“Pais – uma experiência” é lançado em Portugal
Livro mostra que é possível
aprender a ser pai ou mãe
Não pretende ser um manual de pais, porque é impossível ensinar a paternidade. É “o retrato” de uma experiência de educação parental co-construída por dois psicólogos e um grupo de progenitores. «Pais – Uma experiência», de Hugo Cruz e Inês Pinho, já está nas bancas.
Carla Teixeira e Mariana Oliveira
Não há regras que ensinem a ser pai qualquer pessoa que acaba de ter um filho.
Não há regras que estipulem, na relação de cada progenitor com cada criança, o que quer que tenha sido tido como correcto ou adequado para os seus irmãos mais velhos. As crianças são elementos únicos e individuais, e também os adultos são diferentes com um e outro filho, num e noutro momento das suas vidas, às vezes de manhã e à noite no mesmo dia.
A paternidade é um processo criativo, que exige dos pais capacidade de adaptação à evolução dos jovens, particularmente na adolescência, que acicata o fosso intergeracional e transforma qualquer diferença de opinião num diferendo fatal. O papel do pai tem de ser criativo. Porque saber os princípios básicos do respeito, da comunicação e do dar e receber não chega para ensinar a emoção.
Esta é a mensagem do livro «Pais – Uma experiência», dos psicólogos Hugo Cruz e Inês Pinho, lançado anteontem pela Editora Papiro em Santa Maria da Feira, numa sessão em que marcaram presença os autores, Daniel Sampaio e Maria Emília Costa, que prefaciaram a obra, Amadeu Albergaria, vereador da Cultura e Educação da autarquia local, e Eduardo Oliveira Costa, editor. Salientando que “os pais foram o motor e o motivo” de um “exercício difícil” cuja complexidade não cabe em 150 páginas, os autores explicaram que a obra “não visa ser um manual de pais”, mas “trilhar um caminho para uma educação parental segura e menos envolta no medo e na angústia.
Maria Emília Costa, que foi professora de Hugo Cruz e Inês Pinho, salientou “razões afectivas, científicas e técnicas” para orgulhosamente apadrinhar o “arrojo” dos dois psicólogos, asseverando que o projecto Pais XXI, desenvolvido na Feira, “tem elevada qualidade”, com um grupo de “pais maravilhosos a transmitir-nos a mensagem que urge interiorizar: ser pai é sentir dificuldades e rotinas, mas também crescer a brincar, inovando e aprendendo com os filhos”.
Daniel Sampaio evidenciou que, ao contrário do que se pensa por vezes, “é possível trabalhar com os pais, moderando, catalisando e fermentando experiências”, sendo este “um trabalho modelar” que “visa ajudar os pais a construir respostas”. Em nome da Papiro, Eduardo Oliveira Costa sublinhou que esta é “uma obra válida e com conteúdo”, e que “são essas obras que deixam marca e interessam às editoras”. Antes do lançamento, os pais envolvidos no projecto representaram a peça «Retratos de família», que está para o palco como o livro está para as livrarias.
Jogaram à macaca, à cordinha e à cabra cega. Brincaram com marionetas. Imaginaram-se velhinhos numa fingida viagem ao futuro. Encarnaram actores e actrizes. Pode parecer estranho, mas os participantes destas actividades já ultrapassaram todos os trinta anos. São pais. E os exemplos enumerados foram experiências que destacaram. Viveram-nas no âmbito do Pais XXI, um dos poucos projectos de educação parental do país. O trabalho ganhou agora a forma de livro e é hoje lançado às 21h30, na Esplanada Orfeu, em Santa Maria da Feira.
Hugo Cruz e Inês Pinho, os psicólogos responsáveis pelo projecto, escreveram Pais – uma experiência. Os prefácios são de Daniel Sampaio, fundador da Sociedade Portuguesa de Terapia Familiar, e de Maria Emília Costa, professora catedrática da Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade do Porto. Daniel Sampaio não hesita em recomendar o livro “a todos os pais e a todos os técnicos que se dedicam à intervenção junto das famílias”. Afinal, a educação parental é uma das maiores reivindicações das Comissões de Protecção de Crianças e Jovens, um instrumento das medidas de protecção que tarda em chegar.
“Ao fomentar a criança que há em nós estamos, pois, a promover a espontaneidade, a liberdade, a informalidade, o humor, tudo ingredientes fundamentais na educação dos filhos”, explicam os autores do livro. O objectivo do projecto, que começou em Junho de 2003 e ainda funciona, é promover o diálogo, a reflexão e a partilha de experiências que reforcem e estimulem o papel dos pais. “Não era sua finalidade dotar os pais de qualquer curso habilitador e profissionalizante. A paternidade e a maternidade não se ensinam, aprendem-se”, defendem Hugo Cruz e Inês Pinho.
Procuraram, por isso, valorizar os saberes dos pais e promover jogos, actividades de exploração sensorial e corporal e dramatizações. “O caminho que percorremos é motor e motivo de análise, discussão, partilha e fonte significativa de aprendizagem e valorização”, acreditam os autores.
Dispensaram as novelas e o futebol
As opiniões dos pais comprovam o sucesso da estratégia. “Descobri que, a qualquer altura da nossa vida, e principalmente quando temos os filhos, é muito importante brincar com eles”, testemunha uma mãe de duas crianças. Para muitos, o Clube de Pais é uma forma de conversar, de desabafar, de libertar o stress. A prová-lo está o facto de muitos terem dispensado as novelas, o futebol e até a bebida.
“Há sempre aquela preocupação minha de estar a ser observado, de estar a cometer gaffes, e aqui não existe nada disso. A gente consegue sentir-se à vontade mesmo sem precisar de uma gota de álcool”, conta um pai de três filhos menores.
Quase todos apontam melhorias no relacionamento com os filhos. A maioria de comunicação. “Aprendi a saber ouvi-los para depois [saber] responder, saber o que vou responder com serenidade e calma. Anteriormente, exaltava-me e respondia à toa”, conta uma mãe. Alguns aprenderam a desligar a televisão. “Nós conversamos muito mais do que antes de vir para aqui, por exemplo, à mesa”, conta um pai de 43 anos, adiantando que tinha o hábito de ter a televisão ligada às refeições. “Gradualmente, vou aprendendo a ser mais tolerante”, admite outro pai.
“Os testemunhos dos participantes são elucidativos da importância deste tipo de acções, bem como do prazer retirado em diversas actividades. Reflectir sobre si próprio, promover o autoconhecimento, reconstruir modelos de si próprio, do outro e do mundo que funcionam como alicerces das nossas relações e consequentemente interferem no exercício da parentalidade são processos psicológicos que podem ser promovidos através do jogo, do corpo, da representação de papéis… e esta intervenção aqui apresentada é a sua demonstração”, sublinha Maria Emília Costa, no seu prefácio.
Livro retrata experiências com pais
‘Pais, Uma Experiência’ é o livro da autoria de Inês Pinho e Hugo Cruz, que vai ser lançado no dia 27 de Junho, pelas 21h30, na esplanada Orfeu, em Santa Maria da Feira. A apresentação da obra estará a cargo de Maria Emília Costa e Daniel Sampaio, que escreveram o prefácio do livro. A sessão vai abrir com o espectáculo ‘Retratos de Família’, onde os actores são pais que, durante dois anos e meio, integraram o Clube de Pais, do projecto de intervenção social Pais XXI. De resto, um dos capítulos do livro “Teatro e Educação Parental” retrata o processo criativo deste espectáculo.
No prefácio do livro, Daniel Sampaio escreve: “Hugo Cruz e Inês Pinho souberam condensar, numa centena de páginas, uma experiência estimulante de trabalho, construída com o pais e não para os pais, colocando-se numa perspectiva muito diferente das habituais “Escolas de Pais” ou “Cursos Para Pais” que, em muitos casos, se limitam a promover sessões em que um “perito” indica aos pais o modo de agir, sem que o processo de “ensino” motive para alguma mudança significativa na interacção com os filhos. Neste livro “Pais, Uma Experiência”, a educação parental é entendida como “um processo co-construído” ao longo da intervenção com os pais, no sentido de se desenvolverem e reforçarem “competências parentais que permitam um melhor e mais adequado desempenho das funções educativas”, o que permitiu, a partir de um projecto inicial de prevenção primária das toxicodependências, desenvolver um conjunto de iniciativas de capacitação dos pais intervenientes, afinal os protagonistas de todo o processo”.
Daniel Sampaio escreve ainda: “O livro “Pais, Uma Experiência” é, no entanto, muito mais. Sem a pretensão, por vezes arrogante, de um manual científico e muito longe de um aconselhamento paternalista, fornece motivos de reflexão não só para os pais, mas para os técnicos que com eles trabalham, ou para aqueles que se interessam pela família. Constituiu um modelo de trabalho com os pais, sobretudo pela experiência do “Clube de Pais”, onde a criatividade, o suporte, a partilha e o diálogo entre as diversas famílias (tirando partido da sua heterogeneidade) se concertam numa capacidade invulgar de potenciar as competências dos diversos agregados familiares, reforçando em cada momento a sua capacidade de intervenção junto dos filhos”.
Enfoque no Clube de Pais
O livro “Pais, Uma Experiência”, da Papiro Editora, é da autoria de Inês Pinho e Hugo Cruz e focaliza-se numa actividade específica do projecto Pais XXI (Clube de Pais), não deixando de tocar outras actividades que constituem o projecto. Este projecto, desenvolvido no âmbito do Plano Municipal de Prevenção Primária das Toxicodependências de Santa Maria da Feira, tem como entidade promotora a FapFeira (Federação das Associações de Pais e Encarregados de Educação do Concelho), e como parceiros a Câmara Municipal de Santa Maria da Feira, o Centro Social de Lourosa e o Centro Social de Fiães Padre José Coelho, tendo sido financiado pelo IDT (Instituto da Droga e da Toxicodependência), até Agosto do ano passado.