Aumento da licença-paternidade, machismo e necessidade de uma educação de gênero, qualificação dos profissionais da saúde e educação para que envolvam mais os pais no cuidado das crianças pequenas. Esses foram alguns dos temas abordados no Seminário Paternidade e Primeira Infância, que reuniu mais de cem pessoas, entre organizações da sociedade civil, setor público, universidade, profissionais da saúde, educação e assistência social, e, claro, pais.
Na mesa de abertura, Paulo Bonilha, Coordenador da Área da Saúde da Criança e Aleitamento Materno, falou de ações do Ministério da Saúde para favorecer o envolvimento do homem no cuidado da criança, entre elas a participação do homem nas consultas de pré-natal e a qualificação dos agentes de saúde. “Um dos momentos mais emocionantes na minha vida foi acompanhar o primeiro ultrassom da minha filha, quando ouvi o coração dela bater pela primeira vez. Nós, gestores públicos, precisamos estimular para que o pai participe do desenvolvimento do seu filho”, afirmou Paulo Bonilha.
Heloíza Egas, da Secretaria Nacional de Diretos Humanos, elencou diversas leis que abordam o papel do pai e da família no cuidado das crianças. “Cuidar da primeira infância é cuidar de quem cuida dela”, afirmou durante a apresentação. Representando o Conselho Nacional de Direitos Humanos (Conanda), Fábio Paes, da Aldeias Infantis SOS, falou da importância do cuidado na dimensão social, familiar e íntima, e sobre o debate necessário sobre o machismo. “Precisamos de respostas concretas para os desafios que as restrições de gênero impõem aos homens e mulheres no cotidiano”. Luciana Phebo, do Unicef, propôs refletir sobre a paternidade como uma forma de diminuir desigualdades e impactar positivamente não só a criança e a família, mas toda a sociedade.
Claudius Ceccon, coordenador da Secretaria Executiva da Rede Nacional Primeira Infância e diretor do CECIP – Centro de Criação de Imagem Popular, felicitou a capacidade da Rede de reunir sociedade civil, gestores públicos e atores em uma frente de militância e apoio mútuo na promoção desse direito tão importante das crianças. E reforçou o caráter descentralizado da Rede Nacional Primeira Infância, que mostra sua força em eventos como o Seminário, que foram construídos em cooperação por diferentes organizações.
Cuidado Paterno e seus impactos na primeira infância, e institucionalização do cuidado
Ao longo do dia, diversas mesas aprofundaram o debate em diferentes campos relacionados ao tema. Na mesa “Cuidado paterno e seus impactos na primeira Infância”, Marcos Nascimento, do Instituto Fernandes Figueira, da Fiocruz, reforçou a importância de pensar no cuidado como uma construção cultural, e não como instintivo ou natural. Citando a ausência de banheiros masculinos com fraldários, Marcos Nascimento abordou a importância de políticas públicas que favoreçam a cultura do cuidado entre os homens.
Maria Luiza de Carvalho, professora de Terapia Ocupacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro, apresentou dados e reflexões da pesquisa que fez com pais que cuidaram sozinhos de seus filhos. No seu relato, a professora enumerou os benefícios da paternidade na vida desses homens, como a descoberta do prazer em executar tarefas socialmente consideradas como femininas, amadurecimento psicológico, aumento da autoestima e autonomia. “Nas entrevistas que fiz para a pesquisa, os olhos dos homens brilhavam ao falarem emocionados, felizes e satisfeitos com as tarefas cuidadoras e com o contato amoroso diário com seus filhos”.
Da Coordenação Nacional de Saúde dos Homens, do Ministério da Saúde, Angelita Herrmann trouxe dados da Ouvidoria Geral do SUS, que mostram que mais de 60% dos pais não acompanharam os partos de seus filhos. Angelita afirmou que engajar os homens no acompanhamento da gestação e do parto de suas parceiras e nos cuidados no desenvolvimento da criança traz diversos benefícios para o homem. Entre eles, melhor qualidade de vida e vínculos afetivos saudáveis, além de valorizar modelos masculinos positivos, que inspiram capacidade de ouvir, negociar e cooperar, pautados no respeito, tolerância, autocontrole e cuidado.
Na mesa que abordou as estratégias de institucionalização do cuidado paterno, Viviane Castello-Branco apresentou as ações de promoção da paternidade realizadas pelo Comitê Vida, da Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro. Entre elas, as Unidades de Saúde Parceiras do Pai, iniciativa considerada modelo no país, e a campanha do Mês de Valorização da Paternidade, que mobiliza unidades de saúde do munícipio, sempre em Agosto.
Marco Aurélio Martins, do Instituto Promundo, apresentou as ações da ONG no Brasil sobre o tema, e chamou a atenção para o processo de mudança cultural de envolvimento dos homens, que envolve diferentes esferas: o nível individual (mudança de percepção e prática de homens e mulheres sobre as masculinidades e o cuidado), o nível comunitário (comunidades empoderadas e conscientes promovendo e estimulando os moradores e governo para discutir e praticar o cuidado) e o nível institucional (creches, unidades de saúde, segurança pública e empresas em que as políticas públicas de promoção da equidade de gênero são priorizadas).
Documentário, atividades culturais e comunicação e mobilização em debate
Antes da última mesa, foi exibido o documentário curta-metragem “Pai não é visita”, que emocionou o público. O filme, realizado pelo Instituto Papai, traz relatos de homens que foram impedidos de acompanhar os partos de seus filhos, e informa sobre a lei do acompanhante, que garante a presença homem no parto, sem custo. Duas atrações culturais também animaram os participantes: a apresentação do coral do colégio Pedro II Unidade Engenho Novo, que dançou e cantou uma música cujo tema era a ausência do pai, e a apresentação de Silvio Carvalho, cantando e tocando a música “Coisas de Homem”, de sua autoria, em que reivindica um novo papel para o homem contemporâneo.
A última mesa de debates do dia apresentou experiências de mobilização e comunicação do tema. Mariana Azevedo, do Instituto Papai, apresentou as campanhas “Dá licença, sou pai”, e “Pai não é visita”, realizadas pela ONG de Recife, que alertam para o descumprimento da lei do acompanhante. Thiago Queiroz foi outro dos palestrantes. O autor do blog “Paizinho, Vírgula” – cujo blog tem mais de 1 milhão de page views e a página no Facebook, mais de vinte mil seguidores – trouxe sua experiência como pai e mobilizador.
O primeiro dia foi encerrado com um coquetel de lançamento de duas novas produções do Instituto Promundo: da plataforma digital “Homens Cuidam”, e da segunda edição do manual “Programa P”. Essa versão inclui um novo suplemento – “Educação sem violência: Ferramentas para a participação dos pais em uma educação sem violência e com equidade de gênero” – uma oficina sobre sling (carregadores de panos para bebês) e informações sobre parto humanizado.
Grupos de trabalho e plenária
No segundo dia de evento, os participantes se dividiram em quatro Grupos de Trabalho. Os grupos Paternidade: educar, cuidar e brincar com as crianças, Paternidade e prevenção à violência contra as crianças, Paternidade: desafios para os meios de comunicação e Unidade de Saúde Parceira do Pai debateram e elencaram propostas de ação para favorecer uma cultura de cuidado para homens e mulheres. As proposições e reflexões de cada GT foram apresentadas pelos relatores em uma plenária final, e serão analisadas e incorporadas no planejamento do GT Homens pela Primeira Infância, da Rede Nacional Primeira Infância.
Realização
O Seminário Nacional Paternidade e Primeira Infância foi iniciativa da Secretaria Executiva, atualmente realizada pelo CECIP – Centro de Criação de Imagem Popular, e uma realização do GT Homens pela Primeira Infância, da Rede Nacional Primeira Infância (RNPI), que reúne as seguintes organizações: Aldeias Infantis SOS, Instituto Promundo, Instituto Papai, Portal Aleitamento.com, Comitê Vida da Prefeitura do Rio de Janeiro, Plan Brasil. O seminário Paternidade e Primeira Infância contou com o apoio do Unicef e Sinpro-Rio.
Rosa Maria Mattos Rede Nacional Primeira Infância
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