Agora, sou um pesquisador do tema paternidade
Morar na mesma cidade que a filha e só poder vê-la quinzenalmente é o dilema do pediatra Marcus Renato de Carvalho, pai de Sophie, 3,5 anos, ele enfrenta muitas dificuldades para participar de sua vida. E faz da luta pessoal um meio de ajudar outros pais na mesma situação.
Entrevista a Lilian Luz
Ele é um defensor fervoroso da guarda compartilhada, ou seja, poderes iguais para pai e mãe decidirem sobre a vida de seus filhos, mesmo estando separados. E não é sem motivos. Aos, 47 anos, o pediatra Marcus Renato de Carvalho, pai de Clara, 12 anos, e Sophie, três anos e meio, trava com a mãe da caçula uma verdadeira batalha para acompanhar o dia-a-dia da filha.
Longe, tão perto
“A Clara mora com a mãe, em Belo Horizonte. Apesar da distância, nos falamos com freqüência por telefone, trocamos e-mails e nos vemos em alguns finais de semana, feriados e nas férias dela.” Marcus participa da escolha do colégio, das decisões sobre a aula de violão, leva a menina ao médico, que é no Rio, e, com orgulho, conta uma das últimas aventuras de Clara. “Ela escreveu um livro sobre a avó, para um trabalho da escola. Fiz o prefácio. O sucesso foi tão grande que me chamaram para dar uma palestra no colégio.”
Com a caçula, no entanto, a situação é bastante diferente. “Apesar de nós dois morarmos no Rio, nos vemos muito pouco. Existe uma grande dificuldade com a mãe da Sophie. Ela não me deixa ter acesso a nada que diga respeito a minha filha: da escolha do pediatra à educação da menina. Queria poder compartilhas as decisões e aumentar o convívio.”
“Sophie já está na escola. Conquistei na Justiça o direito de buscá-la e levá-la pelo menos uma vez por semana, o que é muito pouco. Quero ser pai integralmente, mas não me deixam.”
Professor de Paternidade
Toda essa dificuldade abriu um novo campo para o médico. “Agora sou um estudante, um pesquisador do assunto”, diz Marcus, que é, também professor da disciplina de Saúde Materno – Infantil onde dá aula sobre a Importância da Paternidade do curso de Psicologia da UFRJ.
Em 2003, ele lançou a campanha Pai, dê peito para o seu filho. No ano passado o tema foi Pelo direito à paternidade, em favor da guarda compartilhada, lei que está no Congresso Nacional. “Pela legislação brasileira, a mãe fica com a guarda da criança. Algumas, porém, se utilizam disso para fazer chantagem, negociar.” Em agosto deste ano, o tema será Paternidade Consciente. “Já temos o apoio da Prefeitura do Rio, o que é muito importante.”
Dividir tarefas
“O homem deve compartilhar as tarefas domésticas com a companheira. Afinal de contas, se eles moram juntos, a casa é dos dois. Alguns não conseguem trocar fraldas, por exemplo, mas podem fazer outras coisas. Enquanto a mulher estiver amamentando, ele pode apanhar um copo d`água, ajeitar a poltrona, fazer comida…”, diz o pediatra.
“Tenho percebido no consultório que os pais estão participando mais da vida de seus filhos, indo às consultas, levando à escola. Esta mudança tem muito a ver com as novas condições do mercado de trabalho. A mulher está economicamente mais ativa e o homem, muitas vezes, trabalhando mais em casa.”
Segundo Marcus Renato, cabe às mulheres incentivar a convivência pai/filho. “Elas, às vezes, desautorizam o homem. Após o parto, ficam muito leoas e podem acabar dizendo o que não devem para os companheiros: que eles não sabem fazer nada, que não conseguem segurar a criança direito, etc. Não é verdade; eles apenas seguram do seu jeito, que é diferente do jeito delas. E este tipo de atitude só faz com que a auto-estima dos homens baixe, que eles não se envolvam com os filhos”, alerta.
Bom para os pais, bom para os filhos
O pediatra conta um caso inusitado que aconteceu, recentemente, em seu consultório. “O namorado assumiu a paternidade da filha da namorada que, naturalmente, já estava grávida quando eles se conheceram. Isso é sensacional, de uma generosidade enorme.”
“Estudos mostram que a ausência do pai no desenvolvimento de uma menina, por exemplo, pode aumentar os índices de gravidez na adolescência e sexualidade precoce. Aumentam também os casos de depressão, uso de drogas, suicídio. O papel do pai é fundamental”, Marcus Renato defende.
Se para os filhos essa convivência é tão importante, para o pai, do mesmo modo. “O homem fica mais terno, menos violento; torna-se mais afetivo. Percebi isso em mim, depois que me tornei pai. Agora, não sou mais eu sozinho. Quando adoeço ou fico hipertenso, é ruim para mim e para minhas filhas também.”
Outra bandeira levantada pelo pediatra é o aleitamento materno. Em 1996, ele criou um site para de difundir o tema. O trabalho começou quando trabalhava como coordenador do antigo IBFAN Rio (International Baby Food Action Network – uma ONG em defesa da amamentação). “O projeto cresceu tanto que criamos o site www.aleitamento.com. A cultura da amamentação precisa ser recuperada.”
E nunca é demais lembrar. “O ideal são seis meses de amamentação exclusiva no peito. Para contribuir com isso, estamos à frente de uma campanha de ampliação da licença-maternidade. Hoje em dia, já existem algumas empresas, como a Avon e a Natura, que são amigas da amamentação. Elas dispõem de creche no local de trabalho, o que ajuda a mulher a dar de mamar por mais tempo. O resultado é maravilhoso. Aumentou a produtividade e diminuíram as faltas por doença dos filhos.”
Marcus Renato ressalta, também, que quanto mais a criança mamar no peito, mais protegida ela estará de doenças. “O melhor é que a amamentação se prolongue até os dois anos de idade ou mais.”
Para as mães que acham que não têm leite ou têm em pouca quantidade, ele dá o aviso. “A mama não é um depósito de leite, e sim uma fábrica. Quanto mais o bebê estimulá-la, mais leite a mulher terá.”
Copyright© 2000, TopBaby – Todos os direitos reservados.
Publicado em 13 de abril de 2005 www.topbaby.com.br