Forma de relacionamento entre PAI – FILHA causa impacto futuro na relação HOMEM – MULHER
Toda Mãe quer filha mulher para se projetar, para trocar com ela confidências e repartir os segredos da vaidade feminina. Todo pai quer um filho homem para se deixar de herança sua sabedoria e talvez sua profissão. É uma análise não totalmente incorreta, mas bem preguiçosa. Por trás dos estereótipos estão mães e filhos com uma cumplicidade que ultrapassa a diferença dos sexos, pais e filhas unidos pela atração mútua. Só que mães e filhos sempre vivenciaram a intimidade. Pais e filhas, nem sempre.
Estou invadindo o terreno da psicologia porque li outro dia uma reportagem que tentava decifrar um dos mistérios do universo feminino: como uma mulher gordinha, baixinha, bem normalzinha, pode ter mais sex appeal do que uma lindona com o corpo sarado? Sim, senhores, meteram o pai nesta história.
Confiança em si mesma, auto-estima e segurança em relação à própria sexualidade não estão relacionados com altura, peso e medida da cintura. Atraímos os outros não quando tiramos a roupa, mas quando tiramos a membrana que muitas costumam usar para impedir as pessoas de se aproximarem. Acreditamos que esta membrana irá nos proteger de algum possível fiasco amoroso, de alguma possível rejeição. Vestimos esta membrana, ou a despimos, por vários motivos, e o relacionamento com o pai é um deles.
Para quem nasceu na primeira metade do século XX, a imagem de um pai que toque, que abrace, que beije, que abrace, que elogie. Que penteie os cabelos da filha e a tire para dançar, tudo isso é pura ficção. Os pais eram distantes e havia muitas coisas que impediam a aproximação física e a sedução metafórica. As garotas não se sentiam “desejadas” pelo primeiro homem de suas vidas, e o segundo, o marido, é que tinha que segurar as conseqüências.
Hoje pais e filhas exercem seu amor sem reservas. Não existe mais aquela hierarquia paterna que só permitia carinho (breve e discreto) na hora do parabéns à você e no dia que a filha era levada ao altar. Hoje ambos agarram-se pela cintura, enchem-se de beijos e olham–se direto nos olhos, repletos de admiração e de uma amizade infinita.
Hoje é o dia destes pais, os pais de hoje. Pais que estão ajudando a colocar no mundo meninas com mais amor-próprio e menos encucadas, e que se tornarão mulheres mais aptas para seduzir através do olhar e da atitude, dependendo menos de artifícios. Mulheres que saberão enfrentar com menos trauma as rejeições e amar muito melhor.
Martha Medeiros no livro NON-STOP- Crônicas do cotidiano
Agosto de 2000
6ª edição
L&PM editores