Gestar, parir e amamentar: Maternidade, trabalho feminino em favor de todos
Gestar, parir e amamentar:
a Maternidade como um trabalho social feminino em favor de todos
Revista Ciência & Saúde Coletiva – novembro de 2018
A incorporação ao mercado formal de trabalho e a contracepção, agendas intensificadas a partir da segunda metade do século XX, criaram as condições para que as mulheres pudessem ter projetos próprios e se desgarrassem da tutela masculina. Redução da dependência do casamento ou da família de origem, decisão sobre o número desejado de filhos e o melhor momento para tê-los mudaram opções sobre maternidade, gravidez e parto. Entretanto, tudo isso não vem ocorrendo de forma linear. Hierarquias sociais produzidas pela intercessão entre classe e raça/etnia influenciam fortemente o acesso aos bens. Nesse sentido, os avanços obtidos pela redução da pobreza no Brasil e no mundo não foram suficientes para garantir a qualidade igualitária da atenção à gestação, ao parto e à amamentação.
Embora profundas desigualdades continuem presentes, um novo discurso em relação à maternidade tornou-se hegemônico. Não mais vige a ideia de uma contingência biológica ou de um suposto instinto. Tornar-se mãe passou a ser escolha para a quase totalidade das mulheres e muitas práticas relativas à parturição e ao aleitamento emergiram como projeto pessoal e coletivo.
Os artigos apresentados nesta edição, de diferentes formas tratam das repercussões das mudanças no modo de encarar a maternidade e o papel social da mulher. Os autores falam principalmente sobre direitos sexuais e reprodutivos que devem ser observados na atenção básica e em todo o conjunto de cuidados que os servidores da saúde devem oferecer ao ato de gestar, parir e amamentar.
Os textos sobre os modelos de parto, por exemplo, homenageiam a participação do setor saúde no processo de mudanças, embora alguns artigos apontem também problemas em relação à qualidade do atendimento e aos frequentes preconceitos contra parturientes e gestantes não brancas, inclusive na Rede Cegonha. Tais discriminações refletem como ideologias de gênero e racismo, atravessam a sociedade e penetram no trabalho em saúde, num momento tão crucial para a geração da vida. Alguns autores analisam outros aspectos como problemas relativos ao climatério, à menopausa, à obesidade e à situação das mulheres encarceradas.
Em seu editorial Ser mulher, gestar e parir: sentidos em transição e desafios para o setor saúde Wilza Vieira Villela, do Departamento de Medicina Preventiva, Universidade Federal de São Paulo, ressalta que, apesar das transformações evidentes, a sociedade ainda não valoriza a maternidade como um trabalho social feminino em favor de todos, o que urge ser feito, ao lado do reconhecimento das mulheres como agentes de sua própria vida.
Artigos temáticos
1. Saúde sexual e reprodutiva: competências da equipe na Atenção Primária à Saúde – Shana Vieira Telo; Regina Rigatto Witt
2. O preconceito contra a mulher entre trabalhadores da Atenção Primária em Saúde – Marcos Mesquita Filho; Thaline Figueiredo Marques; Ana Beatriz Cavalcanti Rocha; Suellen Ramos de Oliveira; Maíra Barbosa Brito; Camila Claudiano Quina Pereira
3. Vulnerabilidade de mulheres negras na atenção ao pré-natal e ao parto no SUS: análise da pesquisa da Ouvidoria Ativa – Rebecca Lucena Theophilo; Daphne Rattner; Éverton Luís Pereira
4. Novas práticas de atenção ao parto e os desafios para a humanização da assistência nas regiões sul e sudeste do Brasil – Ricardo Motta Pereira; Giovanna de Oliveira Fonseca; Ana Célia Cirino Costa Pereira; Gabrielly Antunes Gonçalves; Roberta Amaral Mafra
5. A representação cultural de um “parto natural”: o ordenamento do corpo grávido em meados do século XX – Lilian Fernandes Arial Ayres; Bruno David Henriques; Wellington Mendonça de Amorim
6. Burden of Mild Mental Retardation attributed to prenatal methylmercury exposure in Amazon: local and regional estimates – Ana Claudia Santiago de Vasconcellos; Paulo Rubens Guimarães Barrocas; Claudia Maribel Vega Ruiz; Dennys de Souza Mourão; Sandra de Souza Hacon
7. Fatores associados à ausência de aleitamento materno na alta hospitalar em uma maternidade pública de Maceió, Alagoas, Brasil – Micaely Cristina dos Santos Tenório; Carolina Santos Mello; Alane Cabral Menezes de Oliveira
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9. Fatores assistenciais e gestacionais associados à anemia em nutrizes atendidas em um banco de leite humano – Larissa Bueno Ferreira; Luisa Freitas de Melo; Maria Eduarda Fernandes de Melo; Taciana Maia de Sousa; Cristianny Miranda; Simone Cardoso Lisboa Pereira; Karine Antunes Marques Notaro; Luana Caroline dos Santos
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11. Common mental disorder among incarcerated women: a study on prevalence and associated factors – Celene Aparecida Ferrari Audi; Silvia Maria Santiago; Maria da Graça Garcia Andrade; Priscila Maria Stolses Bergamo Francisco
Artigos de revisão
12. Assimetria e simetria de gênero na violência por parceiro íntimo em pesquisas realizadas no Brasil – Thays Berger Conceição; Carolina Carvalho Bolsoni; Sheila Rubia Lindner; Elza Berger Salema Coelho
13. Influência da autoconfiança materna sobre o aleitamento materno exclusivo aos seis meses de idade: uma revisão sistemática – Isabela Silva Rocha; Luiz Fernando Lolli; Mitsue Fujimaki; André Gasparetto; Najara Barbosa da Rocha
14. Imagem corporal de adolescentes do sexo feminino saudáveis e sua associação com a atividade física: revisão sistemática – Roberta Luksevicius Rica; Danilo Sales Bocalini; Maria Luiza de Jesus Miranda; Vitor Engrácia Valenti; Eliane Florêncio Gama
Artigo de opinião
15. O Programa Nacional de Saúde Reprodutiva de Cabo Verde: alcances, limites e desafios – Wilza Vieira Villela; Redy Wilson Lima; Cláudia Fernandes de Brito
Artigos de temas livres
19. Uso de Facebook, estrés percibido y consumo de alcohol en jóvenes universitarios – Edna Idalia Paulina Navarro Oliva; Edilaine Cristina da Silva Gherardi-Donato; Javier Álvarez Bermúdez; Francisco Rafael Guzmán Facundo
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24. Plantas medicinais e fitoterápicos na Atenção Primária em Saúde: percepção dos profissionais – Gerson Mattos; Anderson Camargo; Clóvis Arlindo de Sousa; Ana Lúcia Bertarello Zeni
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36. Padrão epidemiológico da má oclusão em pré-escolares brasileiros – José Mansano Bauman; João Gabriel Silva Souza; Claudiana Donato Bauman; Flávia Martão Flório
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