Pais separados não querem mais limitar o convívio com os filhos a fins de semana quinzenais. Eles agora os querem por perto o mês todo
Rúbia Mazzini
Gabriela, Moscovis e Sofia: ele leva na escola e em viagem a trabalho
Dia desses, o analista de sistemas Fernando Chataignier, 49 anos, se viu numa situação inusitada. Luísa, a filha adolescente, queria enrolar os cabelos para uma festa. “Ela me pediu para fazer os cachos com aquela máquina”, lembra ele, que não titubeou e manejou o babyliss (‘aquela máquina’) como pôde. ‘Problemas’ como esse têm sido enfrentados cotidianamente por pais como Fernando que, ao se separar, há 10 anos, concluiu que partilhar a guarda dos 3 filhos com a ex-mulher era a melhor maneira de continuar participando ativamente da vida deles.
“Numa separação normal, o pai acaba virando um fliperama, que a cada 15 dias leva os filhos para passear, quase que os suborna com presentes. Isso acaba deixando a criança com uma visão deformada dos papéis masculinos e femininos. O pai fica sendo o provedor, legal, e a mãe é a chata, cobradora”, acredita Fernando, que contou com a ajuda de um amigo psicanalista e divorciado para convencer a ex-mulher e ele mesmo de que isso era o melhor para o bem-estar de Luísa, Carolina e João, hoje com 15, 12 e 11 anos respectivamente. “O momento da separação é muito doloroso e nessas horas é bom contar com alguém que te ajude a buscar o seu melhor lado e não o mesquinho, que todos temos”, ensina o analista. “Eles me vêem lavando roupa, cozinhando, pedem para passar uma roupa. Não sou um pai moderninho, mas sou muito próximo”, conta.
O advogado de família Sérgio Calmon diz que casos como o de Fernando têm se tornado cada vez mais comuns. “Hoje em dia, o que mais escuto no escritório são homens pedindo guarda compartilhada”, conta Calmon, que defende a idéia de que o melhor acerto se dá mesmo informalmente, sem a intromissão de juízes. “Mas para ter sucesso, é fundamental que os pais se dêem bem”, afirma.
A psicóloga Lulli Milman, do Instituto de Psicologia da Uerj, concorda com Calmon. “Quanto mais presente o pai for, melhor para os filhos. Ter duas casas pode ser uma confusão, mas se o pai tem uma estrutura acolhedora, é uma ótima solução”, acredita a psicóloga.
O empresário Jaime Ferebrenick, 47 anos, pai de Carolina, 14, e Daniel, 9, separou-se há 2 anos e desde então montou um esquema para ficar mais com os filhos. Mas admite que, volta e meia, as coisas ficam meio confusas. “Às vezes fica um violão numa casa, uma raquete na outra, e na hora de ir para aula tem que correr, pegar chave e buscar o que precisa”, revela Jaime.
O produtor cultural Alberto Youle, 37 anos, é outro que compartilha informalmente a guarda de Caio, 8, com a ex-mulher. O garoto tem quarto e computador na casa dele, mas às vezes falta o básico. “Já aconteceu de ele ter que usar a mesma meia no dia seguinte. Mas o importante é a criança se sentir querida dos dois lados”, defende Alberto.