Não basta ser pai
Clézio Gonçalves*
Tem que participar. Lembram deste bordão? Repetido à exaustão na TV, virou lema de uma geração de filhos a reinvidicar o justo direito da atenção paterna. Para além do simplismo propositivo da propaganda em vender o produto, cabe uma reflexão sobre esta paternidade contemporânea. Ter um filho não faz de um homem… um pai. Faz dele um mero reprodutor que nada o diferencia dos animais. Ser pai é participar sim, mas também, e principalmente, cuidar.
Dizem alguns “especialistas” que o homem contemporâneo não sabe o que fazer com o aumento da presença feminina no mercado. Perdoem-me especialistas, mas se “ele” sente-se acuado… não é um homem. Um homem ante a participação de sua companheira na cotidiana batalha do dia a dia, sente-se privilegiado e honrado, pois sabe que o sucesso da companheira/cúmplice/guerreira retornará como alicerce a solidificar o projeto de vida comum que ambos descortinam no horizonte futuro.
Sei que não falo por todos os homens, já que existem muitos que não honram o gênero masculino, mas existem poucos que a cada ano, vem aumentando este número na sociedade. Assim como a mulher aprendeu a conquistar seu espaço, este homem também aprende a reinvidicar seu direito paterno junto aos filhos. E percebe que ser pai não é apenas ter filho. É estar próximo dos rebentos que ama, acompanhar seus cotidianos, alertando-os das armadilhas e dar-lhes o apoio necessário para levantarem-se quando as inevitáveis quedas da vida acontecerem. Isto é feito de muitas maneiras, e cada um encontra sua forma (desde a troca de fraldas, lição de casa etc.). Lamentavelmente, a sociedade ainda não acolhe a paternidade responsável com o valor que estes homens procuram construir como forma de cuidar e manifestar o seu amor. Para isto, alguns tiveram que buscar seus direitos.
Assim, neste Dia dos Pais, um pedido especial para aqueles que têm o privilégio de estar com seus amados descendentes nesta data. Quando seus filhos o cumprimentarem, segure-os um pouco mais num afetuoso e sincero abraço, pois existem muitos que, no dia de hoje, desejam ardentemente poder estar no seu lugar e receber este carinho. Mas eles não podem.
Acredite, você não faz ideia do que o abraço de um filho representa para um pai tornar-se um homem melhor.
*Professor adjunto da UFRGS, doutor em Neurociências e Educação