Especialistas dizem que figura masculina transmite responsabilidade e não deve ser temida
O advogado João Vicente Dias, de 48 anos, pai de Carolina, de 7 anos, e Gabriela, de 4, não tem dúvida ao responder o que lhe dá mais prazer na vida: ficar o maior tempo possível com as filhas.
– Não há coisa mais gostosa do que ouvir minhas filhas me chamarem de príncipe, se pendurarem no meu pescoço ou mesmo pentearem o meu cabelo. Esse carinho não tem preço. Eu faço questão de botar as meninas para dormir todos os dias. E quando acordam de madrugada, logo me procuram. Sou um bobalhão com elas, mas eu sei falar não. E carinho nunca é demais – diz Vicente.
Fernando Maia, de 44 anos, diz que só aprendeu mesmo a ser pai depois do nascimento do segundo filho, João Vítor, de 2 anos e 10 meses. Ele tem duas filhas adolescentes do primeiro casamento, Fernanda, de 15 anos, e Juliana, de 13, mas na época mal trocava uma fralda. Até água ele pedia para a empregada trazer.
– Hoje participo mais, troquei muita fralda, boto para tomar o banho e levo à praia. Acho que estou mais maduro, consegui ter melhor qualidade de vida e organizar meu tempo. E estou aproveitando melhor a paternidade. Sou pai para toda a obra – diz.
Assistir às aulas de balé também é função de pai
O reitor da UniCarioca, Celso Niskier, tem 40 anos e é casado há 17. Mesmo trabalhando 16 horas por dia se considera um superpai. Acompanha, sempre que possível, toda a rotina das filhas Gabriela, de 9 anos, e Giovana, de 11. Ele acorda diariamente às 5h da manhã para revisar os estudos com a mais nova.
– Assisto até às aulas de balé das meninas. E faço isso por prazer, porque cada instante com as duas é uma grande satisfação. Agora mesmo estou lendo o último livro de Harry Potter em inglês porque elas estão ansiosas para saber a história e ainda não saiu a tradução em português.
O analista Carlos Mayrink, de 38, anos, pai de Clara, de 3 anos, conta que nunca teve o menor jeito com crianças e aprendeu tudo na marra. E para não perder um minuto sequer criou um web site e um blog com o dia-a-dia da menina, que é atualizado diariamente para a família:
– As pessoas que me conhecem se surpreenderam com a minha atuação como o pai. Não tinha qualquer intimidade com crianças.
O pediatra Marcus Renato de Carvalho, pai de Clara, de 10 anos, e de Sophie, de 1 ano e 10 meses, diz que os pais sentem mais necessidade de participar da vida dos filhos e isso deve ocorrer já na gestação. Essa atitude contribui para o melhor desenvolvimento emocional das crianças.
– Elas se sentem especiais e apresentam menos problemas em todos os aspectos. Acho até que deveriam ampliar os direitos dos pais, como maior período para licença-paternidade e a guarda compartilhada, no caso de pais separados – diz o médico, autor do site www.aleitamento.com.
A psicóloga Luciana Lamarca, da Unipsico-Rio, diz que os novos pais já se deram conta do ganho emocional que é dispor de mais tempo para os filhos. Assim os vínculos familiares se tornam mais fortes e consistentes.
– Eles têm que ser mais companheiro e cúmplices. Por exemplo, não podem dar o peito para amamentar, mas podem segurar no colo, dar banho etc. Os pais precisam deixar de ser uma figura distante ou temida. São eles que transmitem segurança e responsabilidade, servindo de exemplo para os filhos.
Para sempre participar
MAIS AFETO: A psicóloga Luciana Lamarca diz que a figura do pai não deve se limitar a de provedor financeiro, de representar a lei ou a figura da autoridade suprema. Deve estar envolvido afetivamente em todas as atividades.
AMAMENTAÇÃO: O homem não pode dar de mamar, mas pode ajudar, apoiando a mãe. O pediatra Marcus Renato diz que a presença do pai, as carícias e os toques durante o ato de amamentar são importantes para manter o vínculo afetivo. Coopere nas tarefas do bebê, trocando fraldas, dando banho, vestindo, embalando.
CUIDADOS: A pediatra Viviane Castello Branco, da Macrofunção Vida, um grupo de trabalho que integra diferentes secretarias municipais, ONGs e universidades, visando a implementar políticas públicas voltadas para os homens e os direitos reprodutivos, diz que participação do pai nos cuidados com o filho desde a gravidez é muito importante para o desenvolvimento emocional das crianças e dele próprio. O pai pode contribuir para que seus filhos se sintam seguros e amados, expressando o seu afeto, abraçando, beijando, fazendo carinho, elogiando, dizendo que o ama, valorizando suas conquistas.
ATENÇÃO: É importante ouvir o filho com atenção e demonstrar interesse por seus sentimentos, preocupações, pensamentos, atividades e desejos. É importante falar sobre a própria vida e o que você costumava fazer quando tinha a idade dele, como situações engraçadas, coisas boas ou desafios que enfrentou. Acompanhar as atividades na escola e ajudar com os deveres de casa também fortalece os vínculos.