SAÚDE / PEDIATRIA
Presença do pai adia o fim da amamentação do bebê
Em casais separados, dobra chance de criança parar de mamar antes de seis meses
Pai com alto grau de escolaridade também influencia
negativamente o período de aleitamento materno
FERNANDA BASSETTE
DA REPORTAGEM LOCAL
A importância do aleitamento materno nos primeiros seis meses de vida do recém-nascido é algo amplamente reconhecido pelas famílias. O que pouco se conhecia era a influência que a figura paterna exerce no período de amamentação do bebê. Os pais são, sim, fundamentais para que a criança não largue o peito antes dos seis meses recomendados pela Organização Mundial da Saúde.
Estudos realizados pela Universidade Federal de Minas Gerais, pela Faculdade de Ciências Médicas de Minas e pela Unicamp confirmam que a presença do pai é um fator que influencia no período que o bebê está em amamentação.
Os pesquisadores mineiros entrevistaram 450 famílias e concluíram que, se o pai não mora na mesma casa do bebê, a chance de a criança parar de mamar no seio antes dos seis meses é o dobro da de uma que mora com os pais. O fato de a mãe trabalhar fora não exerceu influência relevante.
A explicação para isso é que a presença do pai dá mais segurança para a mulher. A ausência dele influenciaria no psicológico da mãe, interferindo na produção do alimento. “Sem leite, a mãe não consegue amamentar e tende a desistir da amamentação exclusiva”, disse o pediatra Francisco Silveira, um dos autores do estudo.
Outro fator que chamou atenção na pesquisa foi o grau de escolaridade do pai. Nas casas onde o pai tinha mais formação, as crianças também desmamavam mais rápido. A justificativa para isso, segundo Silveira, foi a influência dos produtos industrializados.
“Existe uma tendência dos pais de acharem que o leite materno é fraco e que não está sustentando o bebê. Com mais condições, eles acabam levando para casa outros tipos de alimentos, influenciando negativamente no tempo da amamentação”, disse Silveira.
O pediatra Marcus Renato de Carvalho, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro e especialista em amamentação, concorda com os resultados da pesquisa.
Segundo ele, que há três anos realiza campanhas de valorização do cuidado paterno, é necessário que o pai esteja envolvido em todos os momentos da gestação.
“Muitos pais não sabem as vantagens da amamentação e podem reagir inadequadamente, tendo ciúmes do bebê, por exemplo. E o pai é muito importante nesse período. Ele não pode dar de mamar, mas pode ajudar a mãe de outras formas, trocando a fralda do bebê, fazendo a criança dormir.”
Segundo Carvalho, o fato de a mãe ter de voltar a trabalhar depois de quatro meses não influencia no desmame precoce do bebê. Segundo o Ministério da Saúde, a média nacional de amamentação exclusiva no peito é de 38,8 dias.
Roberto Tozzi, pediatra do Instituto da Criança do Hospital das Clínicas de São Paulo, disse que o pai é o responsável pelo equilíbrio da família. “Se ele está por perto, a mãe se sente mais segura. Sem ele, a mãe pode ficar mais ansiosa e isso interfere diretamente na produção do leite”, afirmou.
Para a ginecologista e obstetra Carolina Carvalho, da Unifesp, a participação do pai é uma forma de “integração” da família. “Quanto mais o homem colaborar, mais fácil será para a mulher amamentar.”
passei por isso
“Meu marido sempre foi bastante participativo”
DA REPORTAGEM LOCAL
Eu e meu marido éramos loucos para ter um filho, mas não conseguia engravidar. Tentamos por dois anos e só conseguimos depois de um longo tratamento. Por conta disso, meu marido sempre foi bastante participativo.
Quando o meu primeiro filho (Matheus) nasceu, era tudo muito novo para nós e não sabíamos como lidar com os problemas, entre eles o da amamentação.
Eu tinha muito leite e meus seios doíam demais. Então, quando eu ia dar de mamar, meu marido sempre ficava ao meu lado, colocava um travesseiro para que eu apoiasse o braço e até fazia massagens no meu seio para tentar aliviar a dor.
Era ele que me acordava durante a madrugada para dar de mamar. E ele ficava acordado comigo. Amamentei o Matheus até ele completar um ano de idade.
Com o meu segundo filho (Arthur), que está com dois meses, não foi diferente. Ele sempre esteve pacientemente ao meu lado. O apoio dele foi muito importante.
Principal queixa dos homens é falta de informação na realização do pré-natal
A principal queixa dos pais de primeira viagem com relação à amamentação é a falta de informação sobre o assunto durante o período de pré-natal. Segundo a socióloga da Unicamp Graciana Alves Duarte, que estudou o comportamento de casais que passavam pela experiência com o primeiro filho, muitos não sabiam como reagir quando surgiram os primeiros problemas da amamentação.
“Os pais diziam que durante o pré-natal tanto eles como os médicos estavam mais preocupados em falar sobre a saúde do bebê, da mãe e de como seria o parto. Claro que falavam da importância da amamentação, mas sem detalhar possíveis dificuldades”, disse.
Segundo Graciana, os pais procuravam o berçário quando o leite empedrava, o bico do seio rachava, ou a mãe sentia algum tipo de dor e desconforto durante a amamentação. “Percebemos que isso acontecia porque os pais acreditavam que o processo de amamentação aconteceria naturalmente depois do parto, sem nenhuma intercorrência”, afirmou.
Segundo a socióloga, na pesquisa ficou constatado que a maioria das mães procuravam informações sobre aleitamento em revistas, na internet, em livros e em cursos. “Eles [os pais] achavam que esse era um assunto para ser discutido só depois que o bebê nascesse.”
PERGUNTAS
1
Quais são as vantagens da amamentação exclusiva no peito para o bebê?
As principais vantagens do aleitamento exclusivo no peito nos primeiros seis meses de vida do bebê são a redução da incidência de doenças como alergias alimentares e asma, redução da ocorrência de diarréia, aumento da imunidade da criança, redução do número de infecções e também do número de internações
2
Quais são os reais benefícios do leite materno?
O leite materno é considerado o ideal para o recém-nascido porque contém todos os nutrientes para garantir o crescimento saudável da criança. É formado principalmente por água e anticorpos da mãe que passam para o bebê, protegendo-o logo nas primeiras mamadas
3
E quais são as principais vantagens do aleitamento materno para a mãe?
O aleitamento materno ajuda a proteger a saúde da mãe, ajuda o útero a recuperar seu tamanho normal reduzindo o risco de hemorragia, reduz o risco de câncer de mama e de ovário
4
Existe leite materno fraco ou aguado?
Não. Muitas mães consideram seu leite fraco, porque o comparam com leite de vaca, que é mais denso e consistente.
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