uns dois anos. O problema não são os mamilos, são os mamilos das mulheres”, observa Fernanda, que largou o sutiã há três anos.
“Não acho justo que mulheres usem sutiã só porque disseram que elas precisam usar”. Fernanda Albuquerque
Para Darlane Andrade, psicóloga, professora da Ufba e pesquisadora do Neim (Núcleo de Estudos Interdisciplinares sobre a Mulher), é importante que a mobilização continue se espalhando pelo Brasil.
“O Free the Nipple tem crescido muito rapidamente, é um movimento libertário. No Brasil, a gente não pode mostrar os seios na praia, em outros países isso é comum. Aqui, a cultura do estupro é muito forte, somos ensinadas a nos vestir de forma ‘adequada’, nos cobrir com sutiãs para evitar situações de violência”, explica Darlane.
Amamentação
Se mulheres nuas em filmes pornográficos e revistas masculinas são muito bem aceitas, o papo é outro quando se trata de uma mãe alimentando seu filho em espaços públicos.
Afinal, vejam só, mulheres são mães e o leite materno é real. Isso também parece ser surpreendente. Olha que loucura: apenas quatro estados brasileiros têm leis que deixam claro que é permitido às mulheres amamentar (!) em qualquer lugar sem correr o risco da confusão com o tal ‘atentado ao pudor’.
Isso tendo em vista que, de acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), bebês devem fazer aleitamento materno até 2 anos ou mais e exclusivo nos primeiros seis meses de idade.
De acordo com o organismo, o leite materno protege contra doenças como diarreia, infecções respiratórias e alergias, além de ajudar na digestão, no desenvolvimento da musculatura orofacial e arcada dentária. Também auxilia no desenvolvimento cognitivo e afetivo, reduz a incidência de cáries e previne a obesidade.
Além de fazer bem para os bebês, o aleitamento reduz o risco de câncer uterino, de acordo com um estudo do Instituto de Pesquisa Médica QIMR Berghofer da Austrália.
Em abril de 2017 foi aprovada a lei que transforma o mês de agosto no Mês do Aleitamento Materno: o #AgostoDourado. Em maio do mesmo ano, o Ministério da Educação garantiu o direito à amamentação em escolas, universidades e outras instituições federais de ensino, independentemente de haver instalações destinadas especificamente para esse fim.
Porém, o direito das mães de amamentar em qualquer local público ou privado sem sofrer nenhum impedimento, garantido pelo Projeto de Lei do Senado (PLS) 514/2015 e idealizado pela senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB–AM), ainda está em fase de aprovação.
Enquanto isso, homem anda sem camisa por aí quando quer e bem entende. E revistas de nudez feminina continuam de vento em popa, às vezes mostrando um derrière, às vezes uns peitinhos.
“O problema não são os mamilos, são os mamilos das mulheres”. Fernanda Albuquerque, artista plástica
“Estou grávida e penso muito nisso. Estou só amamentando, é só isso. Ainda assim é visto como algo sexual, altamente erotizado, nesse contexto de mãe e bebê. Não é uma relação pornográfica”, desabafa a designer Ellen Trindade.
Ela está no sexto mês de gestação e sempre posta fotos com os seios aparentes. Muitas delas, para variar, já foram deletadas. Mas nossa voz é imune às tarjas. Essa, eles não podem censurar. Ainda bem.
Imagens:
· Foto do movimento Free The Nipple (Libertem os mamilos) no Instagram: com arte e bom humor, mulheres questionam a sexualização dos peitos femininos em comparação com a liberdade dos peitos masculinos.
· Juh Almeida (@juh_fotografia), como é conhecida a fotógrafa e cineasta Juliana Almeida, é a única menina entre quatro irmãos homens. Na infância, enquanto eles jogavam bola sem camisa, ela não podia fazer isso de forma alguma.
· A cantora Pitty amamentando sua filhinha, Madalena, em foto postada pela cantora no Instagram (Reprodução/Instagram)
· O movimento Free the Nipple também apoia a amamentação e luta para que o ato seja respeitado nos lugares públicos (Foto: Reprodução/ Instagram)
Fonte: bazar com Rafaela Fleur da Rede Bahia
Leia aqui no aleitamento.com nosso apoio à essa campanha #Mamiloslivres!
MAMILOS não podem ser censurados: #Mamiloslivres