O novo pai
No próximo domingo comemoramos o Dia dos Pais. Temos observado várias mudanças sociais nas relações entre homens e mulheres e, como conseqüência, também têm ocorrido grandes transformações na relação do homem com seus filhos. No início da organização das sociedades, o papel do pai era bem definido: prover e proteger a família. Cuidar e alimentar a prole era papel da mãe. Com o tempo, a mulher também tornou-se provedora. Este fato – embora não seja o único – contribuiu para que vários pais não assumissem a cria que tiveram, pois desobrigaram-se dessa tarefa frente à extensão do papel feminino.
Uma coisa é certa: toda criança tem o direito de ter um pai e uma mãe. Mas isto não é o bastante. Os pais devem proporcionar-lhes segurança, proteção e cuidado para um pleno desenvolvimento. Diante disto, muitos leitores podem argumentar que tantas pessoas são criadas só pela mãe, ou por substitutos, e são saudáveis. Sim, há inúmeros exemplos de crianças que não tiveram o nome de um pai ou o perderam precocemente e ainda assim sobreviveram emocionalmente. Mas com certeza tiveram que “arrumar um pai emprestado”, um pai de “consideração” para garantir-lhe o mínimo de proteção. Quando conhecemos o universo de algumas pessoas que não tiveram um substituo do genitor a contento compreendemos os dramas vividos pela falta dessa figura tão importante.
Hoje conhecemos um novo pai. Ele está se transformando e integrando-se ao núcleo afetuoso da família. Para isto, ele está mais próximo, curioso e sensível. É importante que a mulher o ajude nessa empreitada, pois, ao contrário da mãe, ele demora um pouco mais para se aproximar da criança. Na gravidez, a mulher vive sozinha o desenvolvimento materializado da gestação. Após o nascimento, ela estabelece uma relação ainda simbiótica com o filho, mantendo o pai em segundo plano. Mas ela deve favorecer um desligamento progressivo do filho e o pai deve se aproximar, fazendo parte da tríade.
Mesmo o pai tendo um pouco retardada a sua experiência concreta com o filho, ele vivencia as emoções ligadas ao pequeno. Na gravidez, também sente-se “grávido” e participa ativamente da espera. Muitas vezes apresenta sintomas físicos – parecidos com os da mulher – que caracterizam a expressão corporal dessas emoções. É a chamada síndrome da couvade. Com o filhote em mãos, o homem já pode interferir no seu desenvolvimento e é peça importante quando dá a retaguarda para a mulher exercer o cuidado básico dos primeiros meses.
Em cada fase do desenvolvimento, o pai desempenha diferentes papéis, sendo protetor, orientador, provedor, disciplinador e hoje, como pode ser comprovado por bonitos exemplos, ele já divide com a mulher as complexas tarefas do cuidar.
A todos os pais, mesmo que distantes fisicamente, mas que se fazem presentes emocionalmente, deixo a minha homenagem.
Maria Lúcia dos Reis é especialista em Psicologia Clínica, atende em Consultório e no Ambulatório de Saúde Mental e é professora da FIP.