Maternidade faz bem à carreira
Pesquisa aponta nova postura dos empregadores.
A carreira profissional e maternidade podem combinar.
Estudo aponta nova “mentalidade” das empresas, que vêem nas mães atributos que só elas têm. A assertiva de que carreira e maternidade não combinam, defendida, inclusive, por muitas mulheres que associam a gestação à estagnação do processo de ascensão profissional, pode estar com os dias contados. Pelo menos é o que mostra estudo da Great Place to Work, consultoria especializada em ambiente de trabalho, que há uma década seleciona, no País, as melhores empresas para se trabalhar.
Há três anos o estudo passou a fazer, também, a análise da presença feminina no ambiente corporativo. Os resultados são animadores. Se em 2004, elas ocupavam 35% dos empregos do ranking das melhores empresas apontadas pela instituição, em 2006 passaram a ocupar 38%. E aumentou, ainda, a participação em cargos de chefia, subindo de 20% em 2004 para 31% em 2006. Além das estatísticas positivas, o levantamento mostra que muitas das empresas passaram a valorizar mais as profissionais após a experiência da maternidade.
Para o presidente do Great Place to Work no Brasil, José Tolovi Jr., “os gestores das melhores empresas passaram a associar a maternidade ao desenvolvimento de competências como empatia, paciência, humanidade, habilidade de trabalho em equipe, capacidade de delegar e negociar, todas elas muito apreciadas no mundo corporativo”.
Para manter suas profissionais longe das garras da concorrência, as empresas estão criando até benefícios diferenciados: de ampla assistência médica para a mãe e o bebê a horário flexível de trabalho. “Não é questão de superestimar a mulher, mas de trabalhar o conceito de igualdade”, avalia Tolovi. “No Brasil, assim como na Europa, as mulheres ganham 30% a menos que os homens.” Para ele, isso se deve a uma falta de compreensão das questões femininas e não à competência, que não faz distinção de sexo. “Acima de tudo é a igualdade que leva à harmonia, imprescindível no bom desempenho empresarial”.
Karina Santana, diretora de RH do grupo capixaba São Bernardo Saúde, gosta de usar o adjetivo “acolhedor” para se referir ao amplo programa de apoio à maternidade da empresa. Há cinco anos ela teve Mateus, que nasceu com Síndrome de Down. “Quando Mateus tinha seis meses tive de levá-lo a Goiânia para uma cirurgia do coração e me ausentei da empresa por 30 dias. Nada me foi descontado, nem foi considerado férias”, conta. “Posso levar e buscar meu filho na escola, ou levá-lo ao médico sem problemas. Negocio horários sem cobrança e isto toda funcionária pode fazer”.
Para o presidente do São Bernardo Saúde, Walter Dalla Bernardina, a empresa só tende a ganhar quando seus funcionários estão empolgados. “No caso da mulher a opção pela maternidade pode gerar insegurança. Nosso programa de atendimento objetiva exatamente gerar o sentimento contrário. Ela sabe que pode se ausentar para exames, para cuidar da saúde do filho, e isto resulta numa maior aderência aos objetivos da empresa e a uma produtividade maior”, afirma. “Há uma afinidade que pode ser verificada, inclusive, com a forma regrada com que elas usam os benefícios.”
A analista de crédito da indústria farmacêutica Mantecorp, Danielle Falcão, também pôde sentir claramente a importância do programa de apoio à gravidez e à maternidade da empresa. Com uma filha de 12 anos, Isabella, há 11 trabalha na Montecorp – empresa que até o ano passado era uma joint venture com a Schering-Plough, hoje é de capital totalmente nacional, tem cerca de 1.500 funcionários e produz cerca de 100 milhões de unidades por ano entre remédios e cosméticos, incluindo marcas como Coristina e Coppertone.
Há oito meses nasceu Leonardo Jorge, seu segundo filho. “O apoio da empresa começou durante a gravidez”, elogia Danielle. “Um dos destaques é o curso de orientação, do qual a futura mãe e o futuro pai, mesmo não sendo funcionário da empresa, participam”, pontua. Ela conta que o curso tem obstetra, pediatra, assistente social, nutricionista, psicólogo e é realizado em um hospital de referência do Rio, o Barra dOr. “Na volta ao trabalho, a empresa ainda oferece um lactário, o que me permitiu amamentar meu filho.”
Para o gerente de Recursos Humanos da Montecorp, Alberto Gerhardt, como uma “empresa amiga da criança” e com um grande número de representantes do sexo feminino no quadro de funcionários, não fazia sentido a Montecorp não ter um programa total de apoio à mulher que resolve ter filhos. “E as vantagens são tanto para as operárias quanto para as executivas”, afirma.