Papai grávido
Em outros artigos abordei os aspectos emocionais ligados à gravidez, enfocando a família e a mulher. Neste, a atenção será dada às transformações que esse processo traz à vida do homem.
Um “homem grávido” nunca mais será o mesmo. Ele assume novo papel social, passa a dividir responsabilidades com a companheira e se vê obrigado a aprender a cuidar, exigência imposta ao homem moderno. Dessa forma, o homem passa por diversos sentimentos ligados à paternidade, antes não experimentados, como ambivalência, insegurança, ciúmes.
Inicialmente, ele sente a gravidez de forma muito vaga, pois não vivencia organicamente o desenvolvimento do filho em gestação. Só o aparecimento da barriga e a percepção dos movimentos do feto tornam a gravidez mais concreta para ele. Mas o apego propriamente dito vem apenas após o nascimento.
Vários estudos mostram que o homem desenvolve vários sintomas orgânicos ligados a este período, muito parecidos com os da mulher. É a chamada síndrome da couvade. Durante o ciclo gravídico da companheira, o homem passa a ter dores de dente, distúrbios alimentares e intestinais, tensão, insônia, depressão. Também tornam-se mais freqüentes, as dores estomacais, lombares e renais, e as cirurgias abdominais de apêndice, aderências, de cólon, entre outras. Há homens que chegam a apresentar um aumento do abdome, simulando uma “barriga grávida”.
O nome da síndrome é associado ao ritual da couvade, freqüente em sociedades não-industrializadas, em que o homem assume tarefas consideradas femininas no ciclo grávido-puerperal. Em alguns locais, o pai dramatiza o trabalho de parto, em outros fica de “resguardo”, recebendo alimentação especial e cuidado das visitas enquanto a mulher trabalha. Caso a criança adoeça ou morra, o homem é responsabilizado por não ter dado a ela a devida atenção no período. Na nossa sociedade, a síndrome da couvade está relacionada à mobilização de sentimentos, às fantasias e aos desejos inconscientes em relação à gravidez.
Outro fenômeno comumente observado no homem é o ciúme despertado pelo filho em gestação. Muitas vezes, ele sente-se excluído da relação, como se rejeitado pela esposa e feto. O homem parece competir com o filho o amor da companheira, reeditando o Complexo de Édipo da infância, em que disputou o amor da mãe com seu pai. Alguns homens chegam a se envolver emocionalmente com outras mulheres, como resposta à “traição” da esposa. Ou ainda, afastam-se de casa, envolvidos excessivamente com o trabalho ou com amigos.
Ainda hoje, apesar dos avanços nas relações sociais e de gênero, não é nada fácil para o homem vivenciar emoções como as descritas acima. Afinal, ele sempre foi proibido de expressar sentimentos e ansiedades que não condizem com a sua condição de “sexo forte” apregoada pela sociedade. Por isso, numa gravidez é bom não gastar todos os “mimos” com a mulher. Ao lado dela, há um ser ainda mais confuso e carente compreensão.
Maria Lúcia dos Reis – Psicóloga [email protected]